As Américas voltam a lidar com o fantasma de Cuba a partir do dia 2, durante a Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos, a realizar-se em San Pedro Sula (Honduras). O Brasil está trabalhando com a mais sensata das posições: quer que a reunião revogue a resolução de 1962 que suspendeu a ilha caribenha da organização. É "anacrônica", diz o Itamaraty, com razão. Até aí, é a parte menos difícil. O passo seguinte é que complica tudo: revogada a resolução, Cuba está automaticamente reintegrada ao sistema interamericano? Não, diz o Itamaraty. Há que passar por um período de transição, capaz de acomodar duas coisas: primeiro, o diálogo direto e indireto entre os Estados Unidos e Cuba; segundo, a situação interna em Cuba. O período de transição tem a vantagem de dar tempo à ilha de decidir se quer ou não reintegrar-se. Suas autoridades têm dito que não, de maneira inequívoca. Mas os países da Alba (Aliança Bolivariana das Américas, liderada pela Venezuela) querem a reintegração -ou, mais exatamente, querem que a OEA escancare já as portas. Cuba entra se quiser. Os Estados Unidos, o Canadá e alguns países caribenhos são contra. Os Estados Unidos são os mais radicais: como a OEA tem a chamada "Carta Democrática", enquanto Cuba for uma ditadura e, portanto, não se adequar a ela, está fora. Não caberia nem mesmo a revogação da resolução de 1962 para abrir um período de transição. A bem da verdade, não é apenas a resolução de 1962 que é anacrônica. A discussão em torno de Cuba também o é, mas faz parte da memória sentimental do subcontinente. Lidar de uma forma definitiva com essa memória é essencial para permitir olhar para a frente e tentar colocar o relacionamento da América Latina com os Estados Unidos em um patamar mais civilizado e mais profícuo. |
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