O GLOBO - 14/07
A maior renovação já havida na Câmara Federal nos últimos 20 anos está na base não apenas da votação expressiva de aprovação da reforma da Previdência mas, sobretudo, do choque entre as direções partidárias de esquerda e os novos deputados eleitos sem compromissos com erros do passado.
Nada menos que 8 dos 27 deputados da bancada do PDT, e 11 dos 32 do PSB votaram a favor da reforma, e agora enfrentam possíveis punições, que podem ir até a expulsão. Esse embate, que tem na deputada Tabata Amaral o rosto mais visível, coloca com clareza a disputa entre a os genuínos novos políticos e a velha estrutura partidária, especialmente da esquerda brasileira, que vive momento de isolamento no debate nacional.
A crise partidária provocada pela rejeição aos políticos tradicionais fez com que surgissem diversos movimentos para formar novos candidatos. O “Agora”, que tem entre seus idealizadores o apresentador de televisão Luciano Huck, que chegou a ser cogitado como candidato à presidência da República, o “RenovarBR”, curso de liderança política organizado pelo empresario paulista Eduardo Mufarej, “Acredito” e “Rede de Ação Política pela Sustentabilidade” elegeram 36 deputados.
Outro movimento, o “Unidos contra a Corrupção”, que deu apoio a deputados que assinaram seu manifesto, viu 34 deles serem eleitos. Estes estão na base da aprovação, sem muitos cortes por enquanto, do pacote anticrime enviado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro.
A eleição de 2018 foi responsável por colocar em minoria, pela primeira vez nos últimos anos, os deputados que se reelegeram. Dos 513 deputados que tomaram posse, apenas 48,9% se reelegeram, quando a média histórica era de 54% a 58%. A renovação radical da representação tem um número definitivo: 91 candidatos, nada menos que 18% dos eleitos, nunca haviam disputado uma eleição antes, como Tabata, que tem 25 anos e é cientista politica formada pela universidade Harvard.
Também foi reduzido o número de políticos que já fizeram parte da Câmara em outras ocasiões, como o hoje deputado federal Aécio Neves, que foi eleito senador e agora voltou como deputado federal.
A representatividade na Câmara reflete a polarização contínua entre esquerda e direita. O maior numero de candidatos novos eleitos é do PSL, partido que tinha uma bancada minúscula antes de ser escolhido por Bolsonaro para ser a sigla pela qual concorreria à presidência da República.
Dos estreantes, 29 eleitos estão no partido de Bolsonaro, responsável por praticamente 1/3 da renovação total da Câmara. Nada menos que 27 partidos, dos 35 que têm representação na Câmara, elegeram pelo menos um deputado novato para esta legislatura.
Representando a continuidade que foi interrompida pela verdadeira revolução ocorrida com a eleição de Bolsonaro e a renovação radical da Câmara, PT reelegeu quase 70% de sua bancada, mantendo-se como a maior da Câmara. Mas insuficiente para ter atuação relevante nas discussões das reformas.
Um exemplo de como a esquerda perdeu o rumo da discussão política é o comentário de Ciro Gomes, que tentou ser o candidato da esquerda para opor-se a Bolsonaro na ausência de Lula e foi boicotado pelo próprio, que não queria concorrentes.
Disse ele a respeito dos dissidentes de seu partido, aos quais defende uma punição, pegando Tabata como representativa da rebelião, uma dos 8 deputados que votaram a favor da reforma, contra a orientação partidária: “Ela é nova, tempo tempo de errar e aprender”.
Pelo jeito, quem já teve tempo de errar e aprender, e não o fizeram, foram os partidos de esquerda que, derrotados esmagadoramente na votação da reforma da Previdência, ainda se utilizam da repressão para tratar com seus diferentes. Assim como o PT, anos atrás, expulsou os então deputados federais Bete Mendes e Airton Soares por terem votado em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, e Erundina Silva por ter aceitado fazer parte do ministério de transição de Itamar Franco.
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