FOLHA DE SP - 09/07
RIO DE JANEIRO - Outro dia, um amigo me acusou de estar sempre de pé atrás com o rock. Respondi que não, que gosto de Frank Zappa, The Doors, Steely Dan, Manfred Mann, Talking Heads, o Police e outros, e de pioneiros dos anos 50, como Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, Buddy Holly. Por acaso, todos extintos, aposentados ou mortos —mas, para mim, vivos quando os ponho para tocar. Para estes e mais alguns, estou sempre de pé à frente.
E então me dei conta de que só se fica de pé atrás, nunca de pé à frente. Estas e outras expressões que usamos sem pensar podem ter se tornado uma segunda natureza para muitos de nós, mas, se um menor de 30 anos perguntar o que significam, duvido que saibamos responder. Responder na lata, por exemplo —que lata é essa? E se eu cometer o suicídio de dizer que Mick Jagger é um cantor de meia-tigela? Significa que se eu o achasse de tigela inteira estaria tudo bem?
Algumas expressões deixaram de existir porque sua função desapareceu. No passado, chamar alguém de orador de sobremesa era um insulto. Hoje não quer dizer nada —alguém ainda se levanta ao fim de um banquete, pede a palavra e comete um discurso? E o que será algo não valer 10 mil réis de mel coado? Pelo visto, era como não valer nada. Mas tente coar hoje qualquer quantidade de mel para ver quanto lhe custa.
Quando se diz que fulano é isso ou aquilo do papo amarelo, pode-se concordar ou não com o isso ou aquilo, mas ninguém pergunta o porquê do papo amarelo. E, em nosso tempo, o que significa passar a pão e laranja? Até há pouco, queria dizer estar na pior. Hoje, com a laranja pela hora da morte, qual pobre pode se dar a esse luxo? Pensando bem, o que tem a hora da morte a ver com o preço das coisas?
Podemos pensar que dominamos a língua, mas, às vezes, é ela que fala por nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário