sexta-feira, agosto 12, 2016

Falta de integração fragiliza política de segurança - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 12/08

Organismos policiais do país precisam desenvolver um protocolo de colaboração, efetiva e permanente, entre todas as instâncias envolvidas na guerra contra a criminalidade


No papel, o legado da Copa de 2014 no âmbito da guerra contra a criminalidade, ao menos nas cidades-sede, seria notável. Havia a expectativa de que, por exemplo, a criação de Centros Integrados de Comando e Controle impulsionasse políticas de contenção da violência. Mas, na prática, a parafernália montada para assegurar a paz nas capitais beneficiadas pelas instalações, durante e após o Mundial, equivale a modernos computadores rodando antediluvianos softwares. Protocolo e plataformas da segurança pública do país não se conectam.

A máquina da segurança pública brasileira supostamente se aperfeiçoa, mas a operação desse organismo permanece desconectada da realidade. Episódios recentes, de ações de criminosos, ocorridos em regiões distantes geograficamente, são exemplos de que a guerra contra as quadrilhas do crime organizado se trava em condições distintas. Enquanto as facções, mesmo quando rivalizam entre si, mostram uma inequívoca comunhão de práticas, entre os organismos legais prevalece uma falta de integração que os fragiliza estruturalmente e desprotege a sociedade.

Os ataques de bandidos a ônibus em Natal obedecem à mesma tática terrorista já colocada em prática no Rio, em São Paulo, Florianópolis e outras capitais. Da mesma forma, tais atentados obedecem a uma estrutura de comando instalada em presídios. Quando asfixiados numa determinada região, os criminosos migram para áreas menos protegidas.

Por sua vez, a estrutura policial do Brasil segue adotando uma política de ações estanques. É impossível a polícia do Rio combater com eficiência o poder do tráfico de drogas nas favelas, ou cada estado fazer frente a demandas próprias sem que iniciativas que transcendem suas jurisdições sejam tomadas na fonte onde se desenrolam ações que os impactam.

O exemplo mais visível dessa desconexão é o tíbio controle de fronteiras, responsabilidade da União. O Brasil tem 27% de seu território delineados por divisas internacionais. É principalmente por esse imenso queijo suíço que chegam armas e drogas para abastecer quadrilhas do crime organizado que estão por trás da violência. Essa é uma questão antiga, mas jamais enfrentada com suficientes vontade política e eficiência.

Integrar o organismo de segurança do país constou do programa do primeiro governo Lula, mas interesses políticos desidrataram a ideia. A gravidade dessa leniência se traduz, por exemplo, em alertas como o do secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, que externou ao GLOBO a preocupação de que o recente assassinato de um traficante brasileiro no Paraguai abra caminho para se abastecer o arsenal dos bandidos fluminenses com armas ainda mais pesadas. A inépcia dos controles fronteiriços lhe dá razão.

O Rio recebe agora mais um investimento maciço em homens e armas para a Olimpíada. É preciso assegurar que desta vez esse hardware rode programas compatíveis com as necessidades.

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