O ESTADÃO - 04/02
Já se sabia que tinha sido ruim. Foi pior. Se não foi um desastre, o desempenho da indústria em 2014 ficou muito perto disso.
Em dezembro, a produção do setor caiu 2,8% em relação à de novembro, que já tinha sido de queda. Em todo o ano, recuou 3,2%. (Veja o gráfico abaixo.) O resultado deve derrubar ainda mais o PIB do quarto trimestre de 2014, a ser divulgado dia 27 de março.
Este ano de 2015 começa com embalo negativo (carry over) de 4,1%, num quadro de muita força contrária, como adiante se verá. As projeções do mercado para a produção industrial, tal como levantadas semanalmente pelo Banco Central por meio da Pesquisa Focus, parecem otimistas demais: avanço, neste ano, de 0,5%.
Esse desempenho lamentável é consequência do desastre maior, que foi a política econômica (e industrial) do governo anterior. Não serviu para muita coisa a tal desoneração tributária que, só em 2014, levou mais de R$ 100 bilhões do Tesouro. Não adiantaram os quase R$ 400 bilhões em créditos a juros favorecidos do BNDES para os amigos e futuros campeões. Não adiantou a política de reserva de mercado, a título de obrigatoriedade de conteúdo nacional, aos fornecedores da Petrobrás. Também não ajudaram as reduções tributárias na venda de veículos, de aparelhos domésticos e de materiais de construção.
Por trás de tudo está o que a presidente Dilma já vem reclamando: a baixa competitividade do setor. Falta reconhecer que essa situação é consequência da política experimentalista equivocada adotada nos anos anteriores, a mesma que criou demanda interna sem contrapartida no aumento da oferta. Essa demanda interna foi entregue de mão beijada para a indústria do exterior, que supriu o mercado interno por incapacidade competitiva da indústria nacional.
O principal equívoco do primeiro período Dilma foi achar que poderia resgatar a indústria com uma política à base de puxadinhos, sem cuidar, primeiro, dos fundamentos da economia. É a principal razão pela qual também não adianta criar programas de reequipamento e modernização industrial, como pleiteia a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), sem antes afastar as incertezas que estão aí. As contas públicas estão em frangalhos e o risco de que os títulos do Brasil sejam rebaixados ao grau especulativo continua alto.
Como o empresário vai investir se não sabe se vai ter energia elétrica e água tratada para tocar seu negócio? O investimento em serviços públicos também corre risco na medida em que a Operação Lava Jato poderá manter alijadas do mercado as principais empreiteiras do País. Se o governo não sabe como tratar os rombos da Petrobrás, como evitará o desmonte de milhares de fornecedores?
Afora isso, é inevitável que o ajuste das contas públicas provocará certa retração da demanda. E as próprias condições do crédito já não favorecem a expansão do consumo. Ainda ontem, o banqueiro Roberto Setubal (Grupo Itaú) avisou que o estatuto da reserva de domínio já não é garantia suficiente para financiamentos destinados à compra de veículos, dada a forte queda de preços do produto, mesmo com pouco tempo de uso.
Dias mais difíceis virão.
CONFIRA:
O desempenho do setor industrial de bens de capital (máquinas e equipamentos) é ainda mais preocupante do que o do resto da indústria porque reflete a baixa disposição de investir.
Mola
No fundo do poço tem mola, como dizem por aí. Foi o que aconteceu nesta terça-feira com as cotações das ações da Petrobrás. Alta de 15,47% das preferenciais e de 14,24% das ordinárias. O esticão aconteceu apesar do rebaixamento dos títulos pela Fitch, agência de classificação de risco. Reflete a expectativa de que o governo vai trocar a diretoria da empresa.
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