FOLHA DE SÃO PAULO - 29/04/09
"Gripes" novas no mundo têm matado menos gente que a dengue no Brasil, mas pessoas correm às farmácias |
HÁ GENTE à procura de pacotes de remédios para gripe em São Paulo. Ainda não começou a temporada de gripe paulista, coisa muito comum nos invernos desta cidade de ar sujo, de gente estressada, estafada e espremida em ônibus e metrôs hiperlotados.
Mas basta um passeio por 14 farmácias da zona oeste e do centro da cidade para ouvir relatos de atendentes e farmacêuticos sobre o aumento maluco do número de pessoas a pedir antivirais, gel para limpar mãos, sabonetes antissépticos, remédios para sintomas de gripe e máscaras para proteger o rosto. Isso em lugares como a avenida Paulista, no Pacaembu e em Higienópolis (onde mora gente rica e, supunha-se, mais informada), em Santa Cecília, Campos Elíseos e no Centro Velho. Numa farmácia da avenida Angélica, no centro de Higienópolis, um homem de máscara comprou três caixas de antiviral, gastando o equivalente a um salário mínimo. Tomar antiviral sem estrita recomendação médica é um estrita idiotice. As pessoas estão doidas.
O México, epicentro da doença, rebaixou ontem de 22 para 7 o número de pessoas que, segundo exames, foram mortas pelo vírus dito "suíno", que por ora parece ser "agressivo" apenas no México, se tanto. Nos EUA, mais da metade dos casos ocorreu entre colegiais que viajaram pelo México.
Em 2008, 585.769 pessoas tiveram dengue no Brasil. Nesse ano, apenas a dengue hemorrágica matou 223 pessoas no país. Quase tantas quanto as mortas por outra sensação gripal que não decolou, a aviária (desde 2003, no mundo inteiro).
A cidade de São Paulo não é das mais afetadas pela dengue. Nuns anos têm 500 casos, noutros 800. Noutros anos, uma dúzia. Mas já houve microssurtos até no rico Pacaembu e na região da rua Oscar Freire, onde uma bolsa pode custar o preço de um carro e as pessoas andam em carros que custam um apartamento. Porém não houve comandos de erradicação de potinhos de água parada nem um surto de vendas de raquetes elétricas para matar mosquitos. Lembram-se das raquetes elétricas? Viraram moda no verão de 2008, quando o Rio teve uma epidemia violenta, os hospitais desceram a um nível ainda pior de colapso e as Forças Armadas armaram barracas na rua para atender doentes.
Parece, pois, que estamos dispostos a morrer de doenças conhecidas e razoavelmente evitáveis, desde que enraizadas nas nossas miséria e ignorância. Dengue, malária, disenterias que matam milhares devido a condições sanitárias indecentes, atropelamento, facada, tiro -morrer disso, tudo bem. É coisa nossa. Mas um vírus por ora apenas midiático leva multidões às farmácias.
Será mais um caso de doença como metáfora? O mundo quer se distrair dos perigos mais evidentes e imediatos que produziu, como crises financeiras e fome?
Cientistas dizem que, a cada 30 ou 40 anos, há um surto global de gripe. Os últimos ocorreram nos anos 50 e 60. Segundo essa teoria, digamos, do ciclo gripal, estaríamos perto de ter uma irrupção da doença. Mas, segundo os cientistas da área, ainda não sabemos nada sobre a letalidade do vírus, sua origem, velocidade de espraiamento do mal etc. O vírus é por ora apenas "informacional".
Mas basta um passeio por 14 farmácias da zona oeste e do centro da cidade para ouvir relatos de atendentes e farmacêuticos sobre o aumento maluco do número de pessoas a pedir antivirais, gel para limpar mãos, sabonetes antissépticos, remédios para sintomas de gripe e máscaras para proteger o rosto. Isso em lugares como a avenida Paulista, no Pacaembu e em Higienópolis (onde mora gente rica e, supunha-se, mais informada), em Santa Cecília, Campos Elíseos e no Centro Velho. Numa farmácia da avenida Angélica, no centro de Higienópolis, um homem de máscara comprou três caixas de antiviral, gastando o equivalente a um salário mínimo. Tomar antiviral sem estrita recomendação médica é um estrita idiotice. As pessoas estão doidas.
O México, epicentro da doença, rebaixou ontem de 22 para 7 o número de pessoas que, segundo exames, foram mortas pelo vírus dito "suíno", que por ora parece ser "agressivo" apenas no México, se tanto. Nos EUA, mais da metade dos casos ocorreu entre colegiais que viajaram pelo México.
Em 2008, 585.769 pessoas tiveram dengue no Brasil. Nesse ano, apenas a dengue hemorrágica matou 223 pessoas no país. Quase tantas quanto as mortas por outra sensação gripal que não decolou, a aviária (desde 2003, no mundo inteiro).
A cidade de São Paulo não é das mais afetadas pela dengue. Nuns anos têm 500 casos, noutros 800. Noutros anos, uma dúzia. Mas já houve microssurtos até no rico Pacaembu e na região da rua Oscar Freire, onde uma bolsa pode custar o preço de um carro e as pessoas andam em carros que custam um apartamento. Porém não houve comandos de erradicação de potinhos de água parada nem um surto de vendas de raquetes elétricas para matar mosquitos. Lembram-se das raquetes elétricas? Viraram moda no verão de 2008, quando o Rio teve uma epidemia violenta, os hospitais desceram a um nível ainda pior de colapso e as Forças Armadas armaram barracas na rua para atender doentes.
Parece, pois, que estamos dispostos a morrer de doenças conhecidas e razoavelmente evitáveis, desde que enraizadas nas nossas miséria e ignorância. Dengue, malária, disenterias que matam milhares devido a condições sanitárias indecentes, atropelamento, facada, tiro -morrer disso, tudo bem. É coisa nossa. Mas um vírus por ora apenas midiático leva multidões às farmácias.
Será mais um caso de doença como metáfora? O mundo quer se distrair dos perigos mais evidentes e imediatos que produziu, como crises financeiras e fome?
Cientistas dizem que, a cada 30 ou 40 anos, há um surto global de gripe. Os últimos ocorreram nos anos 50 e 60. Segundo essa teoria, digamos, do ciclo gripal, estaríamos perto de ter uma irrupção da doença. Mas, segundo os cientistas da área, ainda não sabemos nada sobre a letalidade do vírus, sua origem, velocidade de espraiamento do mal etc. O vírus é por ora apenas "informacional".
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