O GLOBO - 02/05/09
A reação até certo ponto bem-humorada do ex-ministro José Dirceu, hoje um dos articuladores da candidatura da Ministra Dilma Rousseff à sucessão de Lula, à previsão do presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, de que o governador de São Paulo, José Serra, pode vencer no primeiro turno a eleição de 2010, é reveladora de que os petistas já trabalham com a possibilidade de derrota, especialmente agora que a doença da candidata oficial levou de volta à estaca zero as articulações políticas em torno de seu nome. O interessante a notar é que também na seara dos tucanos ninguém canta vitória, e a perplexidade é geral, sem que saibam o que vai acontecer com a candidatura da ministra Dilma Rousseff, ou se vai dar certo a estratégia governista de "humanizar" a imagem da ministra, diante da doença que a acomete.
Sem falar na cautela com que analisam a possibilidade de transferência de votos de Lula para sua candidata (o). Até mesmo o governador José Serra, tido como o favorito pelas pesquisas de opinião, já não parece tão certo da vitória, e não descarta por completo a disputa da reeleição para o governo paulista, uma avaliação que deverá ser feita no início do próximo ano.
O PMDB velho de guerra, mais do que nunca, é o fiel da balança, e os palanques regionais dependem de articulações que passam pelo maior partido do país, seja para evitar enfrentá-lo, seja para tê-lo como aliado.
Com a experiência de quem coordenou as alianças políticas que levaram à eleição de Lula em 2002, José Dirceu admite que Serra é o favorito, mas ressalta que os acordos políticos podem fazer a diferença.
O problema do PT é que fazer acordos com Lula é uma coisa, outra muito diferente é acertar os ponteiros com qualquer "japonês" do partido. Há muito tempo que a força do PT se dissolveu nas lambanças do jogo político rasteiro, que o transformou em mais um participante do jogo, no mesmo nível do PMDB, sem uma ascendência moral que o faça prevalecer.
O presidente Lula se reinventou com êxito depois do mensalão, com o sucesso internacional retroalimentando a imagem interna, transformando-o em um líder midiático global invejado por seus pares pelos altos índices de popularidade num mundo em crise.
Os tucanos admitem que nos últimos tempos, depois da queda de popularidade devido à crise econômica, só aconteceram fatos a favor do governo, como o reconhecimento mundial da importância do Brasil, culminando com o elogio público de Obama a Lula.
Aguardam agora a medição dos efeitos da crise, como a alta do desemprego, na popularidade de Lula, e até mesmo como a doença da ministra Dilma Rousseff impactou a opinião pública.
Os governadores José Serra e Aécio Neves se aproximam, na certeza de que, mais do que nunca, dependem dessa união para manter o PSDB como um dos pólos de poder nacional, agora que a era Lula está chegando ao fim, e com ela o desequilíbrio que o inegável carisma presidencial traz consigo na disputa política.
O PSDB, que sobreviveu à era Lula por ter entre seus feitos o Plano Real implantado por Fernando Henrique Cardoso ainda como ministro da Fazenda de Itamar Franco, e suas raízes fortemente fincadas em São Paulo, tendo ampliado essa influência política para Minas Gerais com Aécio Neves, precisa aproveitar a saída de cena de Lula para superar novamente o PT, que, por sua vez, debate-se para se reinventar, sem seu principal líder e já sem a aura de partido emblemático que um dia ostentou.
O partido tem, no entanto, a máquina governamental altamente azeitada trabalhando a todo vapor para a manutenção do poder, que significa manter os empregos e a influência política. A militância petista tem hoje razões práticas para se empenhar na eleição de quem quer que seja.
É também para animar sua precária militância que o PSDB pretende realizar até setembro diversas manifestações regionais reunindo seus dois candidatos, Serra e Aécio.
A primeira está marcada para o dia 14 deste mês na Paraíba, onde Cássio Cunha Lima teve o mandato de governador cassado pelo TSE.
A escolha é simbólica para a região Nordeste, onde Lula tem grande força eleitoral. Mesmo correndo o risco do desgaste político, os tucanos vão atrás de um dos seus líderes regionais que tem votos na região dominada pelo lulismo.
A essa se seguirão outras cinco ou seis manifestações, que servirão para expor seus dois candidatos à militância e, sobretudo, para demonstrar que entre eles não há supremacias.
Mesmo considerado favorito, Serra teve que aceitar o plano de ação traçado por Aécio, que também cedeu quanto à data das prévias. Serão realizadas, se necessário, "até fevereiro" de 2010, contentando Serra, por quem o partido deixaria tudo como está até o início do próximo ano, para só então anunciá-lo candidato oficial.
Ao mesmo tempo em que impôs um ritmo ao partido, mostrando publicamente sua força, Aécio Neves está bastante satisfeito com o comportamento de Serra, que tem lhe prestado todas as honras devidas, inclusive deixando no ar a possibilidade de vir a apoiá-lo.
Sem querer se impor apesar de aparecer como o franco favorito nas pesquisas de opinião, Serra tem deixado Aécio sem argumentos para se contrapor a ele, criando um clima favorável a um apoio do mineiro.
Em 2002 e em 2006, Lula venceu em Minas, embora Aécio tenha tido uma votação espetacular. Em 2010, tanto em São Paulo quanto em Minas, o PSDB já não tem candidatos tão fortes quanto tinha para manter seus redutos de poder.
Só a união em termos nacionais pode alavancar uma campanha eleitoral que pode levar o partido novamente ao poder central e a manter os principais estados do país. Uma divisão como nas disputas anteriores pode tirar o partido do mapa político pelos próximos anos, mesmo sem a sombra de Lula.
