terça-feira, maio 12, 2020

Evolução da pandemia demoliu tese bolsonarista contra o isolamento - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 12/05

A velocidade do aumento do número de casos mostra a necessidade de medidas mais duras nas cidades


Bolsonaro continua a justificar as críticas de dentro e de fora do país ao seu comportamento inominável com relação à tragédia em curso no país provocada pela epidemia da Covid-19. Desde que começaram a ser contabilizados no Brasil casos de infecção pelo vírus Sars-CoV-2, no final de fevereiro, o presidente assume uma posição negacionista, contrária a medidas preventivas como o isolamento social, quarentenas e similares.

O presidente Trump recuou em parte nessa posição quando começou a se assustar com a explosão no número de mortos no estado de Nova York (até o início da tarde de ontem, 26.800), que tomou da cidade chinesa de Wuhan o posto de epicentro mundial da pandemia. O colega brasileiro, ao contrário, segue em frente no desatino.

No sábado, quando o país alcançou oficialmente 10 mil mortes, Bolsonaro passeou de jet-ski no Lago Paranoá, em Brasília, depois de ter desmentido que faria um churrasco para a família e convidados no Alvorada, um tipo de evento desaconselhado por gerar aglomerações e facilitar o contágio por um vírus de elevada transmissibilidade. O presidente recuou na festa devido ao tamanho da repercussão negativa. Em contrapartida, Congresso e Supremo decretaram luto oficial pelas vítimas.

O histórico desta pandemia já fornece provas e argumentos sólidos de que seria um erro crasso de dimensões descomunais o poder público nada fazer para atenuar a propagação de um vírus desconhecido, contra o qual ainda não há a proteção de vacina e medicamentos que possam contê-lo. Tudo dentro da teoria de que os vírus cumprem um ciclo de ascensão e queda, à medida que a contaminação das pessoas vai criando anticorpos na população.

Mas a que custo em termos de vidas humanas? Na noite de sábado, o programa “GloboNews Debate”, com a participação dos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde, Bolsonaro), do DEM; Humberto Costa (Saúde, Lula), do PT; e Osmar Terra (da Cidadania, Bolsonaro), do MDB, serviu para reafirmar a fragilidade da argumentação bolsonarista contra o isolamento e outras medidas desse tipo, defendidas no programa por Terra.

O deputado do MDB gaúcho, também médico como Mandetta e Humberto Costa, não conseguiu justificar o fim do isolamento diante da sobrecarga nas redes de saúde, como já ocorre em Manaus, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Deixa-se as pessoas morrerem sufocadas nas ruas? É indiscutível que os países que ensaiaram uma posição mais relaxada no início da epidemia foram forçados a tomar medidas às pressas para esvaziar as áreas públicas. Foi assim na Itália e nos Estados Unidos, casos notórios de recuo.

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