sexta-feira, agosto 26, 2011

O VERDADEIRO BRASILIERO


IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO - João Carlos Martins, pode perdoar?


João Carlos Martins, pode perdoar?
IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O Estado de S.Paulo - 26/08/11

Na minha juventude, 20 e poucos anos, crítico de cinema, adepto de uma arte engajada, "revolucionária", que mudasse os povos, derrubasse o sistema capitalista, bastava o Walter Hugo Khoury lançar um filme para que eu e outros disséssemos: eis o cineasta alienado, bergmaniano, distante da realidade brasileira, da realidade e do homem brasileiro. E tome pau!

Que realidade, meu Deus? Que realidade era aquela? Quem eu era? O tempo passou, o mundo mudou, o Brasil se transformou, mudei o olhar sobre a vida, me desiludi com ideologias, me decepcionei com os homens e também comigo e com atitudes e conceitos que se desmoronaram.

Um dia consegui ver o que era o cinema de Khoury, suas buscas, seu perfeccionismo, sua maneira refinada de filmar e transmitir uma visão particular do homem e do mundo. Khoury foi dos poucos diretores do cinema brasileiro com cultura e muitas leituras, capaz de discutir filosofia, misticismo, religião, história, arte, cinema, fotografia, mitologia, música. Era um homem educado, gentil, falava baixo, não se exaltava.

Certa vez, o Centro Cultural Banco do Brasil realizou uma Mostra Walter Hugo Khoury. Fui convidado. Na noite em que subi à mesa, ele estava na plateia. Mal sabíamos todos que estava mal, fraco, deprimido, desencantado. Teve um ataque de coração pouco depois. De repente, joguei fora tudo que eu tinha preparado e olhando para ele comecei com um pedido de desculpa, de perdão, por ter sido aquele pretensioso, que achava que sabia tudo e que o mundo girava em torno de meus ideais de cinema "transformador".

Pedi perdão a Khoury por críticas insensatas, textos estúpidos, opiniões sem sustentação. Perdão por não ter entendido sua posição no cinema, o que pretendia, a coerência de uma obra. A vida tinha me mostrado muita coisa. Falei pouco e saí da mesa com um imenso alívio. Não em paz, mas me sentindo melhor.

Dali em diante, tenho pensado neste gesto simples e difícil: o de pedir perdão a alguém. Quantas vezes quis rever amigos, não liguei, não procurei. Quando liguei, alguns tinham morrido. Prometi a mim mesmo ver as pessoas de quem gostei e de quem gosto. Umas mudaram muito, outras me decepcionam. Não importa, vou em frente.

Escrevo hoje para dizer: meu caro João Carlos Martins, me perdoe. Por uma crônica que escrevi há anos em outro jornal que até já desapareceu, em que misturei estações, fui agressivo. Foi um episódio ligado a um político paulista sempre acusado de corrupção e que me enervava, me dava alergia. A imprensa acabou te envolvendo, entrei naquela. Você era então secretário de Cultura. No meu horror àquele político, distribuí pancadas, pedras, lanças. Fiz mal! Não era a você, João Carlos, era ao político que me horroriza até hoje. Na minha sanha atingi quem não devia. Depois, você foi inocentado, absolvido. Sei como ficou ferido, como tentou ao longo destes anos falar comigo, sempre me desviei. Você sempre me tratando com cordialidade incomparável. Estivemos juntos, um ano atrás, em um evento na cidade de Amparo e, ao falar diante de uma plateia selecionada, teceu os maiores elogios a mim como escritor. Não me senti bem, fiquei incomodado. Desde aquela noite, venho me remoendo por dentro.

Aprendi uma lição. A de usar minhas palavras com justiça, a pesquisar, indagar, saber se o que digo é verdadeiro, se a pessoa, o fato, a situação merecem o que digo. Há anos tenho uma admiração profunda por você e sua capacidade de superação. Quantos suportaram o que você atravessou? Um pianista de extremo talento que perde o movimento de uma das mãos, depois das duas, depois tem um tumor no cérebro causado por um assalto, sofre seguidas intervenções cirúrgicas dolorosíssimas, fez anos de fisioterapia. Ameaçado de perder o que o sustentava, a música, ameaçado de ficar sem a paixão, o sonho, portanto sem motivo para viver, você se superou. Na minha vida pouquíssimas vezes vi isso; se é que sua superação não é caso único.

Mesmo contra tudo e todos, você negou a impossibilidade, voltou, gravou Bach completo, retornou ao Carnegie Hall, aos palcos da Europa. Finalmente, suas mãos se foram de vez, mas você com dois dedos ainda toca piano, aprendeu regência, circula pelo Brasil e pelo mundo com uma orquestra de jovens. Você contou que certa vez ouviu o falecido maestro Eleazar de Carvalho voltar para te chamar: "Venha, vou te ensinar regência". Que beleza a mente humana, que consegue tais prodígios, ressuscitar um homem da envergadura de Eleazar, para se levantar do poço mais fundo.

Pensar que tem gente que por uma dor de cabeça, uma topada do dedão, uma indisposição estomacal, uma tristeza momentânea se imobiliza, cheio de autopiedade. Antes que eu me vá, ou que não tenha mais este espaço, ou que você não esteja mais aqui, me perdoe João Carlos Martins pela insensatez de um momento em que me julguei acima do bem e do mal e assim julguei você. Ninguém é juiz de nada.

ARTHUR DAPIEVE - Quarenta e sete

Quarenta e sete
ARTHUR DAPIEVE
O GLOBO - 26/08/11
Tio Vânia na Graça Aranha

Quarenta e sete anos é uma idade estranha para se assistir a "Tio Vânia". Porque esta é a idade do personagem de Tchekov, o personagem que subitamente descobre que toda a sua vida foi baseada em falsas premissas, que nenhuma de suas esperanças de juventude vingou e, que como no blues de Robert Johnson, todo o seu amor foi em vão.

Desde a primeira montagem, de Stanislavski, em Moscou, em 1899, é óbvio que espectadores de todas as idades são levados a confrontar as suas próprias realizações por menores que sejam, com as de Ivan Petróvitch - cujo diminutivo do prenome batiza a peça. Confrontá-las aos 47 anos, porém, adquire um significado distinto, arrepiante.

Não só porque, em certa medida, qualquer vida se revela tão absurda quanto a de Vânia. Também porque ele projeta, a partir dos seus 47 anos mal vividos, que faltam 13 para os 60. "Muito tempo", para ele, no tédio burguês da Rússia rural e pré-revolucionária. Pouco tempo, para mim, na histeria do Brasil novo-rico do século XXI.

Eu tinha 20 anos quando assisti pela primeira vez a "Tio Vânia". Para um garoto naquela idade, a peça de Tchekov parecia um balaio de advertências: não jogue sua vida fora, faça algo de útil dela, pense na posteridade, não perca tempo amando sem ser amado. Corria 1984. Saí do Teatro dos 4 como se tivesse levado uma surra de chicote.

Não havia qualquer vestígio de esperança na obra que o autor russo, com humor negro, insistira em chamar de "comédia". Vânia administrava uma fazenda com a sobrinha, enviando os rendimentos para a capital, a fim de bancar a carreira acadêmica do marido de sua falecida irmã, agora casado com uma mulher muito mais jovem.

Um dia, Vânia afinal percebeu que o ex-cunhado não passava de uma fraude intelectual. Aposentado, o professor Serebriákov se refugiara na fazenda, alterando-lhe a rotina com caprichos. Enquanto isso, sem querer querendo, sua bela Helena enfeitiçou Vânia e o amigo médico, Astrov. Para Tchekov, a beleza entristece, ao expor os homens à imperfeição de suas existências. Qual uma tempestade de outono, o conflito se aproxima, estouram alguns trovões, mas logo a vida, aquela vida, segue o seu curso.

A frustração prevalecia no mundo observado por Tchekov. Pior que isso. Os personagens de "Tio Vânia" pareciam preferir viver atolados nela do que fazer força, força de verdade, para se libertar, para mudar. Vânia odeia o ex-cunhado e ama Helena.

Astrov deseja Helena. Helena deseja Astrov. Sônia, a sobrinha, ama Astrov em silêncio.

Nada de fato acontecia. Como, aliás, é característico do teatro de climas do autor russo.

Num determinado momento, em torno de copos de vodca, Sônia perguntava à madrasta se ela teria preferido um marido jovem. "Claro!", responde Helena, rindo. Eis a comédia à moda de Tchekov, dolorosa. Anos depois, assistindo ao filme "Era uma vez em Tóquio", de Yasujiro Ozu, eu descobriria uma cena análoga. A caçula da família perguntava, em lágrimas, à viúva do seu irmão morto na guerra se a vida era mesmo só frustração. "É, sim!", sorria a gentil Noriko, interpretada por Setsuko Hara.

Ajudava - e muito - na devastação emocional descrita e causada por "Tio Vânia", a qualidade daquela montagem do Teatro dos 4 em 1984. Dirigida por Sérgio Britto, a partir de uma tradução de Millôr Fernandes, com Armando Bogus no papel-título, Christiane Torloni como a lânguida Helena, além de Rodrigo Santiago, Nildo Parente e Denise Weinberg nos outros papéis principais. Nunca os esqueci, o que gerou na minha cabeça um padrão difícil de superar. Inclusive para Louis Malle, que filmou "Tio Vânia em Nova York" em 1994, com Wallace Shawn e Julianne Moore.

