Ministro palaciano que cuida da coordenação política do governo, o general Luiz Eduardo Ramos vive entre os dois mundos de Alice: o País das Maravilhas e o País do Espelho. Ele só não suporta viver no Brasil do coronavírus, que ultrapassará nesta quinta-feira a marca de 3 mil cadáveres.
O general está abespinhado com a imprensa. Acha que o noticiário traz "uma cobertura maciça dos fatos negativos." Está incomodado com o excesso de cadáveres e esquifes. "No jornal da manhã, é caixão, é corpo. Na hora do almoço, é caixão novamente, é corpo. No jornal da noite, é caixão e é corpo."
É preciso divulgar notícias positivas, encareceu o general. Coisa digna de Lewis Carroll e do País das Maravilhas criado por ele para sua personagem Alice. Nos telejornais do ministro Ramos, haveria um vácuo no qual a realidade deixaria de existir. Não restaria senão a fantasia.
No universo criativo de Carroll, Alice, depois de visitar o País das Maravilhas, decidiu atravessar o espelho de sua casa. Entrou no País do Espelho, onde enxergou tudo ao contrário do que realmente é. É nesse país que vive o general Ramos.
Atrás do espelho do Planalto, há um presidente que vê a pandemia como "gripezinha", trata isolamento social como uma inutilidade e finge não enxergar o monturo de corpos —"Eu não sou coveiro!", desconversa.
No Brasil maravilhoso idealizado pelo general Ramos, o noticiário refletiria a realidade invertida do país do espelho, onde brilha Bolsonaro. Quem ousasse mostrar o mundo real passaria por impatriótico. Beleza. Agora só falta descobrir uma maneira de esconder os caixões e os corpos.
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