FOLHA DE SÃO PAULO - 10/04/09
SÃO PAULO - É inacreditável a capacidade que o Brasil tem de engolir, digerir e cultivar lendas. Uma das mais persistentes é a lenda da queda da desigualdade, que agora reaparece na sua versão "reversão da lenda", conforme estudo de Marcelo Neri (Fundação Getulio Vargas), que vem a ser o principal cultor da lenda.
Explico:
1 - TODAS as medições da desigualdade levam em conta APENAS a renda do salário. Não incluem os ganhos com o capital. E é, obviamente, na diferença entre o rendimento do capital e o do trabalho que se verifica a mais obscena das desigualdades brasileiras.
2 - No ano passado, quando consultei Neri para saber se suas pesquisas levavam em conta também o rendimento do capital, respondeu com um sonoro NÃO.
Trechos:
"Fizemos um experimento no Censo e vimos que quem tem três carros ou mais no domicílio (sinal de riqueza aparente) tem quatro vezes mais chances de omitir a resposta de renda que quem não tem carro no domicílio, situação que corresponde a boa parte da população brasileira".
Conclusão inescapável: "Neste sentido, a desigualdade brasileira (salarial), que já era muito alta, tende a ser mais alta ainda" quando entra também o capital.
Logo, não é correto dizer, agora, que a crise fez aumentar a desigualdade, pela simples e boa razão de que ela jamais diminuiu. O correto seria o IBGE e o Ipea, cujo presidente, Marcio Pochmann, já escreveu mais de uma vez o que está dito acima, terem a honestidade intelectual de divulgar uma nota para, de uma vez por todas, colocar a lenda no seu devido lugar.
Desigualdade é um problema não apenas ético mas também de funcionamento do sistema econômico-social. Não se resolvem problemas escamoteando os fatos ou maquiando estatísticas.
SÃO PAULO - É inacreditável a capacidade que o Brasil tem de engolir, digerir e cultivar lendas. Uma das mais persistentes é a lenda da queda da desigualdade, que agora reaparece na sua versão "reversão da lenda", conforme estudo de Marcelo Neri (Fundação Getulio Vargas), que vem a ser o principal cultor da lenda.
Explico:
1 - TODAS as medições da desigualdade levam em conta APENAS a renda do salário. Não incluem os ganhos com o capital. E é, obviamente, na diferença entre o rendimento do capital e o do trabalho que se verifica a mais obscena das desigualdades brasileiras.
2 - No ano passado, quando consultei Neri para saber se suas pesquisas levavam em conta também o rendimento do capital, respondeu com um sonoro NÃO.
Trechos:
"Fizemos um experimento no Censo e vimos que quem tem três carros ou mais no domicílio (sinal de riqueza aparente) tem quatro vezes mais chances de omitir a resposta de renda que quem não tem carro no domicílio, situação que corresponde a boa parte da população brasileira".
Conclusão inescapável: "Neste sentido, a desigualdade brasileira (salarial), que já era muito alta, tende a ser mais alta ainda" quando entra também o capital.
Logo, não é correto dizer, agora, que a crise fez aumentar a desigualdade, pela simples e boa razão de que ela jamais diminuiu. O correto seria o IBGE e o Ipea, cujo presidente, Marcio Pochmann, já escreveu mais de uma vez o que está dito acima, terem a honestidade intelectual de divulgar uma nota para, de uma vez por todas, colocar a lenda no seu devido lugar.
Desigualdade é um problema não apenas ético mas também de funcionamento do sistema econômico-social. Não se resolvem problemas escamoteando os fatos ou maquiando estatísticas.
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