Montagem do bom grupo mineiro Galpão dirigida por Yara de Novaes, "Tio Vânia (Aos que vierem depois de nós)", em cartaz no Sesc Ginástico só até o próximo domingo, já sofreu sérios reparos de Barbara Heliodora neste caderno. O anacrônico rádio não me incomodou tanto quanto as canções em espanhol ou o que me soou como uma excessiva ênfase na comicidade, que deveria apenas servir de distância para o impulso que faz o golpe de Tchekov penetrar mais fundo. Entretanto, gostei de Eduardo Moreira (Astrov) e, sobretudo, da atriz convidada Mariana Lima Muniz (Sônia).

De qualquer forma, pesados contras e prós, foi bacana reencontrar Vânia, agora, quando ambos temos 47 anos. Ele, claro, os terá para toda a sua merecida eternidade. Eu... Mesmo nas minhas manhãs mais cinzentas, porém, tenho de admitir que escutei as advertências de 1984 e fiz alguma coisa na vida - em especial, uma filha.

Anton Pavlovitch Tchekov jamais chegou aos 47 anos de seu personagem mais famoso. Morreu aos 44, em 1904, da então incurável tuberculose, que se manifestara duas décadas antes. Ele começara a tossir sangue no mesmo 1884 no qual se formara em Medicina, sua principal ocupação durante toda a vida, por mais que escrevesse compulsivamente contos e peças. Além de "Tio Vânia", as mais famosas são outras duas "comédias", "A gaivota" e "O jardim das cerejeiras", e o drama "Três irmãs".

Pode-se enxergar Tchekov em Astrov. Médico deprimido pelas condições de vida dos camponeses russos, entusiasmado de um modo quase panteísta pela natureza, desconfiado do casamento. O seu, breve, com a atriz Olga Knipper, não gerou filhos, mas um aborto espontâneo. Talvez não haja imagem mais apropriada à desesperança.

JOSEF BARAT - Gestão da macrometrópole


 Gestão da macrometrópole
JOSEF BARAT
O ESTADÃO - 26/08/11
Há 20 anos vem se consolidando em São Paulo um espaço urbanizado contínuo que já configura uma gigantesca região metropolitana, a chamada "macrometrópole". Seus limites se estendem, de um lado, das franjas da região metropolitana de Campinas até as da Baixada Santista e, de outro, da conurbação do Vale do Paraíba até Sorocaba. Trata-se de um dos espaços urbanizados mais complexos do mundo que, juntamente com a região metropolitana de São Paulo, engloba uma população de mais de 25 milhões de habitantes e um PIB de cerca de R$ 750 bilhões, ou seja, respectivamente, 14% da população e 25% do PIB de todo o País. Note-se que, considerada a América Latina, o PIB da macrometrópole é ultrapassado apenas por dois países, México e Argentina, e a população, apenas por quatro, Colômbia e Peru, além dos dois mencionados.

Para que a consolidação e o crescimento da macrometrópole se façam com mais funcionalidade é necessário, entre outras providências, que seja dotada de infraestruturas modernas e eficientes, em termos de saneamento e preservação ambiental, logística e transporte, tecnologia da informação e energia. Todas as infraestruturas - vistas integradamente - terão papel decisivo no suporte à ocupação, ao uso e adensamento do solo urbanizado.

Considerando a inviabilidade política de um governo metropolitano de tal magnitude, é importante pensar na gestão metropolitana como um sistema de coordenação de políticas públicas, planos, projetos e ações executivas. Isso poderia ser alcançado pelo compartilhamento de decisões e da adesão a programas estaduais ou federais de âmbito metropolitano, mediante formas de parcerias e financiamentos implementados em razão da adesão dos municípios. Cabe pensar, pois, num sistema extremamente complexo de gestão compartilhada, que moldará a evolução futura dessa grande aglomeração urbana.

Não se trata, portanto, de imaginar um novo nível de governo, mas sim de montar um sistema de planejamento e gestão capaz de efetivamente coordenar estratégias, planos, políticas e ações executivas em três níveis de governo. Por outro lado, trata-se também de fazer funcionar arranjos institucionais e instrumentos já existentes, bem como de aperfeiçoar a gestão metropolitana em termos de: 1) organização territorial em âmbito regional e urbano; 2) eixos estruturantes do uso e ocupação do solo; 3) consolidação de vantagens competitivas que fortaleçam a estrutura econômica; e 4) redução das carências de serviços públicos e dos desníveis sociais.

É claro que tudo isso pode ser feito sem a necessidade de um governo metropolitano, mas é prudente tomar como valor referencial experiências de países mais desenvolvidos. Mesmo que os arcabouços institucionais e jurídicos sejam diferentes, estará sempre presente a importante questão de como lidar com a gestão de sistemas urbanos complexos. Trata-se de experiência escassa entre nós e, por isso, vale a pena entender melhor como aqueles países administram essas mega-aglomerações.

No que diz respeito à mobilidade de pessoas, bem como a coleta e distribuição mais racional das cargas, torna-se primordial consolidar um sistema de transportes e de terminais compatível com a dimensão populacional e econômica da macrometrópole. Caberá, sem dúvida, ao transporte metroferroviário papel importante na estruturação deste amplo espaço urbanizado. Portanto, é auspicioso constatar um conjunto de planos, projetos e ações em desenvolvimento pelo governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria dos Transportes Metropolitanos, CPTM e Metrô. Está em curso um programa abrangente de investimentos na modernização e expansão do transporte sobre trilhos, como parte essencial de uma estratégia mais racional de ocupação do solo da macrometrópole. Assim, enquanto o governo federal patina no ambicioso projeto do trem-bala, o Estado de São Paulo deve ir cuidando da sua vida e preparando os projetos dos trens regionais, para consolidar de forma mais racional essa gigantesca região metropolitana.

PRESIDENTE DO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO DA FECOMÉRCIO, FOI DIRETOR DA ANAC

GOSTOSA


RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA


Dois em um
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 26/08/11

Em sintonia com o tom da pregação de Lula para Gabriel Chalita ontem em São Paulo, há no Planalto quem defenda a tese segundo a qual o melhor cenário para conquistar a prefeitura da capital é o da manutenção de duas candidaturas, do PT e do PMDB, deixando pavimentado o caminho para aliança no segundo turno contra o campo tucano.
O entendimento, contudo, está longe de alcançar unanimidade entre os dirigentes petistas. Ala expressiva do partido considera vital para Fernando Haddad, favorito do ex-presidente, a composição de robusta aliança partidária já na largada, assegurando ao ministro da Educação, ainda pouco conhecido, a maior fatia do tempo de TV na campanha.


Lipoaspiração Integrantes da corrente majoritária do PT se reuniram na quarta em Brasília para desidratar o anteprojeto de reforma do estatuto, que vem sendo tocado por Ricardo Berzoini e prevê regras mais rígidas para filiação.

Sujeira pesada De um deputado da base, sobre o processo de substituições no Ministério dos Transportes: "A faxina está sendo feita, mas a vassoura está suja".

E aí? A bancada mineira foi ao ministro Paulo Passos lembrar que estava tudo acertado para Dilma anunciar, em setembro, os editais de licitação de uma série de obras no Estado. Mas, com a "faxina" em curso, o ministro dos Transportes avisou que antes de qualquer lançamento será preciso haver projeto executivo. Os visitantes saíram inconformados.

Nem te ligo O grupo de senadores que lançou a frente parlamentar anticorrupção não recebeu até hoje um único sinal nem da presidente nem de seus operadores. O máximo que chegou ao ouvido de alguns foi um apelo para não assinar a CPI.

Porta giratória Mais um ex-ministro entrou para o ramo das consultorias. Hélio Costa (Comunicações) abriu empresa que já tem a Oi na carteira de clientes.

O capital O PT recorreu ao empresário da construção civil Juan Quirós para a montagem, em Campinas, de um "conselhão" nos moldes do criado por Lula na Presidência. Com o colegiado, os petistas tentam dar legimitidade ao vice-prefeito Demétrio Vilagra, que teve seu afastamento aprovado pela Câmara um dia depois de tomar posse em substituição ao cassado Dr. Hélio (PDT).

Belezura 1 Geraldo Alckmin assina amanhã a autorização de licitação da obra do Jardim Metropolitano, projetado por Ruy Ohtake para o Parque Ecológico do Tietê, zona leste de São Paulo. Orçado em R$ 16 milhões, o projeto revitalizará o corredor de acesso à capital para quem desembarca no aeroporto de Cumbica.

Belezura 2 O governo paulista prepara plano de concessão dos parques estaduais à iniciativa privada. O modelo será apresentado em outubro, durante fórum internacional de Meio Ambiente no Bandeirantes.

Holofotes Depois de liberar a volta das bandeiras aos estádios de futebol, a Assembleia paulista reuniu 33 assinaturas para abrir a CPI dos Megashows, cujo objetivo alegado é investigar a atividade de cambistas e a cobrança de taxas sobre os valores de ingressos vendidos pela internet, além da limitação dos tíquetes para quem tem direito à meia-entrada.

Presságio Problema no voo do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, atrasou ontem em uma hora a abertura do seminário da Fifa sobre transporte e tráfego durante a Copa, em Belo Horizonte.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio

"Dilma tem razão: seu governo está mais para Sucupira do que para Roma Antiga."
DO DEPUTADO VANDERLEI MACRIS (PSDB-SP) sobre declaração da presidente, que, ao negar a intenção de demitir mais ministros, disse que seu governo não é a "Roma Antiga", em referência à prática de atirar gente aos leões no Coliseu.

contraponto

Torcedor acidental


No meio de um discurso em Jundiaí, onde esteve para anunciar o novo trem que ligará esse município à capital paulista em menos de meia hora, Geraldo Alckmin narrou um episódio ocorrido em Piracicaba:
-Eu fui lá e ganhei camiseta do 15, chaveiro do 15, boné do 15, ganhei presente pra valer- contou, numa referência ao time local, o 15 de Piracicaba.
O tucano ouviu então do presidente do clube:
-Governador, preciso de R$ 12 mi para o estádio...
Alckmin concluiu o caso para a plateia de Jundiaí:
-Devolvi camiseta, chaveiro, boné, devolvi tudo...