A reação até certo ponto bem-humorada do ex-ministro José Dirceu, hoje um dos articuladores da candidatura da Ministra Dilma Rousseff à sucessão de Lula, à previsão do presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, de que o governador de São Paulo, José Serra, pode vencer no primeiro turno a eleição de 2010, é reveladora de que os petistas já trabalham com a possibilidade de derrota, especialmente agora que a doença da candidata oficial levou de volta à estaca zero as articulações políticas em torno de seu nome. O interessante a notar é que também na seara dos tucanos ninguém canta vitória, e a perplexidade é geral, sem que saibam o que vai acontecer com a candidatura da ministra Dilma Rousseff, ou se vai dar certo a estratégia governista de "humanizar" a imagem da ministra, diante da doença que a acomete.
Sem falar na cautela com que analisam a possibilidade de transferência de votos de Lula para sua candidata (o). Até mesmo o governador José Serra, tido como o favorito pelas pesquisas de opinião, já não parece tão certo da vitória, e não descarta por completo a disputa da reeleição para o governo paulista, uma avaliação que deverá ser feita no início do próximo ano.
O PMDB velho de guerra, mais do que nunca, é o fiel da balança, e os palanques regionais dependem de articulações que passam pelo maior partido do país, seja para evitar enfrentá-lo, seja para tê-lo como aliado.
Com a experiência de quem coordenou as alianças políticas que levaram à eleição de Lula em 2002, José Dirceu admite que Serra é o favorito, mas ressalta que os acordos políticos podem fazer a diferença.
O problema do PT é que fazer acordos com Lula é uma coisa, outra muito diferente é acertar os ponteiros com qualquer "japonês" do partido. Há muito tempo que a força do PT se dissolveu nas lambanças do jogo político rasteiro, que o transformou em mais um participante do jogo, no mesmo nível do PMDB, sem uma ascendência moral que o faça prevalecer.
O presidente Lula se reinventou com êxito depois do mensalão, com o sucesso internacional retroalimentando a imagem interna, transformando-o em um líder midiático global invejado por seus pares pelos altos índices de popularidade num mundo em crise.
Os tucanos admitem que nos últimos tempos, depois da queda de popularidade devido à crise econômica, só aconteceram fatos a favor do governo, como o reconhecimento mundial da importância do Brasil, culminando com o elogio público de Obama a Lula.
Aguardam agora a medição dos efeitos da crise, como a alta do desemprego, na popularidade de Lula, e até mesmo como a doença da ministra Dilma Rousseff impactou a opinião pública.
Os governadores José Serra e Aécio Neves se aproximam, na certeza de que, mais do que nunca, dependem dessa união para manter o PSDB como um dos pólos de poder nacional, agora que a era Lula está chegando ao fim, e com ela o desequilíbrio que o inegável carisma presidencial traz consigo na disputa política.
O PSDB, que sobreviveu à era Lula por ter entre seus feitos o Plano Real implantado por Fernando Henrique Cardoso ainda como ministro da Fazenda de Itamar Franco, e suas raízes fortemente fincadas em São Paulo, tendo ampliado essa influência política para Minas Gerais com Aécio Neves, precisa aproveitar a saída de cena de Lula para superar novamente o PT, que, por sua vez, debate-se para se reinventar, sem seu principal líder e já sem a aura de partido emblemático que um dia ostentou.
O partido tem, no entanto, a máquina governamental altamente azeitada trabalhando a todo vapor para a manutenção do poder, que significa manter os empregos e a influência política. A militância petista tem hoje razões práticas para se empenhar na eleição de quem quer que seja.
É também para animar sua precária militância que o PSDB pretende realizar até setembro diversas manifestações regionais reunindo seus dois candidatos, Serra e Aécio.
A primeira está marcada para o dia 14 deste mês na Paraíba, onde Cássio Cunha Lima teve o mandato de governador cassado pelo TSE.
A escolha é simbólica para a região Nordeste, onde Lula tem grande força eleitoral. Mesmo correndo o risco do desgaste político, os tucanos vão atrás de um dos seus líderes regionais que tem votos na região dominada pelo lulismo.
A essa se seguirão outras cinco ou seis manifestações, que servirão para expor seus dois candidatos à militância e, sobretudo, para demonstrar que entre eles não há supremacias.
Mesmo considerado favorito, Serra teve que aceitar o plano de ação traçado por Aécio, que também cedeu quanto à data das prévias. Serão realizadas, se necessário, "até fevereiro" de 2010, contentando Serra, por quem o partido deixaria tudo como está até o início do próximo ano, para só então anunciá-lo candidato oficial.
Ao mesmo tempo em que impôs um ritmo ao partido, mostrando publicamente sua força, Aécio Neves está bastante satisfeito com o comportamento de Serra, que tem lhe prestado todas as honras devidas, inclusive deixando no ar a possibilidade de vir a apoiá-lo.
Sem querer se impor apesar de aparecer como o franco favorito nas pesquisas de opinião, Serra tem deixado Aécio sem argumentos para se contrapor a ele, criando um clima favorável a um apoio do mineiro.
Em 2002 e em 2006, Lula venceu em Minas, embora Aécio tenha tido uma votação espetacular. Em 2010, tanto em São Paulo quanto em Minas, o PSDB já não tem candidatos tão fortes quanto tinha para manter seus redutos de poder.
Só a união em termos nacionais pode alavancar uma campanha eleitoral que pode levar o partido novamente ao poder central e a manter os principais estados do país. Uma divisão como nas disputas anteriores pode tirar o partido do mapa político pelos próximos anos, mesmo sem a sombra de Lula.
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