Acuados pela revelação do esquema da babá, João Carlos e Denise Zoghbi dizem que um enorme esquema de corrupção controla os contratos do Senado
OS TUMAS
O senador Romeu Tuma (à esq.) e seu filho Robson dizem que Zoghbi não tem como provar o que diz
O Interlegis e o clã Tuma
ÉPOCA – Vocês podem falar do que vocês viram ali dentro.
João Carlos – A gestão é muito centralizada.
Denise – Procura olhar o Interlegis (programa desenvolvido pelo Senado para modernizar e integrar os poderes legislativos, federais, estaduais e municipais).
ÉPOCA – Tinha o Tuminha (ex-deputado federal Robson Tuma, filho do senador Romeu Tuma, do PTB de São Paulo) operando ali em determinado momento?
Denise – O Agaciel neutralizou ele, rapaz. O Agaciel fez o Sarney brigar com o Tuma.
João Carlos – Olha, vamos lá. Ninguém imaginava que o Tuma fosse tão fraco naquele momento. O Agaciel anulou o Tuma. O Tuminha tentou ali, forçou uma situação em determinado momento e o Agaciel neutralizou o Tuminha e deixou o Tuma desmoralizado nisso aí.
Denise – O primeiro-secretário só trabalhava se fosse na cartilha do Agaciel. Todos fecharam com ele. Vai no Interlegis.
João Carlos – Outra ponta para puxar envolve o Interlegis. Ali é dinheiro de recurso internacional, de empréstimo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que não passa pelo processo licitatório. Teve uma contratação de R$ 10 milhões de um censo que foi feito diretamente por eles nesse processo. E mais: o Interlegis é todo minado.
Denise – E estão preparando outro censo...
ÉPOCA – E esse censo foi feito?
João Carlos – Foi feito na época.
Denise – Eles inclusive falam com muito orgulho da realização.
João Carlos – O Interlegis nasceu lá atrás com a Regina em um propósito e, de lá para cá, ele foi todo sendo deturpado.
ÉPOCA – A Regina do Prodasen? (Regina Borges é a funcionária que no ano 2000, por determinação dos então senadores Antônio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda, mandou violar o painel eletrônico do Senado na votação secreta em que foi cassado o senador Luiz Estevão.)
João Carlos – Antes do escândalo do painel, o Interlegis foi criado com uma finalidade específica. Mas ficou um organismo de fachada para contratação de pessoas e de serviços. O dinheiro do Interlegis não passava pelo crivo da Lei 8.666 (que regula as compras e a contratação de serviços no setor público). Aí é que está. A contratação das pessoas deveria ser para cargos técnicos e trabalhar dentro do Interlegis para cumprir a missão do órgão. No entanto, os servidores foram trabalhar nos Estados e nos gabinetes a critério do Agaciel. Isso tem como provar. Historicamente, toda a trajetória do Interlegis foi sempre de desvios. E não são poucos recursos.
O QUE DIZ ROMEU TUMA: o senador Romeu Tuma defende o Interlegis e afirma que tem boas relações com Sarney: “Na primeira-secretaria sempre me pautei pela ética. Advogados e consultores da Casa trabalharam seriamente compromissados com o interesse público, tudo com a concordância da mesa diretora. Sempre fizemos normas para evitar qualquer possibilidade de desvio. Quanto ao Interlegis, há um acordo com o Banco Mundial, que faz regularmente auditoria externa e interna. É um trabalho sério, que investe na transparência. Também repudio qualquer ilação de mal-estar com o senador José Sarney, que respeito muito”.
O QUE DIZ ROBSON TUMA: “Nunca tive acesso e nem me envolvi em qualquer processo no Senado. O fato de ele (Zoghbi) ter sido descoberto em atos ilícitos não pode fazer com que ele ataque genericamente para encobrir seus erros. Zoghbi cita o meu nome porque não tenho mais imunidade parlamentar nem tribuna para me defender. É uma atitude própria de quem está desesperado e tenta jogar a culpa em outros para tirar qualquer responsabilidade de suas costas. Vou entrar na Justiça contra o Zoghbi”.
O QUE DIZ EFRAIM: o senador Efraim Morais acusa João Carlos de querer tumultuar o Senado: “As palavras dele têm de ser medidas, depois de tudo o que aconteceu. Que se fiscalize o Interlegis. Renovamos o contrato do Interlegis 2 em um total de U$ 33 milhões e não foi usado nada porque estava terminando o nosso mandato na mesa diretora. O Interlegis é fiscalizado pelo BID. Cabe a ele (Zoghbi) mostrar a roubalheira, então. Há uma vontade dele de tumultuar tudo. Ele vai ter de provar”.
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