Os ETs conseguem viajar no espaço, mas não são capazes de fermentar cevada
Sempre que ouço uma pessoa relatar a sua experiência de contato com formas de vida extraterrestre, o que me impressiona mais não é a confirmação da existência de alienígenas, é a frequência com que seres de outros planetas procuram a Terra para conviver com gente maluca e/ou bêbada.
Se um ser pertence a uma civilização que possui tecnologia suficientemente avançada para construir uma nave que lhe permite viajar durante milhares de anos-luz e depois escolhe abordar sobretudo as pessoas malucas e/ou bêbadas de outro planeta, talvez isso signifique que as pessoas malucas e/ou bêbadas detêm alguma espécie de sabedoria cósmica ou segredo especial.
Luiza Pannunzio/Folhapress
E, dada a conhecida obsessão dos extraterrestres pela introdução de sondas anais, fica também claro que essa sabedoria ou segredo se encontra na bunda das pessoas malucas e/ou bêbadas. Que a bunda dos malucos e/ou bêbados seja sistematicamente ignorada pelos cientistas terráqueos talvez explique o atraso tecnológico da humanidade. Enquanto não dedicarmos a essa área de estudos a atenção que ela merece, continuaremos a não ir muito mais longe do que a Lua.
No filme “E.T.: O Extraterrestre”, a componente de ficção científica está menos na visita de um ser de outro planeta e mais no fato de ele ter escolhido visitar uma família de classe média sem quaisquer elementos malucos e/ou bêbados, além de não manifestar qualquer interesse científico nas suas bundas. Isso e o fato de um extraterrestre que não é capaz de chegar às prateleiras de cima da geladeira conseguir construir uma sofisticada nave são os aspectos mais inverossímeis do filme.
No entanto, há um momento em que Spielberg revela o seu gênio. Quando o extraterrestre está sozinho em casa e de repente fica bêbado com apenas duas cervejas, torna-se evidente que não existe álcool no seu planeta.
Extraterrestres conseguem construir equipamento que lhes permite viajar no espaço, mas não são capazes de fermentar cevada nem destilar malte. O tempo que não gastam a beber, eles aplicam no desenvolvimento tecnológico. Mas sentem, e bem, que lhes falta qualquer coisa. O tipo de diversão que só o álcool proporciona. E então visitam-nos e estudam os nossos malucos e/ou bêbados, introduzindo sondas nas suas bundas. O que, curiosamente, é uma ideia típica de um bêbado.
Ricardo Araújo Pereira
Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.
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