O ESTADO DE S. PAULO - 25/10
O ex-presidente Lula e o PT querem derrubar o ministro Joaquim Levy e mudar a politica econômica para um modelo que contemple expansão do crédito, estímulo ao consumo e aumento de gastos públicos. Justamente o que prevaleceu no último mandato de Lula e no primeiro de Dilma Rousseff foi responsável pela dramática situação que vivem hoje os brasileiros: recessão econômica, aumento do desemprego, queda dos salários, inflação elevada, paralisia nos investimentos, serviços públicos em decadência, programas sociais suspensos. E vai por aí. A presidente Dilma resiste e, até agora, mantém seu ministro da Fazenda. Até quando?
Lula, porém,costuma dar suas escorregadas e aí cai em contradição. Na quarta-feira, em discurso em Teresina, advertiu que "o País quebra'' se não cortar gastos públicos. "Isto a gente faz na casa da gente. Gastou um pouco demais? Perdeu a conta? Tem de brecar. Ou faz isso ou quebra de vez", ensinou. Justamente o que eles fizeram: gastaram em excesso, perderam o controle, o dinheiro acabou e aumentaram a dívida pública. Lula só não revelou o que acrescentar em cortes além daqueles já feitos pela equipe de Dilma. Seria cortar na Previdência? Os programas sociais ainda não suspensos? O Bolsa Família, por exemplo? Lula não detalhou.
Ele e o PT não têm a dimensão de governantes competentes que decidem de olho no futuro (muito menos nas futuras gerações). Importa o presente, importa não perder popularidade. E, se o ministro da Fazenda um liberal que socorreu Dilma para recuperar credibilidade e corrigir seus erros concebe um ajuste fiscal com medidas impopulares, ele corre a Brasília e tenta subtrair poder da presidente, demitindo o ministro e substituindo-o por outro capaz de dar um rumo populista à economia, mesmo que a experiência seja fugaz e dure pouco.
Quando assumiu o governo, em 2003, Lula agiu diferente. Ali ele sabia que, sem um choque de gestão responsável, não ganharia a confiança de empresário de investidores e tampouco recolocaria a economia nos trilhos na direção do crescimento. No ano anterior, a economia havia sido abalada pelo fenômeno conhecido como "pânico Lula": a inflação, o câmbio e o risco Brasil subiram pelos ares e ameaçavam o Plano Real. Ao assumir o poder, ele deu a resposta: aplicou um forte e bem-sucedido ajuste fiscal, recuperou confiança e seguiu em frente. Agora, ele e o PT parecem ignorar a enrascada em que encalacraram o Brasil.
Em 2015, Levy chegou disposto a mudar o jogo. Começou prometendo um superávit primário de 1,1% do PIB, em julho baixou para 0,15% e, agora, já reconhece que as contas vão fechar no vermelhão. Em 2014 o déficit primário já havia somado R$ 32,5 bilhões e seria o dobro se Dilma não recorresse à fraude das pedaladas fiscais, proibidas por lei e condenadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Faltando dois meses para acabar o ano, o cenário econômico só tem piorado: o desemprego cresce, a atividade econômica desaba, a inflação beira dois dígitos, o salário cai e programas sociais são suspensos.
E não há no horizonte indicações de melhora em futuro próximo. O governo enviou ao Congresso proposta orçamentária para 2016 com déficit de R$ 30,5 bilhões (0,5%do PIB),sem incluir R$ 40 bilhões das pedaladas (dívidas atrasadas da União com os bancos públicos), que o governo pretendia pagar deforma parcelada e que o TCU já sinalizou que terá de será vista. Com isso, o buraco vai a quase RS 80 bilhões. Ou mais, já que as premissas do Orçamento estão defasadas e erradas: a inflação foi estimada em 54% (o boletim Focus, do Banco Central, prevê 6,12%); e o PIB cresce 04% do PIB (para o Focus, cai 1,22%). Se a economia vai mal e pode piorar, o que dizer da mais grave crise política vivida pelo País nestes 30 anos pós-ditadura militar?
Esse é o tamanho da enrascada que o Brasil precisa enfrentar nos próximos anos. Com ou sem impeachment, com ou sem Dilma Rousseff, os brasileiros vão pagar pela inconsequência de governantes que não sabem planejar, governar e aplicar o dinheiro público com respeito à população.
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