MERVAL PEREIRA - Apoio paralelo

Apoio paralelo
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 26/08/11
O trabalho paralelo que o ex-presidente Lula vem fazendo no seu instituto, despachando com ministros e recebendo políticos para montar estratégias eleitorais, inclusive para a disputa da Prefeitura de São Paulo no ano que vem, acabará se transformando em um apêndice do governo Dilma, naturalizando uma interferência que deveria ser rejeitada pela presidente de direito, mas que é até bem recebida.

A crise em que se transformou a "faxina ética" que a presidente ensaiou nos primeiros meses do governo só está sendo superada com muita dificuldade tanto pela própria Dilma quanto por seus aliados, e só foi possível recuperar pelo menos em parte a harmonia da coalizão pela interferência pessoal de Lula junto à presidente, que parecia a certa altura encantada com os efeitos junto à opinião pública de sua ação moralizadora.

O problema é que seria praticamente impossível continuar nessa limpeza sem transferir para seu tutor político o ônus de, no mínimo, não ter tido muito empenho no combate à corrupção.

Como ressaltou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em recente comentário público, os fatos que estão se sucedendo na administração federal indicam que a corrupção, um problema histórico no país, tornou-se endêmica a partir do governo Lula.

Essa percepção fez com que a própria Dilma recuasse em sua intenção, alegando que ela só existiu na fantasia da imprensa.

A conselho do vice-presidente Michel Temer, de quem vem se aproximando à medida que a crise política demonstra a necessidade de uma ação mais "profissional", a presidente está fazendo reuniões com os diversos partidos que compõem a base aliada, para mantê-los unidos e garantir que não existirá caça às bruxas.

O jantar com o PMDB, por exemplo, foi exitoso no sentido de controlar a inquietação do partido, que teme ser desalojado do poder em um futuro próximo com o crescimento de dois outros partidos, o PSB, da base aliada, e o futuro PSD, que deve fazer parte dela quando for criado oficialmente, mas que desde já negocia apoios e recompensas futuros.

O PMDB está preparado, por exemplo, para uma investida do ex-presidente Lula para fazê-lo desistir de ter um candidato próprio à Prefeitura de São Paulo no ano que vem, para apoiar o hoje ministro da Educação, Fernando Haddad.

O PMDB tem no deputado federal Gabriel Chalita seu candidato, saído do PSB justamente porque lá não conseguiu apoio para tentar a prefeitura.

O vice Michel Temer, que está assumindo o controle do PMDB em São Paulo com a morte de Orestes Quércia, prometeu a legenda a Chalita, mas Lula está certo de que Haddad só terá chance se for apoiado por uma ampla coligação.

Alguns setores do PMDB, no entanto, resistem a acordos com o PT nas eleições municipais, certos de que, se saírem fragilizados delas, terão menos importância nas negociações políticas posteriores, podendo até mesmo perder, no limite, a vaga de vice-presidente numa reeleição de Dilma ou, mais provável, numa chapa com o ex-presidente Lula na cabeça.

Uma das críticas mais comuns ao líder do PMDB Henrique Eduardo Alves é a de que ele, na ânsia de garantir sua eleição para a presidência da Câmara na sucessão do petista Marco Maia, faz acordos com o PT que relegam a um segundo plano os interesses partidários do PMDB, colocando seus interesses pessoais na frente, fragilizando o partido.

Por outro lado, o PSB, outro partido da coalizão governista que se sente alijado das principais decisões, está convencido de que a presidente Dilma está dominada pela dupla PT-PMDB, deixando pouco espaço para partidos menores, mas importantes, como ele próprio, o PDT e o PCdoB, siglas que formam historicamente o "bloquinho de esquerda" no Congresso.

A atitude da presidente Dilma de recusar a liderança de uma suposta "faxina ética" pode até mesmo decepcionar aqueles que viam na sua disposição uma política nova para a máquina pública.

E ainda há os que acreditam que ela continuará na tentativa de organizar a administração, embora controlando os gestos mais intempestivos e tentando soluções internas nos partidos aliados.

É o caso do PP, que está às voltas com brigas internas que podem levar o partido a perder a pasta das Cidades, única ameaça, aliás, capaz de fazer os dois grupos que a disputam parar de se digladiar em público.

Em vez de demitir seu quinto ministro, a presidente Dilma preferiu fazer vista grossa à entrevista que o ministro Negromonte concedeu em termos que deveriam ser considerados incompatíveis com o cargo que exerce.

Se estivesse ainda em vigor a "faxina", Negromonte já estaria no olho da rua, mas a nova orientação é para abafar as divergências, pelo menos até o momento em que a presidente decida fazer uma reforma ministerial por uma razão política, na proximidade das eleições municipais, que não dê a sensação de que os ministros substituídos o foram por questões éticas.

À medida que a questão econômica se agravar, em decorrência da crise internacional que parece inevitável, haverá maior dificuldade para o governo atender aos interesses fisiológicos de sua base aliada, e é preciso preparar um ambiente amigável para enfrentar tempos difíceis.

As questões políticas se misturarão então às econômicas, dando um tom diferente à convivência com uma base aliada tão numerosa quanto divergente nos interesses.

O ex-presidente Lula continua sabendo tratar os antigos aliados apenas com lisonjas e favores, como fazia quando exercia o governo em tempos de bonança, mas a presidente Dilma, que ainda não tem traquejo político, terá provavelmente mais problemas econômicos do que seu antecessor.

A partir desse quadro de dificuldades, é que ela será testada no governo. E por isso também ela vem aceitando com tanta tranquilidade as intervenções de Lula.

CELSO MING - Uma CPMF para o euro

Uma CPMF para o euro


CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 26/08/11

Os social-democratas da Europa estão festejando a defesa que os dois mais importantes chefes de Estado da área do euro fizeram da criação de um novo imposto sobre transações financeiras - que pode ser alguma coisa parecida com a nossa encostada (sabe-se lá até quando) CPMF.

O anúncio foi feito dia 16, quando o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, se reuniram na minicúpula de Paris, destinada a procurar saídas para a crise. Os social-democratas comemoraram porque a criação de um imposto sobre transações financeiras é uma de suas poucas bandeiras internacionais ainda de pé.

Esse imposto não é outra coisa senão a velha proposta (de 1971) feita pelo Prêmio Nobel de Economia de 1981, James Tobin. Na concepção dele, o tributo seria cobrado no mundo inteiro em cada operação cambial. Seu objetivo seria frear a especulação com moedas.

A proposta de Sarkozy e Merkel não está clara. Em princípio, o imposto vigoraria apenas nos países da área do euro. E não incidiria apenas sobre operações de câmbio, porque, entre economias que operam com moeda única, as operações cambiais têm menos importância. Toda movimentação financeira estaria sujeita à taxação.

Há duas trombadas em potencial se a ideia for levada adiante. A primeira tem a ver com a finalidade desse imposto. A justificativa apresentada pelo presidente Sarkozy é a de que viria para colocar um mínimo de ordem nas finanças. Ele parece impressionado com a força da especulação com os títulos dos países mais endividados e quer botar um freio nisso.

Portanto, na concepção de Sarkozy, esse imposto seria criado com objetivo regulatório. Mas, se vem para isso, parece não fazer sentido cobrá-lo antes de que se imponham as tão faladas novas regras para o mercado financeiro - que Sarkozy também vem cobrando.

Outra corrente de políticos e de analistas acredita que esse imposto deve exercer funções arrecadatórias e, assim, abrir nova fonte de recursos para as economias europeias estagnadas por dívidas excessivas.

No entanto, se for para reequilibrar orçamentos públicos, a alíquota mais falada - os tais 0,05% por movimentação financeira - pode ser insuficiente. E, se fosse bem mais alta, tenderia a aumentar os custos financeiros, justamente quando o setor produtivo precisa de custos baixos para desatolar seu carroção dessa crise.

A proposta da instituição do imposto não saiu nessa cúpula entre Sarkozy e Merkel. Fora encaminhada em novembro de 2009 no âmbito do G-20, para fazer parte da agenda política global. Este é o reconhecimento de que, para ter finalidade regulatória, esse imposto só faria sentido se valesse no mundo inteiro. Entre todos os outros, o mercado financeiro é o mais globalizado. Se a taxação não fosse também global, seria inevitável que as movimentações financeiras fossem desviadas para áreas em que o imposto não existisse.

Como todas as questões dessa ordem, esse projeto precisa de consenso. E isso não existe. Os dirigentes dos Estados Unidos sempre foram os primeiros a rejeitar sumariamente essa ideia. E, se os Estados Unidos ficarem de fora, o imposto teria pouca probabilidade de sucesso - a menos que o objetivo também mudasse e o imposto se transformasse em importante instrumento arrecadatório, destinado a colocar em ordem as finanças dos países quebrados.

CONFIRA

Como mostra o gráfico, em julho, o desemprego caiu para 6,0%, número que está distante do chamado índice neutro (que não produz inflação). Isso significa que o mercado de trabalho continua aquecido no Brasil.

Tudo parado

No debate promovido ontem no instituto que leva seu nome, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso advertiu que não há vontade dos políticos em levar adiante nem a reforma política nem as demais. Os problemas precisariam piorar muito para que fosse criada consciência da necessidade de mudança, disse ele.

