Para evitar o impeachment de Dilma no Senado, o ex-presidente resolveu retomar a estratégia usada com os deputados em abril. O país espera que, como daquela vez, o feirão seja um fiasco
O feirão montado por Lula em um hotel de Brasília, pouco antes que a admissibilidade do processo de impeachment de Dilma Rousseff fosse votada na Câmara, em abril, foi um fracasso retumbante. A oferta de cargos e liberação de emendas falhou, e Dilma perdeu feio: ela precisava de pouco mais de 170 deputados, entre votos “não”, ausências e abstenções, mas conseguiu apenas 146. Isso não impediu o ex-presidente de viajar para Brasília, dias atrás, para reabrir seu balcão de negociatas, agora buscando conquistar os senadores que votarão, provavelmente em agosto, a cassação definitiva da presidente afastada.
O cálculo de Lula é simples: ele precisa de 28 senadores (ou 27, caso o presidente da casa não vote) para salvar o pescoço de Dilma. PT, PCdoB, Rede e PDT somam 16 parlamentares – é verdade que alguns deles votaram pelo afastamento da presidente, como o pedetista Acir Gurgacz, de Rondônia, mas ele não adiantou seu voto a respeito da cassação. Dilma conta também com aliados convictos em outros partidos, como PTB, PSB e PMDB – coube ao peemedebista paranaense Roberto Requião oferecer jantares a colegas, com a presença de Lula. Ou seja, não seria preciso convencer muitos senadores indecisos para atingir o número mágico. E, assim como na Câmara, ausências e abstenções de senadores também contam a favor de Dilma.
O que Lula ofereceu aos senadores? Em primeiro lugar, ele quer convencê-los de que Dilma, devolvida ao Planalto, seguirá adiante com a ideia de um plebiscito para que a população decida se deseja uma nova eleição presidencial – um casuísmo oportunista que, sob o pretexto de encerrar a crise política, abala a segurança jurídica e ignora as possibilidades já previstas pela lei para que se realize um novo pleito, uma das quais ainda está na mesa: a possível cassação, ainda em 2016, da chapa Dilma-Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral, por crime eleitoral. Para alguns senadores com ambições nas eleições municipais de outubro, seja como candidatos eles mesmos, seja por meio de algum apadrinhado, Lula ainda prometeu o seu apoio – o que, nos dias que correm, não necessariamente representa uma vantagem.
Mas não é apenas isso: Lula quis mostrar aos senadores que, se o PT voltar à Presidência da República, vai abandonar os esforços pela austeridade fiscal e retomar a “nova matriz econômica” baseada na gastança desenfreada e populista que levou o país à recessão e ao desemprego. É a mesma tese que estará presente na tal carta que Dilma, Lula e o PT andam elaborando para divulgar em breve. Mas, desta vez, o ex-presidente quis assegurar aos senadores que o comando, na prática, estará com ele, que tem mais jogo de cintura para lidar com o Congresso, ao contrário de Dilma. Em outras palavras, quem tem repetido aos quatro ventos o discurso de “golpe” está tramando para que o comando de facto do Brasil esteja nas mãos de quem não recebeu voto nenhum em 2014 (ao contrário de Temer, eleito na mesma chapa que teve 54 milhões de votos).
Requião já vem cantando vitória no Twitter, garantindo que Dilma tem os 28 votos necessários para ser absolvida e voltar a governar. Era o mesmo tipo de confiança que os petistas demonstravam pouco antes da votação na Câmara – e o resultado final todos sabemos qual foi. De fato, o que o Brasil espera agora, quando a votação definitiva se aproxima, é que o balcão de negócios do ex-presidente repita o fiasco de abril.
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