Na época, era médico residente, por isso não acompanhei nos detalhes a Copa
Parabéns aos profissionais de saúde. É necessário protegê-los durante o trabalho, para diluir as chances de eles e seus familiares se infectarem.
Não se desespere. Ainda é cedo para afrouxar o distanciamento social. Respire fundo e sonhe com o que deseja fazer após a epidemia.
Nos últimos dias, assisti às partidas da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1982, pelo Sportv. Na época, eu era médico residente no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Por isso, não acompanhei nos detalhes o Mundial e o time brasileiro. Vejo hoje que a equipe era ainda melhor do que eu achava.
Gosto mais de ver partidas do passado com a narração e os comentários feitos na época, mas as análises atuais de Paulo Vinicius Coelho durante a reprise da partida entre Brasil e União Soviética são tão ricas em informações que facilitam a compreensão do futebol do passado e do presente. O Sportv contratou um ótimo reforço.
Dunga disse, várias vezes, que não entende como a seleção de 1982, que perdeu, pode ser mais elogiada que a de 1994, que ganhou. Ele, com seu pragmatismo e utilitarismo, nunca vai entender.
Por outro lado, é preciso reconhecer que a seleção de 1994 foi excelente. Além de um excepcional sistema defensivo, com duas linhas compactas de quatro, o que, na época, era novidade no futebol brasileiro, a equipe tinha um cracaço, Romário, e ótimos jogadores em todas as posições.
A seleção de 1982, do meio para frente, era formada por sete craques, Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico, no meio, além do ponta Éder e dos dois laterais, Júnior e Leandro. Os três entravam pelo centro, para também armar as jogadas e participar da troca de passes. Júnior e Leandro atuavam de uma maneira parecida da de Rafinha e de Filipe Luís no Flamengo. Não havia pontas fixos.
Naquele período, havia, na televisão, um delicioso quadro humorístico de Jô Soares, em que o personagem Zé da Galera telefonava de um orelhão e pedia a Telê Santana: “Bota ponta, Telê”!
As seleções de 1970 e de 1982 tinham maneiras próprias de jogar. Não atuavam no esquema com dois volantes, três meias e um centroavante, como hoje gostam de dizer.
Em 1982, o esquema tático da seleção parecia uma roda no meio-campo, que não parava de girar, com todos se movimentando e ocupando posições e funções diferentes. O time brasileiro jogava uma bola redonda.
A maravilhosa seleção de 1982 gerou vários lugares comuns, inverdades e enganos. Falam que o time enfrentou a Itália para dar show, enquanto os italianos jogaram para vencer. Há várias maneiras de ganhar. Dizem ainda que a equipe, durante a partida, poderia ter recuado para garantir a vantagem do empate, que garantiria a classificação. Dois gols da Itália saíram de bolas paradas, quando o time brasileiro estava todo atrás. O outro gol saiu de um passe errado de Cerezo, na intermediária defensiva.
Depois do Mundial, cresceu a discussão, que vigora até hoje, sobre qual é a melhor estratégia para vencer, a de recuar, fechar os espaços e contra-atacar, ou a de pressionar e ter o domínio da bola, quando tiver de ser uma coisa ou outra. Falam ainda que grandes craques são, geralmente, individualistas e indisciplinados taticamente. É um grande equívoco.
Os grandes talentos, de qualquer área, são os que unem a criatividade e a fantasia com a técnica, a racionalidade e a participação coletiva. Sabem que precisam do outro para brilhar.
Tostão
Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.
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