BRAZIU: O PUTEIRO


MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Fundo imobiliário oscila menos que ações do setor
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 26/08/11

Os fundos imobiliários oscilaram bem menos do que as ações de companhias do setor da construção civil na Bolsa de Valores do Estado de São Paulo nesses dias de alta volatilidade e queda nos mercados financeiros.
Muitos fundos ficaram com cotas estáveis e alguns chegaram a ter valorização no pior dia da crise, apesar da queda de papéis das empresas no mercado à vista.
"O fundo imobiliário é mais resiliente, o que mostra que o investidor nessa aplicação é diferente. Ele quer diversificação e olha mais para o longo prazo", afirma Fábio Nogueira, diretor e sócio-fundador da Brazilian Finance Real Estate.
De acordo com Nogueira, a valorização do BC Fund I foi de 19% desde o início deste mês até ontem.
Os fundos imobiliários continuam a crescer. Em janeiro, havia 109. Em julho, eram 122. Pedro Junqueira, da Unqbar, empresa especializada em finanças, diz que o incremento nesse mercado se deve ao bom momento do setor imobiliário e ao fato de não se pagar imposto de renda sobre o rendimento.
Hoje, a CVM analisa mais sete pedidos para constituição de fundo. Em julho, dois foram aprovados (o Mercantil do Brasil e o BM Cenesp, também da Brazilian Finance Real Estate).
O vice-presidente do Banco Mercantil, André Brasil, diz que o fundo foi criado para transformar capital imobilizado em capital de giro.

COMPRAM-SE QUARTOS
A BHG (Brazil Hospitality Group) fechou ontem a compra de cinco hotéis em Belém (PA) do Grupo MB Capital.
Dois deles já estão prontos. Os outros estão em obras. Em 2013, quando o último ficar pronto, a empresa terá 1.010 apartamentos a mais na carteira. Hoje são 34 hotéis com quase 7.000 quartos no país.
"Com isso teremos sete empreendimentos em Belém", afirma Pieter van Voorst Vader, presidente da empresa.
A BHG compra, administra e constrói hotéis. A MB Capital é uma holding de negócios com foco em incorporação imobiliária, turismo e outros.
A entrada da BHG no Norte começou em 2010 com a compra de dois hotéis também em Belém. Vader não descarta mais negócios na região.
"Não vamos ficar parados. Mas tudo depende de negociações. O que procuramos são áreas em perfil de crescimento para turismo de negócios. Não procuramos resorts", afirma.

Mercosul terá maior inflação do mundo em 2011, diz estudo

Os países do Mercosul apresentarão a maior taxa de inflação do mundo neste ano, de acordo com levantamento da consultoria EIU (Economist Intelligence Unit).
A média do índice de Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, que ainda depende da aprovação do congresso paraguaio para ser membro pleno do bloco, será de 9,3% em 2011, segundo a entidade britânica.
A forte demanda interna é um dos principais motivos para a alta da inflação, de acordo com a EIU.
"A taxa está elevada devido à Argentina e à Venezuela", diz o professor de comércio exterior da FGV-SP Evaldo Alves, que destaca o grande deficit fiscal desses países.
A inflação no setor de serviços, impulsionada pela alta da renda média no bloco, é uma das variáveis que está acima das outras regiões do mundo, segundo Paulo Tigre, economista da UFRJ.
"Houve aumento da demanda, mas o número de profissionais disponíveis não cresce na mesma velocidade, o que influencia diretamente no preço pago pelo consumidor", afirma Tigre.

PÉ NO ASFALTO
A Petrobras fechou acordo de cooperação tecnológica com a concessionária Rota das Bandeiras para o estudo de tipos de pavimentos que sejam mais eficientes.
Nos próximos três anos, serão realizados testes nas estradas controladas pela concessionária, que administra o Corredor Dom Pedro, que passa pelas cidades paulistas de Atibaia, Campinas, Jundiaí, Jarinu, entre outras.
Os profissionais que desenvolverão os testes de fórmulas de asfalto serão cedidos pela Petrobras. A Rota das Bandeiras, do grupo Odebrecht, disponibilizará técnicos para a medição e manutenção do trecho sob pesquisa.

Balanço... A Cyrela mantém hoje 1.400 homens em uma obra na Zona Sul de São Paulo, em um projeto que ocupa terreno de mais de 70 mil m2 ao lado da Ponte Transamérica. Com entrega da primeira fase para 2012, o empreendimento recebe por dia cerca de 60 caminhões para levar a matéria prima das 1.744 unidades em condomínios residenciais, torre comercial e escritórios.

...da obra Agora a empresa se prepara para iniciar um canteiro de obras na Zona Leste, com área total a ser construída de 132 mil m2 em torres comerciais e residenciais. Atualmente em fase de escavação, 250 caminhões por dia irão retirar mais de 190 mil m3 de terra no terreno onde cerca de 900 homens erguerão mais de 2 milhões de blocos de concreto e três toneladas de aço.

PACIENTE CORPORATIVO
No topo da lista das doenças que mais abalam os executivos brasileiros está a rinite, que atinge cerca de 28% dos profissionais analisados em levantamento da operadora de saúde Omint.
Também são graves as dores no pescoço e nos ombros (20,5%), causadas por má postura e tensões musculares devido a estresse.
Os que sofrem de obesidade são 18,5%. Cerca de 17% têm sintomas de ansiedade.
Entre os fatores de risco para doenças cardiovasculares, o colesterol é o mais comum, atinge 11,6% deles.
Muitos casos podem ser tratados com prevenção.
"Para as empresas, é bom investir em prevenção, pois, além de motivar o colaborador, permite melhor gestão do custo com saúde", diz André Coutinho, diretor-geral da Omint no país.
O estudo abordou 15 mil executivos de alta gerência e direção das empresas da carteira da Omint.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

VINÍCIUS TORRES FREIRE - Cultura e política dos juros altos

Cultura e política dos juros altos
VINÍCIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 26/08/11
Em debate da elite tucana, economistas recorrem também à "cultura" para tratar da economia do país

OS JUROS no Brasil talvez sejam altos porque são anormalmente altos faz muito tempo. Logo, seriam altos também por um tipo de inércia. Um ou outro comentarista com cacoete de sociólogo ou até de psicólogo já levantou tal hipótese, em geral tratada com derrisão por economistas.
Com muitas cautelas, Pérsio Arida fez conjectura parecida ontem. Foi em seminário que reuniu a elite dos economistas um dia associados ao PSDB, no Instituto FHC. Foi um dia curioso. Em vários momentos, explicações econômicas contavam com a ajuda de termos como "cultura", "mentalidade", "social". Não é inédito, claro, mas tampouco usual, ao menos por aqui no Brasil.
Ressalte-se que, antes de mais nada, Arida deu a explicação fundamental, "ortodoxa", dos juros altos: escassez de poupança. No Brasil, a situação seria agravada por distorções graves no crédito. Mais interessante, porém, são os determinantes da baixa poupança segundo Arida. O governo é sempre deficitário -passemos. Mas o que determina a baixa poupança privada?
Os brasileiros seriam impacientes, querem consumir já, um fator cultural e/ou social típico do Novo Mundo (EUA inclusive). Poupam pouco também devido a impostos altos. E porque investem nos filhos, esperando retorno no futuro da renda mais alta da prole bem educada.
Poupa-se pouco no Brasil ainda devido à desconfiança dos ativos financeiros. Um passado de incerteza, de choques, calotes e hiperinflação teria engendrado um agente econômico que, se não for muito bem remunerado, tende a não poupar, a não correr o risco de uma aplicação financeira incerta: que prefere consumir já. Haveria uma "inércia de mentalidades", diz Arida.
Hoje financista, Arida foi presidente do Banco Central em 1995, sob FHC, e um dos economistas que desenvolveram a teoria da inércia inflacionária, que explicou especificidades da também historicamente alta e anormal inflação brasileira.
Se há um fator "cultural" ou "social" dos juros altos, basta ao BC baixá-los, sem mais? Não. Mesmo havendo condições macroeconômicas suficientes, uma alteração importante e mais rápida da taxa básica de juros talvez seja possível apenas em momentos de choque.
Alterações marginais e habituais da taxa de juros em resposta ao ciclo econômico normal teriam os efeitos de praxe: altas e baixas do consumo e da atividade econômica.
Um choque como a crise de 2008 seria a oportunidade para essa "mudança de patamar" dos juros. Mas a ousadia dependeria ainda do controle de outros estímulos à atividade econômica, como o gasto público. Em 2008, o governo reagiu à crise externa com mais gasto e mais aumento do crédito via bancos estatais, entre outras medidas tomadas a fim de evitar uma recessão. Ou seja, o governo perdeu a oportunidade do choque, segundo Arida.
Pós-choque, seria possível manter os juros baixos? Arida não avança na sua conjectura, que depende da elaboração de tecnicalidades.
O economista enfatizou ainda que, além de produzir ineficiência grossa, fundos de poupança compulsória (FGTS e FAT), juros tabelados (o da caderneta de poupança) e o crédito direcionado a juro baixo para certos clientes (BNDES, habitação, rural) seriam também empecilhos à queda dos juros. Mas esse é um caso para outro dia.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Faxina no meu governo é faxina contra a pobreza”
PRESIDENTA DILMA NEGANDO A INTENÇÃO DE VARRER O LIXO DA CORRUPÇÃO EM SEU GOVERNO

DILMA “LAVA AS MÃOS” NA DISPUTA POR VAGA NO TCU 
A presidente Dilma Rousseff decidiu não se meter na disputa que se trava na Câmara dos Deputados pela vaga aberta com a aposentadoria do ministro Ubiratan Aguiar, no Tribunal de Contas da União. Ela comunicou que não vai se meter nessa confusão porque quase todos os partidos que apoiam seu governo têm candidatos à vaga e qualquer ajuda prejudicaria suas relações com todos os demais políticos aliados.

ASSUNTO DA CÂMARA 
Dilma sai da briga pela vaga no TCU porque sabe que o governo apita pouco nessa disputa. Os deputados federais é que decidem, e no voto.

APENAS UM PALPITE 
A preferência de Lula pela deputada Ana Arraes (PSB-PE) para o TCU fere de morte apenas a candidatura do petista Sergio Carneiro (BA). 

OS CANDIDATOS 
Também são candidatos ao TCU Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Átila Lins (DEM-AM), Jovair Arantes 
(PTB-GO) e Osmar Serraglio (PMDB-PR).

MEXEU COM ELE 
Agora Lula deve sair do mutismo em relação a Gaddafi e a Líbia: o Hotel Corinthians, um cinco estrelas em Trípoli, foi atacado pelos rebeldes. 

PMDB QUER A LIDERANÇA DO GOVERNO NO CONGRESSO 
O vice Michel Temer conversou com a presidente Dilma sobre o substituto do deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS), atual ministro da Agricultura, como Líder do Governo no Congresso. O PMDB indicou o deputado Marcelo Castro (PI), mas Dilma alegou que não o conhece, e preferiu definir o assunto em outro momento. Ela não sabe ainda se o futuro líder será deputado ou 
senador. O PT também reivindica o posto. 

BRASIL 2011 
A prova de ensino fundamental ABC mostrou que 57% das crianças não sabem matemática. Aprenderam naquele livro do MEC: 10-4 =7. 

O CONFERENCISTA 
Lula deve ir em janeiro a Córdoba, Argentina, para mais uma palestra. Desta vez sobre o Mercosul, de que muito se fala e pouco se aproveita.

PERGUNTA NA TRIBUNA 
A “Roma antiga” que Dilma citou é da arena dos leões, da traição a César, ou da mulher dele, que deveria ser e também parecer honesta?

GOLPE NO NEPOTISMO 
Decisão inédita do Tribunal Superior do Trabalho negou indenização trabalhista ao ex-assessor da presidência da TurisRio Domingos de Almeida Neto. Foi nomeado pelo então presidente, Sérgio Ricardo de Almeida, irmão dele, para cargo em confiança, e demitido em 2008.

PROTESTOS SÓ LÁ FORA 
O presidente da UNE, Daniel Iliescu, foi o Chile se unir aos protestos estudantis. Com R$ 30 milhões públicos dados por Lula a UNE, estão fora de cogitação protestos contra corrupção no governo do Brasil.

BUROCRACIA MACABRA 
A Agefis, agência de fiscalização do DF, informou que a falta de alvará provocou embargo na obra do terraço do shopping Patio Brasil para impedir suicídios (treze, até agora). O alvará neutralizaria o embargo.

TECNICALIDADE MACABRA 
A Administração de Brasília aprovou o projeto de reforma do shopping, mas não dá o alvará. Alega que “abre a possibilidade de construção de comércio” e “fere instrução do Iphan” blá, blá, blá. A vida? Ora, a vida...

CONSCIÊNCIA PESADA... 
Deu dor na consciência do Itaú Unibanco. O banco colocou sete bilionários (famílias Vilella e Moreira Salles) entre os 30 brasileiros riquíssimos da lista da Forbes. Agora, prepara o lançamento de uma campanha para tentar melhorar a sua imagem com os clientes. 

...PROPAGANDA FARTA 
Velho campeão de queixas no Banco Central e no Procon, o Itaú Unibanco vai gastar milhões em propaganda em lugar de investir naquilo que interessa: sistemas e treinamento em massa para evitar erros, vendas equivocadas e quedas dos computadores.

DESVIO DE FOCO 
Dilma deveria repensar a meta de “varrer a miséria”, não a corrupção. A Fiesp revelou que, sem ladroagem, a renda per capita seria de US$ 9 mil. A corrupção tira R$ 69 bilhões anuais da Educação, Segurança, etc. 

CUSPE NO PRATO 
Gustavo Codas, militante trotskista conhecido como “Paulo Paraguaio”, agora diretor de Itaipu, viveu muitos anos exilado no Brasil. Foi até assessor da 
CUT. Agora faz campanha para nos tomar US$ 360 milhões para o Paraguai, como se o Brasil devesse alguma coisa.

PENSANDO BEM... 
... Gafdafi foi para o buraco. 

PODER SEM PUDOR
CANDIDATO INCONDICIONAL 
No fim de 1959, Quintanilha Ribeiro recebeu a cúpula da UDN (Carlos Lacerda e Magalhães Pinto, entre outros) em uma reunião para pressionar Jânio Quadros a ser candidato a presidente, “desde que aceitasse algumas condições”. Incomodado com a pressão, Jânio pediu uma “licencinha” e saiu da sala. Todos ficaram tomando uísque imaginando que o pré-candidato fora ao banheiro ou quem sabe buscar gelo. Até que perceberam que ele simplesmente havia ido embora. Foi difícil, mas conseguiram convencê-lo a voltar à reunião. E ninguém falou mais em “condições”.

SEXTA NOS JORNAIS


Globo: ONU libera US$ 1,5 bi para governo de rebeldes líbios

Folha: Incerteza global faz Dilma reduzir previsão do PIB

Estadão: Entre alunos de 8 anos, metade não sabe o mínimo

Valor: Empresas abertas acumulam caixa de R$ 252 bilhões

Zero Hora: 44% dos alunos chegam ao 4º ano sem saber ler

- Brasil Econômico: Brasil atinge pleno emprego e apagão de mão de obras se agrava


quinta-feira, agosto 25, 2011

ANCELMO GÓIS - Faxina na torcida

Faxina na torcida 
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 25/08/11

O Ministério Público do Rio decidiu entrar com ação contra a torcida organizada Young Flu por causa da perseguição ao jogador Fred no episódio em que o atacante tricolor bebeu caipisaquês num bar de Ipanema.

O MP exige a destituição do presidente da torcida, Leandro de Carvalho Moraes, e o veto a seu ingresso nos jogos do time.

Além disso...

Se a Justiça acolher o pedido, a Young Flu ficará proibida de comparecer a estádios por até três anos.

E mais: seus integrantes, sob pena de multa de R$10 mil, não poderão procurar jogadores em suas casas ou nos treinos para exigir boa performance.

Pôneis da Nissan

A Nissan, a dos anúncios dos "pôneis malditos", parece perto de anunciar uma nova fábrica em Resende, RJ.

Acelerando

Eike Sempre Ele Batista será um dos patrocinadores do brasileiro Bruno Senna, da Renault, na Fórmula 1.

Aliás...

Imagina se a moda pega por aqui, e - como Warren Buffett, nos EUA, e vários bilionários franceses - Eike, Benjamin Steinbruch, Abílio Diniz, Jorge Gerdau e outros ricaços começam a pedir para pagar mais impostos.

Quem tem... tem

Tem gente temendo pegar avião dia 11 de setembro, quando se completam dez anos dos atentados às Torres Gêmeas.

Começo das trevas

Hoje, exatos 50 anos depois da renúncia de Jânio, que detonou uma temporada de ataques à democracia, será relançado o livro "Jânio Quadros e José Aparecido - O romance da renúncia", de José Augusto Ribeiro e do próprio Aparecido.

"Big boa"

SABRINA SATO, a ex-BBB que se reinventou e hoje é apresentadora do "Pânico na TV", da Rede TV!, aparecerá assim na capa da revista "Marie Claire" de setembro. Numa longa entrevista, fala sobre a personagem que encena no vídeo, conta como aprendeu a rir de si mesma, avalia que seu visual amadureceu e garante: as mulheres estão por cima. "As feministas me criticam, como se eu, por me deixar zoar, mostrasse que os homens têm mais é que tratar mal as mulheres. A gente não é inferior. Deixou de ser há anos e agora ocupa os principais cargos do país. Lá em casa, quando minha mãe me mandava lavar a louça, eu me recusava. Dizia: "Só lavo louça no dia em que meu irmão e meu pai também lavarem"." A "Marie Claire" chega às bancas amanhã

Partido dos Shoppings

O PS (Partido dos Shoppings) conseguiu uma vitória ontem na Câmara.

A Comissão de Constituição e Justiça rejeitou, por 26 votos a 14, em caráter definitivo, o projeto do deputado João Paulo Cunha que proibia a cobrança de estacionamento em shopping.

Mérito Pedro Simon

Todo o ano, em maio, a Firjan dá a personalidades a Comenda do Mérito Industrial do Rio.

Pois agora, em pleno agosto, em edição extraordinária, o conselho da entidade vai conceder a honraria aos nove senadores que iniciaram a campanha a favor da moralidade pública.

A saber...

Os nove são: Pedro Simon, Cristovam Buarque, Pedro Taques, Randolfe Rodrigues, Jarbas Vasconcelos, Ricardo Ferraço, Ciro Miranda, Ana Amélia Lemos e Eduardo Suplicy.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Prefeitura de São Paulo dispõe de R$ 3 bilhões para obras de urbanização; metade irá para drenagem
MARIA CRISTINA FRIAS
 Folha de S.Paulo - 25/08/2011

A Prefeitura de São Paulo tem cerca de R$ 3 bilhões em carteira para obras de urbanização, boa parte delas em processo de licitação.

Desse volume, cerca de R$ 1,5 bilhão representa investimento em drenagem, de acordo com Elton Santa Fé Zacarias, secretário de Infraestrutura Urbana.

"São obras para resolver problemas de enchentes em diversos pontos da cidade e envolvem canalização de córregos, a construção de piscinões e, em alguns casos, moradias para famílias que estavam nas áreas atingidas."

Dada a limitação decorrente do volume de endividamento, a Prefeitura depende dos governos estadual e, principalmente, federal para obras maiores.

"Obras de porte não têm mais condições de serem feitas só com os recursos da Prefeitura." O principal interlocutor no governo Dilma Rousseff tem sido o Ministério das Cidades.

A Prefeitura paulistana finaliza a licitação para construir 150 escolas em todas as regiões da periferia.

Com o investimento de mais de R$ 600 milhões apenas para erguer as escolas, o governo municipal pretende acabar com o terceiro turno, o chamado "turno da fome", das 11hs às 15hs.

De início, eram 40 construtoras, algumas em consórcios, a participar do processo. As obras estão divididas em 15 lotes. No dia 5 de se­tembro, abrem-se os envelo­pes da concorrência e, até o final de setembro, as obras devem estar contratadas.

Protecionismo argentino afeta exportadores do Rio Grande do Sul

As dificuldades impostas pela Argentina para a entrada de mercadorias brasileiras prejudicam 80% das empresas gaúchas que exportam para o país, segundo a Fiergs (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul).

Dessas empresas, 7,4% cogitam investir na Argentina para contornar o problema.

"Estão [a Argentina] fazendo protecionismo e usando isso como política de industrialização", diz o presidente da Fiergs, Heitor Müller.

Além do prejuízo financeiro, 59,1% dos exportadores gaúchos afirmam que perderam clientes para concorrentes da Argentina ou de outros países. Cerca de 3,5% dizem que precisaram demitir.

Desde o começo do ano, o governo argentino colocou 171 produtos na lista dos que precisam de licença não-automática para entrarem no país. Hoje, a licença é exigida para 683 mercadorias.

Bolso
O total de endividados caiu 2,2 pontos percentuais em agosto na cidade de São Paulo e atingiu o menor nível desde junho de 2010, segundo a Fecomercio.

Cerca de 45% dos paulistanos estão endividados neste mês, número que equivale a 1,62 milhão de famílias.

Entre os consumidores com contas em atraso, 52% têm atrasos há mais de 90 dias e 23% têm contas atrasadas por até 30 dias, de acordo com a entidade.

Confiante
O índice de confiança do comércio do Estado do Rio de Janeiro, medido pela Fecomércio-RJ, alcançou 142,73 pontos em julho, alta de 4,24% ante junho.

Foi o maior nível já apurado para o índice em um mês de julho, segundo a entidade. Os melhores resultados apareceram nos segmentos de supermercados (158,89), eletrodomésticos (151,61), calçados (151,21) e perfumaria (150,62).

Inquilino
Os contratos novos de aluguel residencial fechados em julho na capital paulista subiram 18,1% nos últimos 12 meses, segundo o Secovi-SP (Sindicato da Habitação).

Na comparação com o mês anterior, a elevação é de 1,3%.

Os contratos antigos, já em andamento, têm subido com menor velocidade.

Os aluguéis que aniversariam em agosto e são atrelados ao IGP-M, da FGV, serão reajustados em 8,36%, segundo o Secovi.

"Os aluguéis novos ficaram acima da inflação porque há pouca oferta atualmente de imóveis desocupados. Poucas pessoas têm se dedicado a alugar", afirma João Crestana, presidente da entidade.

Em julho, foram as habitações de três dormitórios que tiveram mais aumentos, com preços, em média, 1,7% mais altos em relação aos valores observados em junho.

Casas e sobrados, que levaram de 12 a 28 dias para serem locados, foram negociados mais rapidamente do que apartamentos.

O tipo de garantia mais encontrado nos contratos de locação no mês foi o fiador, opção escolhida por 47,5% dos proprietários. O depósito de até três meses de aluguel foi usado em 32% dos acordos, segundo o Secovi.

DENISE ROTHENBURG - O carregador da estrela


O carregador da estrela
DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 25/08/2011

Nas entrelinhas Lula enxerga longe. Trabalha dia e noite de forma a não permitir que as eleições municipais deixem o PSB ou o PMDB magoados como o PT ao ponto de se atirarem nos braços de Aécio Neves em 2014


Nas conversas mais reservadas em todos os partidos de dentro e de fora do governo, a conclusão sobre os últimos movimentos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é uma só: ele tem que permanecer na ribalta porque, sem Lula, o PT se acaba. Os próprios petistas dizem que só conseguem a unidade graças ao ex-presidente. E nunca se discutiu tanto a próxima eleição presidencial num primeiro ano de mandato como agora. E tudo porque Lula está no páreo, uma vez que os adversários — os tucanos Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin — estão quietos, esperando o que vai ocorrer na base governista.

E, por falar em base governista, ali, Lula interfere em tudo. Ou quase tudo. Ontem, por exemplo, foi um parto arranjar um presidente para a Comissão Especial que vai avaliar o novo Código de Processo Civil (CPC). Queriam um nome que não tivesse nada que explicar e que pudesse ficar no lugar do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), réu do mensalão. Optaram por Sérgio Barradas Carneiro (PT-BA), na esperança de que ele desista de concorrer à vaga de ministro de Tribunal de Contas da União (TCU). Carneiro terminou com a relatoria porque é suplente de deputado e, portanto, não poderia presidir a comissão especial do CPC. Carneiro diz que não vai desistir do TCU. Afinal, diz que sua candidatura obedece aos princípios constitucionais do artigo 73, que fala dos requisitos necessários para quem deseja compor aquela Corte, como experiência na área jurídica e administrativa.

Lula não interferiu diretamente na escolha de Barradas Carneiro, mas, no PT, há quem diga que ele bem avisou sobre as pretensões de João Paulo Cunha e o desgaste que isso poderia trazer para o partido. João Paulo é presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, um palanque de primeira linha, e já foi desgastante para o PT nomeá-lo. Portanto, Lula considerou que "o companheiro João Paulo" não precisaria de outro lugar para aparecer. A própria presidente Dilma entrou também nessa tarefa de pedir a João Paulo que avaliasse ficar fora da presidência da comissão.

Mas, voltemos a Lula: o ex-presidente tem rodado o país, preparando o partido para as eleições municipais. E já percebeu que o PT não está com essa bola toda para "bombar" nas três principais capitais do país. À exceção de São Paulo — onde o ex-presidente tenta refrigerar o partido carregando o ministro Fernando Haddad por todas as panificadoras paulistanas que passam pela sua cabeça —, o PT não tem nomes capazes de surpreender o eleitor de forma positiva. Lula está convicto de que Marta Suplicy não ultrapassa a sua marca e que, se o PT quiser fazer bonito contra os tucanos, tem que chegar com algo novo e confiar no "taco" do seu maior líder, ele próprio.

No Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, o PT está fadado a segurar os aliados. Na capital mineira, baixou a ordem de apoio a Márcio Lacerda (PSB), de forma a não deixar o socialista livre para voar ao lado de Aécio Neves. Também pediu votos para Ana Arraes (PSB-PE), a deputada mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do PSB. Ela é uma das candidatas a ministra do TCU. No Rio, o ex-presidente também já avisou que não tem conversa que não seja apoiar Eduardo Paes, do PMDB.

Lula enxerga longe. Trabalha para não permitir que as eleições municipais deixem o PSB ou o PMDB magoados como PT ao ponto de se atirarem nos braços de Aécio Neves em 2014. Seja para si próprio ou para Dilma, Lula quer os petistas bem colocados com os aliados. Esse apoio no Rio e em Belo Horizonte tem um preço: deixar que o PT indique os vices nas duas chapas. Assim, Lula espera preparar o seu partido para ganhar essas prefeituras em 2018. Ih! Aí, Lula foi longe mesmo. Mas ele é assim. Começou a preparar Dilma Rousseff dois anos antes para ser presidente. Só falta ele arranjar quem o substitua no papel de carregador da estrela do PT. Esse, ainda não surgiu.

Enquanto isso, no rame-rame dos cargos...
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), já acertou a indicação do procurador da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Marcelo Bechara, para a vaga de diretor aberta com a saída de Antonio Bedran. O PMDB, como todos sabem, não dorme no ponto. Resta saber se o PT vai concordar. afinal, se tem uma coisa que tem incomodado o governo, é a briguinha de bastidores pelos cargos que, às vezes, chega aos jornais, como o caso do PR de Alfredo Nascimento e o do PP de Mário Negromonte, o ministro das Cidades que hoje balança muito mais que o do Turismo, Pedro Novais.

TUTTY VASQUES - Saudades da Bahia!


Saudades da Bahia!
TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 25/08/11

Quem viu, viu! Moraes Moreira e o filho Davi Moraes, violão, guitarra e as nove canções do repertório de Acabou Chorare (1972) - 2.º álbum de estúdio dos Novos Baianos - celebraram no micropalco do cineminha do Instituto Moreira Salles, no Rio, a última grande maluquice que, comprovadamente, deu certo no Brasil. Aconteceu na noite de terça-feira para umas 130 pessoas, boa parte já meio barriguda e com saudades do tempo em que era possível dizer "tudo cacaca na fé fé, no bubu lili no bubu lilindo", sem parecer politicamente incorreto ou inconsequente. Pura nostalgia da geração que viveu o rescaldo dos anos 1960, diriam, não fosse o timbre jovial das vozes que, misturadas à plateia, entoavam o corinho gospel "besta é tu, besta é tu, não viver esse mundo, besta é tu, besta é tu, se não há outro mundo". Quase 40 anos depois da grande viagem daquele bando de loucos - na época, a torcida do Corinthians era tão somente "fiel" -, salvou-se mais do que um disco recorrente nas listas dos dez melhores da música brasileira: a guitarra de Davi Moraes é de berço esplêndido! E que coisa mais linda o diálogo musical com o pai cabeludo. Há muito tempo não se via nada tão família no Rio.

