Jair Bolsonaro parece decidido a promover uma cirurgia plástica na sua administração. Ele age não para embelezar o governo, mas para torná-lo mais feio. No momento, o presidente realiza dois movimentos inconciliáveis. Num, Bolsonaro acena com a hipótese de entregar cargos e cofres públicos a prontuários do centrão. Noutro, ele tosta o ex-juiz Sergio Moro, que virou ministro da Justiça graças à fama que obteve na Lava Jato mandando para a cadeia corruptos como os que estão aninhados no centrão.
Em conversa com Moro, Bolsonaro voltou a mencionar o seu desejo de arrancar do comando da Polícia Federal o braço direito do ministro, Maurício Valeixo. A conversa ocorreu apenas 48 horas depois de o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ter determinado a abertura de inquérito para apurar quem organizou e financiou a manifestação contra a democracia estrelada por Bolsonaro no último domingo. O caso será investigado pela PF. E o presidente prefere que o órgão seja dirigido por alguém da sua confiança, não de Moro.
O preferido de Bolsonaro para a chefia da PF chama-se Anderson Gustavo Torres. É delegado federal. Relaciona-se muito bem com o presidente. É amigo de dois de seus filhos, Eduardo e o investigado Flávio. Frequenta o gabinete de um dos ministros mais prestigiados do Planalto, o secretário-geral da Presidência Jorge Oliveira, um major da reserva da PM brasiliense, também amigo da família Bolsonaro.
Na conversa com Bolsonaro, Moro sinalizou que não cogita permanecer no governo se Valeixo for retirado da PF. No momento, os generais que compõem no Planalto a 'turma do deixa-disso' tentam demover Bolsonaro da ideia de demitir Valeixo. Mas a simples reiteração do desejo deixa claro que a caneta de Bolsonaro converteu-se numa espécie de bisturi biruta, capaz de transfigurar o governo.
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