O Estado de S. Paulo - 29/03
O estrago imposto à economia brasileira pela gestão petista vai muito além da maior recessão dos últimos 25 anos, da devastação da Petrobrás, do enorme desarranjo das contas públicas e da inflação ainda elevada. Em algum momento – ninguém sabe quando – o fundo do poço será atingido e os negócios voltarão a movimentar-se. Haverá algum aumento da atividade pela mera ocupação da capacidade ociosa. Trabalhadores deverão acionar máquinas e equipamentos hoje desligados. Aos poucos, vagas serão abertas. Mas qual será o ritmo de expansão, quando a ociosidade estiver eliminada, ou quase? Será muito baixo, porque o País perdeu produtividade e potencial de crescimento. Neste ano, como informou oEstado, o governo federal só terá dinheiro para manutenção de rodovias até agosto. O problema é bem mais amplo, mas esse dado já é um bom indicador dos obstáculos.
O Brasil depende em excesso do transporte rodoviário de cargas e isso é uma desvantagem quando se consideram os padrões internacionais. Além de muito caro, esse transporte já funciona mal, por deficiências da malha de estradas. Mas o quadro deve piorar, porque nem os serviços de reparos estão garantidos.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) foi autorizado a gastar R$ 6,5 bilhões neste ano, mas destinou R$ 2,7 bilhões à liquidação de contas em atraso. O resto, R$ 3,8 bilhões, daria para manutenção, mas o governo terá de aplicar R$ 1,5 bilhão em obras indicadas por emendas de parlamentares.
Somam-se aí vários problemas. A acumulação de atrasos de pagamentos é um forte indício de má gestão. Em segundo lugar, o processo orçamentário é ineficiente, com baixa coordenação de prioridades. Em terceiro, pode-se perguntar se os problemas de financiamento seriam tão grandes, se o governo tivesse cuidado com mais interesse e maior competência das concessões de rodovias e de outras modalidades de transporte.
O governo já havia paralisado outras obras de pavimentação e de duplicação de estradas. Esses investimentos seriam necessários para ampliar a capacidade do sistema. Como faltam recursos até para a manutenção da rede, a consequência só pode ser uma redução da capacidade de transporte rodoviário. Isso representa aumento de custos e perda de eficiência e de poder de competição internacional.
Mas a redução do potencial de crescimento resulta de um conjunto mais amplo de problemas. Economistas costumam apontar as dificuldades do cálculo do produto potencial, mas, ainda assim, o conceito é importante. A noção de produto potencial indica até onde pode avançar a atividade sem maiores desajustes inflacionários e sem desequilíbrio das contas externas.
Há anos o Fundo Monetário Internacional (FMI) vem alertando para a perda de potencial de crescimento da economia brasileira. Há uns três anos seus economistas estimavam uma capacidade de expansão de até 2,5%. As avaliações pioraram a partir daí, mas o governo brasileiro nunca deu indício de levar a sério as advertências. Novos cálculos apontam mais enfraquecimento. Segundo economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) citado pelo Globo, o potencial brasileiro chegou a 1,59% em 2014 e a 0,90% no ano passado.
Especialistas poderão discutir essas outras estimativas, mas será difícil de menosprezar alguns dados. O investimento em máquinas, equipamentos e construções vem caindo há anos e é muito inferior aos padrões observados em economias da Ásia e da América Latina. Além disso, parte do capital aplicado nesses investimentos tem sido desperdiçada pelo uso ineficiente e também pela corrupção (vejam-se os escândalos apontados pela Operação Lava Jato). Como complemento é preciso levar em conta a baixa produtividade da mão de obra, atribuível em parte às más políticas educacionais, e o escasso investimento em tecnologia de produtos e de processos. Esses dados compõem parte importante do balanço da gestão petista.
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