É observado o desenvolvimento de anticorpos em parte do conservadorismo nacional
A saída de Sergio Moro do governo acelerou o movimento de parte do conservadorismo brasileiro de reconhecer a terrível derrapada que deu ao se associar a Jair Bolsonaro.
Nenhum antipetismo poderia justificar isso. A confiança de que as instituições e o peso do cargo iriam dar prumo à coisa se revelou uma belíssima de uma aposta furada. Poucos tiveram a hombridade do tucano Alberto Goldman (morto em 2019), que, diante do inominável, declarou voto em Fernando Haddad (PT).
Não se tratava de PT, mas de democracia, razão e sensibilidade. E se tem alguma coisa pela qual Bolsonaro jamais poderá ser cobrado é de ter escondido quem ele realmente era.
Por isso, alguns bradam aos que buscam jair se arrependendo que se ajoelhem no milho e peçam desculpas —que não serão aceitas. O que também se revela um erro, pois há uma direita e um conservadorismo relevantes no Brasil, e eles têm todo o direito democrático de serem representados por políticos com o mínimo de preparo e inteligência, que respeitem as instituições, a ciência e os pilares da civilização e do humanismo —não por um bando de lacerdistas de pré-primário, que de Lacerda só herdaram a inclinação ao golpe.
Em autocrítica publicada na Gazeta do Povo, um dos dirigentes do MBL, Renan Santos, diz que a direita derrubará Bolsonaro. "Se queremos reconstruir a direita democrática e torná-la politicamente viável, precisamos, antes de tudo, torná-la democrática", afirma, criticando o populismo e o culto à personalidade e defendendo o diálogo —em vez das brigas— com outros campos políticos. "Precisamos amar a política, a mais nobre das ocupações humanas, e não destruí-la, como muitos julgavam ser necessário."
Cobre-se o tributo dos que se aventuraram na nau dos insensatos —incluindo MBL e (principalmente) Moro. Mas não interditem a tentativa de parte da direita de se desgarrar daquilo que de mais repugnante surgiu na política brasileira nas últimas décadas. A democracia só tem a ganhar.
Ranier Bragon
Repórter especial em Brasília, está na Folha desde 1998. Foi correspondente em Belo Horizonte e São Luís e editor-adjunto de Poder.
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