Eleito com 39% dos votos totais, presidente perde apoio, entre outros fatores, pela epidemia
Carregado em saguões de aeroportos por militantes que o recepcionavam com gritos de “mito”, o pré-candidato Jair Bolsonaro parecia ser mais um desses exóticos concorrentes ao Planalto. Mas ganhou o segundo turno em 2018, com a ajuda da rejeição ao PT e da incapacidade do centro, à direita e à esquerda, de encontrar um nome que enfrentasse um populismo de extrema direita que também avançava em outros países.
Um ano e cinco meses de poder depois, Bolsonaro continua sendo apoiado por aqueles fanáticos que o carregavam nos ombros, e que estão no grupo de um terço do eleitorado que se mantém fiel ao presidente, apesar de todas as crises.
Pesquisa do Datafolha apurada na segunda e terça-feira, publicada ontem na “Folha de S. Paulo”, tem leitura pró-Bolsonaro e contra. A favorável chama a atenção para a solidez deste apoio de 33%, já verificada na sondagem anterior; a preocupante para o bolsonarismo é que o seu presidente, com 43% de avaliação negativa, já é o inquilino do Planalto mais mal avaliado desde a redemocratização, com um ano e meio de governo — entre Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma.
Nada impede que se recupere. Mas a radicalização e os modos fora de padrão de Bolsonaro não parecem ser o melhor caminho. A pesquisa foi feita depois da divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, cuja trilha sonora está pontilhada de palavrões e gritos do presidente.
Há uma correlação direta entre a piora na avaliação presidencial e aquelas cenas. Dos entrevistados, 55% assistiram ao vídeo, e destes, 53% consideraram “ruim ou péssimo” o governo, dez pontos percentuais acima do resultado geral da sondagem.
Outro resultado negativo para Bolsonaro é sua atuação na epidemia. O número crescente de vítimas tem tido um apelo mais forte para a população do que a pregação bolsonarista contra medidas preventivas — ontem, ao alcançar 27.878 mortos pela Covid-19, o Brasil ultrapassou a Espanha e passou a ser o quinto país do mundo com mais mortos na pandemia.
Com estes 33% de apoio firme, pelo menos até agora, o bolsonarismo curiosamente repete o lulopetismo, que nos piores momentos das revelações de suas traficâncias na corrupção mantinha um terço do eleitorado fiel. Coincidências entre pontos extremos do campo ideológico.
O bolsonarismo, que chegou ao Planalto com votos das faixas mais abonadas da população, começa a ser um pouco mais bem-visto entre os de renda baixa, ajudado pelo abono de emergência. Mas nada significante. A ver se o governo tentará fazer do auxílio, guardadas as diferenças, o que o Bolsa Família é para o lulopetismo desde sua criação. Seria fiscalmente desastroso.
Neste ano e meio de governo, Bolsonaro se firma como governo de uma minoria. Se formos levar em conta os números totais da eleição de 2018, considerando os votos brancos, nulos e abstenções, o presidente foi eleito com 39,3% dos votos totais. Mas 55,1% dos válidos, e ganhou a faixa presidencial.
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