Quebra criminosa do isolamento de Norte a Sul vem de cima, do isolado nº 1
Com o coronavírus ultrapassando a barreira de mais de cem mil mortos no nosso mundo e mais de mil no nosso Brasil, as pessoas parecem não entender, sofrem uma intrigante negação da realidade e estão voltando às ruas em todas as capitais, de Norte a Sul do País. Por que Manaus e Porto Alegre, Cuiabá e Recife, São Luís e São Paulo fazem esse movimento suicida ao mesmo tempo? Porque a ordem, ou o exemplo, vem de cima. Vocês sabem de quem. E não vão esquecer.
Seria impossível desconhecer e esquecer que o isolado número 1 do País estimula manifestações contra o Supremo e o Congresso, toca pessoas e celulares na frente do Planalto, mistura-se e tira selfies com cidadãos em três locais do Distrito Federal, descumpre decreto do DF para comer numa padaria, causa aglomeração em frente a uma farmácia. É tão inacreditável que se torna inesquecível.
Não satisfeito, o isolado número 1 corre atrás de governadores, e do prejuízo político, inaugurando uma forma inédita de compra de apoios: o toma lá dá cá em tempos de coronavírus. Oferece mundos e fundos para reduzir o impacto econômico da pandemia nos Estados, desde que relevem a preocupação com a mortandade e relaxem o isolamento. Ou seja, façam como na ditadura militar: “Às favas os escrúpulos de consciência”.
A pressão se estende para o Dr. Ronaldo Caiado e a aposta é que este não ceda e não troque recursos por vidas em Goiás, mas o empresário Romeu Zema saiu alegrinho do Planalto, voltou para Minas em atrito com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, e acena com abrandamento do isolamento bem no pico da contaminação.
O advogado Ibaneis Rocha também saiu outro das conversas com o governo federal. Primeiro governador a decretar a suspensão das aulas - então com a oposição até do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta -, ele agora relaxa o isolamento, única forma de prevenção contra o vírus.
Ibaneis liberou a volta ao trabalho em diferentes setores do DF, como o de móveis e eletrodomésticos. Ué?! Será que móveis e eletrodomésticos são serviços essenciais, ou é só para aumentar a aglomeração em pontos, ônibus e metrô? Como lembrança, o DF tem 16,9 contaminados por cem mil habitantes e é o quarto na fila para entrar na “fase descontrolada”. Hora ideal para mandar as pessoas para as ruas, não é?
Enquanto o isolado número 1 - que, aliás, nunca exibiu seus pelo menos três testes para o coronavírus - tenta quebrar o próprio isolamento político na base do homem a homem, continua a guerra do socorro aos Estados na Câmara, trocando o varejo do Planalto pelo atacado do Congresso. Mas Paulo Guedes bate pé contra o que chama de “bomba fiscal”, Rodrigo Maia fecha com os Estados (sobretudo com o seu Rio de Janeiro...) e as bancadas se dividem, cada uma pensando na sua região, no seu governador.
Essa guerra entre União e Estados, e entre o isolado número 1 e os governadores, extrapola a linha sanitária, política e educada e cai no jogo sujo das redes sociais. Os principais alvos são Mandetta, que ousa usar critérios técnicos e científicos para as pessoas não morrerem e não matarem, e João Doria, que não é visto como o governador que enfrenta a situação mais desesperadora, com metade dos contaminados e mortos, mas sim como adversário político.
Depois de guerras e tsunamis, chega a hora de contar mortos e feridos e avaliar a atuação dos líderes, generais e tropas, com base nos erros e acertos das estratégias, comandos e ações. O coronavírus será o divisor de águas nas eleições de 2022. O risco do isolado número 1 é ocupar o lugar do PT em 2018, com o eleitor aglutinando para qualquer um que não seja ele. A grande pergunta tende a ser: quem é capaz de derrotar essa ameaça à saúde, à vida e à Nação?
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