Na política, poucas forças são tão decisivas quanto a atração exercida pela perspectiva de poder –e poucos partidos terão se revelado tão sensíveis a ela quanto o PMDB.
Governista por excelência, a legenda deve sacramentar nesta terça (29) a decisão de romper seu contrato com o PT e abandonar os cargos que ocupa na esfera federal. A hipótese não é inédita; em muitas outras ocasiões o PMDB aventou essa possibilidade, mas se tratava apenas de estratégia para abocanhar nacos maiores do Orçamento.
Desta vez, como se sabe, há em jogo muito mais que uma reles ameaça. Ninguém imagina que, após tanto alarde nos últimos dias, a sigla do vice-presidente Michel Temer venha a tomar uma atitude que não seja o desembarque.
Pior para a presidente Dilma Rousseff (PT), deve configurar-se uma talvez inédita unanimidade numa agremiação historicamente conhecida pelas divisões internas. A perspectiva de poder não deixou incólumes aqueles que mantinham laços com o Palácio do Planalto.
Que esse seja o cenário, e que o próprio governo Dilma trabalhe com ele, dá uma ideia precisa de quanto o PMDB considera provável o impeachment da presidente. O partido jamais arriscaria todas as suas fichas se não se julgasse franco favorito na aposta.
Também pudera. Articulado por Temer –ironicamente, o único peemedebista que não entregará seu cargo–, o rompimento por aclamação produzirá consequências em diversas outras agremiações.
Está à vista de todos o que aliados de Dilma têm chamado de "efeito manada".
Legendas como PP, PR e PSD dificilmente resistirão à atração que o PMDB passará a exercer. Juntas, elas somam 121 deputados federais, número suficiente para fazer a diferença na votação do impeachment.
Contam-se hoje 152 deputados favoráveis ao afastamento da presidente. Acrescidos de 69 peemedebistas e de 121 daquela trinca partidária, montam a 342, exatamente o mínimo necessário para aprovar o processo na Câmara e enviá-lo para apreciação do Senado. Isso, bem entendido, se todos dessas siglas atuarem em uníssono.
A fim de barrar tal unidade, o Planalto usará contra o PMDB os cargos que este deixará vagos. Seriam quase 500 postos à disposição para futuras negociações com o governo petista –caso este sobreviva ao impeachment, naturalmente.
Em 1992, o presidente Fernando Collor, então no PRN, adotou a mesma estratégia dias antes de o plenário da Câmara tomar sua decisão. A história é conhecida.
Pouco importa quem segura a caneta hoje; para a maioria dos deputados, interessa apenas quem poderá assinar decretos amanhã. O PMDB tem certeza de que ela não estará nas mãos de Dilma Rousseff.
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