Ver para descrerNa véspera do nascimento de seu filho, Neymar voltou a ter pesadelo com Lúcio. Sonhou que Davi Lucca vinha ao mundo com a cara do zagueiro da seleção! O craque do Santos só relaxou após o parto.

Faz-me rir!O terremoto de araque na costa leste dos Estados Unidos virou piada na costa oeste, onde a terra costuma tremer à vera. Comenta-se em Los Angeles que o bota-fora de Dominique Strauss-Kahn pode sacudir Manhattan com mais intensidade.

Que pecado!O Vaticano tem bons motivos para impor penitência de muitas ave-marias ao senador Pedro Simon. Onde já se viu comparar José Sarney ao papa, caramba!

AntidopingExame que não encontrou drogas no corpo de Amy Winehouse não foi feito no mesmo laboratório que absolveu Cesar Cielo. E não se fala mais nisso, ok?!

Sejamos justosAlguém precisa dizer aos sem-terra que a Fazenda do Guido Mantega é um dos ministérios mais produtivos do governo Dilma. Deveriam invadir o do Turismo ou das Cidades, sei lá!

Zebra NegromontePintou o primeiro azarão da faxina ética: o ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), ficou de repente bem cotado para tomar a vez do colega do Turismo, Pedro Novais, na planilha de demissões do governo.

Custo AlckminGilberto Kassab já sabe como justificar à 4.ª Vara da Fazenda Pública o aumento de 51% em seus vencimentos desde janeiro. Vai alegar que, ano passado, ele não tinha que aturar o Alckmin em solenidades.

Só um toqueQuem avisa amigo é: Elba Ramalho está solteira

ILIMAR FRANCO - Nas mãos de Dilma


Nas mãos de Dilma
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 25/08/11

A solução do impasse sobre a distribuição dos royalties do petróleo está nas mãos da presidente Dilma. O governo já tem o valor aproximado da perda da União, considerando-se recente proposta do governador Sérgio Cabral. A União, que hoje recebe R$8,6 bi, ficaria com R$7,2 bi; a receita dos estados e dos municípios produtores cairia de R$12,1 bi para R$10,8 bi; e os não produtores elevariam sua renda de R$800 milhões para R$8,4 bi.

PragmatismoApesar das divergências na votação do Código Florestal e de os verdes estarem voltando para a base do governo, PV e PPS decidiram ontem manter o bloco na Câmara. Isso dá aos dois partidos maior representatividade nas comissões.

DISCRIÇÃO. Os Clubes Militares (dos oficiais da reserva) realizaram ontem, na Igreja Santa Cruz dos Militares, no Rio, missa "em memória dos 119 militares e civis que perderam a vida, entre 1964 e 1974, por atos de terroristas". Na terça-feira, quando soube da missa, o ministro Celso Amorim (Defesa) mandou chamar os três comandantes militares e acertou com eles que nenhum oficial da ativa participaria da cerimônia.

Isso não é nada. Vamos aos dados objetivos. Estamos votando e ganhando tudo" - Cândido Vaccarezza, líder do governo na Câmara (PT-SP), sobre as divergências internas nas bancadas do PMDB e do PP

A PRESIDENTE Dilma tirou muitas fotos no jantar com o PMDB. Entre os que fizeram questão do registro: os irmãos Geddel Vieira Lima, vice da CEF, e Lúcio Vieira Lima, deputado do PMDB da Bahia. Eles estão brigados com o governador petista Jaques Wagner.

ACIDENTE. Batedores da Presidência da República treinavam ontem em uma avenida de Brasília quando bateram em cinco carros, um deles era do deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG).

A OAB vai ingressar com Adin no STF proibindo que empresas doem dinheiro em campanhas eleitorais.

Nervos à flor da pele no SenadoO líder do PT, Humberto Costa (PE), e o tucano Mauro Couto (PA) quase partiram para o confronto físico em debate sobre a CPI da Corrupção na sessão de ontem. Já os Senadores Armando Monteiro (PTB-PE), ex-presidente da CNI, e Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da CNA, contestaram com violência o tucano Ataídes Oliveira (TO), por suas críticas à falta de transparência do Sistema S e ao enriquecimento de seus administradores.

Medo!O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) aproveitou o jantar do PMDB para pedir ao ministro Mendes Ribeiro (Agricultura) que receba o MST. Os sem-terra invadiram anteontem o gabinete do ministro da Fazenda.

CaloteA UNE contratou um grupo de samba, o Adora-Roda, para fazer duas apresentações em Pretória (África do Sul), no Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes. Foi em dezembro, e eles ainda não receberam o cachê de R$5 mil.

Tim-timA presidente Dilma arrancou gargalhadas de ministros, governadores e parlamentares do PMDB anteontem, ao encerrar seu discurso. Ela disse: "Não vou ficar falando muito. Afinal, nós viemos aqui para beber ou para conversar?"

A operação abafaO ministro Mário Negromonte (Cidades), o líder do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), e referências partidárias, como os deputados Eduardo da Fonte (PE) e Luiz Fernando (MG), levaram um puxão de orelhas do presidente do partido, Senador Francisco Dornelles (RJ). Informado de que o Planalto "minimizaria" a desastrada entrevista de Negromonte, Dornelles aconselhou a todos: "Crise política é resolvida com o tempo, o silêncio e poucas reuniões". Aparentemente seu apelo foi atendido. Ontem à noite, o líder Aguinaldo Ribeiro afirmou: "Salomão nos ensina, há tempo de falar e tempo de calar. Agora é tempo de calar".

VINÍCIUS TORRES FREIRE - Banca privada sai, estatal fica

 Banca privada sai, estatal fica
VINICIUS TORRES FREIRE 
FOLHA DE SP - 25/08/11

Crédito de bancos privados começa a desacelerar e bancos públicos ainda mantêm ritmo forte


DESDE MAIO, os bancos privados estão emprestando relativamente menos dinheiro. Pelo menos, a quantidade de dinheiro emprestado e ainda não pago (saldo do estoque de crédito) vem crescendo cada vez mais devagar.
A partir de maio, o estoque de crédito do BNDES voltou a acelerar -o BNDES é o banco estatal de desenvolvimento. No conjunto, o estoque de crédito dos bancos estatais voltara a acelerar desde março.
Dá para dizer que se trata de uma reedição, em escala muito reduzida, da estratégia de 2008-2009?
A partir do trimestre final de 2008, quando os bancos privados saíram de cena, o governo empurrou os estatais para o meio do palco, os obrigando a sustentar a oferta de crédito em meio ao tumulto da crise mundial. Entre 2008 e o início de 2010, os bancos estatais chegavam a ser responsáveis por 60% a 80% do aumento do estoque de crédito, o dobro do que era costumeiro nos meses anteriores à crise.
Números tão brutos não permitem deduzir os motivos específicos de cada setor da banca. Mas, pela conversa dos bancos privados maiores na rodada recente de divulgação de balanços, alguns clientes se afastaram, devido a juros altos, e outros foram afastados, pois os bancos passaram a apertar os critérios de concessão de empréstimos.
Os bancos públicos, alguns deles comerciais, como Banco do Brasil e Caixa, estariam em geral mais dispostos a emprestar? Também difícil dizer, embora os estatais tenham liderado o aumento do estoque de crédito recente, em particular em julho, segundo balanço divulgado ontem pelo Banco Central.
Um dado que ajuda a entender um pouco mais a evolução recente de crédito é a participação do crédito direcionado no aumento recente do estoque de crédito.
"Crédito direcionado", grosso modo, é o dinheiro emprestado pelo BNDES mais aquele que os bancos são obrigados a emprestar a tal ou qual setor, com taxas e/ou condições fixadas pelo governo, extramercado. Por exemplo: crédito rural no Banco do Brasil, crédito imobiliário com recursos da poupança e do FGTS (a Caixa Econômica Federal é forte no setor imobiliário).
Em julho, o equivalente a 55% do aumento do estoque de crédito deveu-se ao BNDES e ao crédito para habitação com recursos direcionados (nem todo ele estatal, observe-se) . Em maio e junho, tal conta andava em torno de 31%. Em março e abril, em torno de 22%.
Não houve aceleração notável do crédito imobiliário nesses meses; o estoque do BNDES deu um salto maior apenas em julho (na comparação anual o BNDES até desacelera bem). O crédito do setor privado para consumo (afora habitação) e empresas é que parece, ressalte-se, ter murchado.
Em suma, e apesar de todas as ressalvas, há indícios de que os bancos públicos estão colaborando menos, vamos dizer assim, no esforço de desaquecer a economia e, pois, de conter a inflação.
Com inflação menor, seria possível antecipar o início da derrubada da taxa de juros básica da economia. Esse seria um objetivo oficial do governo Dilma Rousseff, pregado e alardeado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. O governo agora também vai orientar os bancos públicos a apertar também o crédito?

JANIO DE FREITAS - A alegria das meninas

A alegria das meninas
JANIO DE FREITAS 
FOLHA DE SP - 25/08/11

A plena liberdade assegurada aos desvalidos menores de 12 anos conduz à convivência com a droga


AS MENINAS ESTÃO alegres outra vez. Não foi preciso muito para voltarem à alegria. Na rua. Entorpecendo-se com inalação de solvente. Pedindo e ganhando alguma coisa aqui, furtando ou tentando furtar alguma coisa ali, um celular e uma bolsa de passante na calçada, mesmo que necessária certa imposição física do grupo, um objeto da loja -tudo rende para o consumo e para a venda que permite comprar mais solvente. Agora. Depois, o crack.
Se essa vidinha for perturbada, a lei está aí para devolvê-la prontamente e tal como desejada. A lei que reúne os itens generosos de sua pedagogia sob o belo nome de Estatuto da Criança e do Adolescente. Também reconhecida, entre os seus íntimos, como ECA. Desfrutar do ECA é a vantagem de nascer em um país que ama leis.
As meninas podem estar alegres porque tiveram tal sorte. Apanhadas no fracasso de furtos tentados em um hotel paulista, duas ou três foram devolvidas à rua pouco depois de apresentadas à autoridade representativa do ECA; outras duas ou três, as notícias são contraditórias, foram ao encontro das amigas em 24 a 48 horas. Cumpra-se a lei.
Crianças até 12 anos, diz a lei, não podem ter sua liberdade restringida pela autoridade. Era o caso daquelas. Ou não era. Disseram-se todas com 11 anos ou menos. Seus nomes? Deram nomes inverdadeiros. Seus endereços? Escolheram entre não saber e inventar. Seus pais? Outros nomes falsos. Retê-las sujeitaria a autoridade a leis que protegem a lei. Cumpra-se a liberdade da infância, que, segundo a lei, sabe o que fazer com a própria infância e com a liberdade.
Mas a Lei das leis, que carrega a má sonoridade do nome Constituição, informa ter o Estado a responsabilidade de prover a proteção à criança. O que inclui impedir que se envolva com entorpecentes, viva ao abandono nas ruas, não tenha forma alguma de assistência alimentar e à saúde, sem chegar-se ao extremo de considerar a escolaridade obrigatória.
A realidade com que o ECA convive exibe algo diferente. A plena liberdade assegurada aos desvalidos menores de 12 anos, ao tomar o abandono como liberdade, conduz à convivência com a droga, com adolescentes e adultos já deformados pela vida viciosa, com o tráfico, com doenças, com a falta de todo o aprendizado escolar. É o falso respeito à infância induzindo-a ao aprendizado da criminalidade. É a pedagogia da desgraça.
A responsabilidade do Estado vai mais longe, porém. Inclui ocupar-se de proteção em outro nível: o da população já exposta à maior eficiência da criminalidade que à dos meios de segurança e com todos os motivos, comprovados nos fatos de cada dia, de temer o ainda pior, com a chegada crescente do crime aprendido nas ruas desde a infância. E até já praticado por trombadinhas, flanelinhas e outros aos quais os diminutivos não se adaptam.
É verdade que os internatos da infância pobre ou delituosa costumam merecer a mais dura reprovação. É verdade também, no entanto, que esse mal se tem reduzido bastante, com a atenção de iniciativas particulares para o problema. E, ainda uma vez, é do Estado a responsabilidade de prover e de fiscalizar o abrigo em condições respeitáveis e dotado da função educacional necessária. Se falha nessa responsabilidade, a maneira de corrigi-la não é a entrega da infância desvalida, só por ter menos de 12 anos, à escola da criminalidade e à pedagogia da desgraça pessoal e social.
As meninas estão alegres outras vez. No limite da desgraça.

CLÓVIS ROSSI - Os ricos não sofrem nem falam

Os ricos não sofrem nem falam
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 25/08/11 

Injustiça tributária vale para França e Brasil. Bilionários da 'Forbes' deveriam prestar atenção


Alô, alô, bilionários brasileiros na lista da revista Forbes: deem uma olhadinha, por favor, no apelo de seus colegas da lista francesa da Forbes para que sejam devidamente tributados. Sigam o exemplo, porque a iniquidade tributária não é produto francês, mas universal, inclusive e principalmente nestes tristes trópicos.
Há abundantes dados para mostrar como é correta a decisão do governo francês de impor uma taxação "excepcional" aos ultrarricos. Errado é fazê-la valer só uma vez, quando a iniquidade é permanente, não circunstancial. A decisão foi anunciada um dia depois de que as "vítimas" puseram a corda no próprio pescoço.
Posto de outra forma, em vez de o governo identificar um problema e atacá-lo, esperou que os beneficiários da iniquidade vestissem a carapuça para só depois atuar.
Vamos aos dados. A regra de ouro de qualquer sistema tributário é simples: quem mais tem paga mais. Muito bem: na França, o 0,1% dos mais ricos paga uma alíquota de imposto de renda de 20,5%. Já a fatia de cima, o 0,01% ainda mais rico, paga menos (17,5%). E aquela meia dúzia (ou 0,001%) de ultra-ricos contribui com apenas 15%.
É diferente no Brasil? Não, comprova estudo do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) divulgado faz pouco mais de três meses. Por ele, verifica-se que "as mansões pagam menos impostos que as favelas e estas ainda não têm serviços públicos como água, esgoto e coleta de lixo", como disse Marcio Pochmann, presidente do Ipea, no lançamento do estudo.
Em números: os 10% mais pobres da população separam 32,8% de sua renda para pagar impostos diretos e indiretos. Para os 10% mais ricos, a participação é de 22,7%.
Esses dados ajudam a entender por que o topo da pirâmide se apropria de 75,4% da riqueza nacional. A decisão do governo francês, embora correta, peca por deixar de lado uma proposta (a de taxação dos movimentos financeiros), que vira e mexe entra na agenda internacional - e sai rapidamente porque os governos não têm coragem de enfrentar o que os argentinos chamam, apropriadamente, de "pátria financiera".
O inchaço dela é outra anomalia do capitalismo contemporâneo, a ponto de ter capturado, nos últimos 10 anos, 41% de todos os lucros do setor privado norte-americano, conforme dados esgrimidos por Moisés Naím, agora colunista desta Folha, no tempo em que escrevia apenas para "El País".
Naím citou Simon Johnson, economista do Instituto Tecnológico de Massachusets (EUA), que afirma que apenas seis conglomerados financeiros controlam ativos equivalentes a 60% da economia dos Estados Unidos.
Se valesse mesmo o critério lógico e óbvio de que quem ganha mais paga mais, o setor financeiro teria que dar uma contribuição forte para as arcas públicas, aliviando o sofrimento das classes médias, aposentados e funcionários públicos, que estão levando o peso maior do ajuste fiscal em curso em vários países da Europa.
Por falar em classe média, é ela que, no Brasil, suporta o maior peso impositivo, em termos absolutos, E fica tudo por isso mesmo.

CELSO MING - De olho nele


De olho nele
CELSO MING
O ESTADÃO - 25/08/11

Em meio à profunda estagnação da economia americana, os olhares suplicantes se voltam agora para um homem que não recebeu um único voto dos eleitores: ele é Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve System (Fed), o banco central dos Estados Unidos.

Com uma insistência atordoante, querem agora que ele anuncie a utilização da ferramenta monetária capaz de resolver tudo o que outros mecanismos anticrise não foram capazes de fazer.

A expectativa é a de que Bernanke anuncie amanhã, rodeado pelos picos das montanhas rochosas de Jackson Hole (Estado de Wyoming), mais uma super-rodada de afrouxamento quantitativo. Trata-se de uma operação de recompra de títulos do Tesouro americano, que circulam no mercado para que ainda mais dólares prontamente emitidos (os mesmos que foram dados em pagamento pelos títulos) circulem pela economia e acionem o crédito, o consumo, a produção e o emprego.

Por que Jackson Hole? É que lá se realiza todos os anos um fórum que reúne autoridades dos bancos centrais de todo o mundo. Tem sido ocasião para que o presidente do Fed anuncie novidades na política monetária, que reúne os instrumentos pelos quais um banco central tira e põe dinheiro na economia.

Fortes razões sugerem que o mercado está esperando muito do Fed. Mesmo que Bernanke decida injetar ainda mais dinheiro num mercado já abarrotado de recursos, é pouco provável que isso ajude grande coisa.

O Fed já trabalha com juros próximos de zero por cento ao ano. E, como são o preço do dinheiro, juros rastejantes, por si sós, já indicam que há no mercado uma superoferta de recursos. Mais do que isso, o Fed avisou que os juros permaneceriam nesse patamar pelo menos até meados de 2013 - um horizonte mais do que confortável para que qualquer empreendedor possa investir e contratar pessoal.

Além disso, estão circulando no mercado US$ 1,7 trilhão que o Fed injetou na crise de 2007/2008, mais US$ 900 bilhões correspondentes a duas operações de recompra de títulos.

Os bancos americanos já estão atolados em liquidez. Tanto estão que não têm o que fazer com US$ 1,6 trilhão. Em vez de conceder empréstimos, preferem manter essa dinheirama depositada no próprio Fed, a esses juros aí, de até 0,25% ao ano.

Examinadas as coisas pelo lado da procura de crédito nos Estados Unidos, não se vê quadro muito diferente. Os consumidores estão com dívidas até o pescoço - especialmente com compromissos imobiliários -, numa conjuntura em que o valor dos imóveis não para de cair. O empresário, por sua vez, não se anima a levantar dinheiro nos bancos por não pretender investir enquanto o desemprego continuar tão intenso (o que implica estagnação do consumo) e a perspectiva dos negócios estiver mais para o desânimo do que para a virada do jogo.

A única iniciativa que poderia, em princípio, mudar esse quadro seria uma importante redução das dívidas habitacionais, de maneira a abrir um espaço no orçamento hoje apertado do consumidor, para que possa voltar às compras e, assim, movimentar novamente o setor produtivo. Não há nenhuma indicação de que nem Bernanke nem o governo Obama estejam se movendo nessa direção.

CONFIRA

Embora em desaceleração, especialmente no financiamento para compra de veículos, o avanço do saldo das operações de crédito continua forte. Foi de 19,8% em 12 meses terminados em julho. O Banco Central quer que não passe dos 15%.

Crédito caro

Apesar da desaceleração, os juros cobrados nas operações de crédito continuam altos, mostrando algumas quedas pouco expressivas. Para pessoas jurídicas, o crédito para desconto de duplicatas ficou em 42,9% ao ano. E no cheque especial para pessoas físicas, em 188,0% ao ano.