CORREIO BRAZILIENSE - 13/12
Passa da hora de o governo dar uma resposta firme e convincente à sociedade e aos mercados à crise da Petrobras. Patrimônio dos brasileiros, já que a maioria de seu capital é estatal, a empresa vem perdendo valor e reputação, enquanto seu controlador faz de conta que nada tem a ver com o que se passa nas contas e na gestão da companhia.
Nem a acentuada queda nos preços internacionais do petróleo nas últimas semanas tem provocado mais danos à Petrobras do que as denúncias de malfeitos praticados graças ao aparelhamento da companhia por executivos indicados por políticos aliados do governo.
Ontem, os acionistas da empresa fecharam mais uma semana de decepções. As ações preferenciais da companhia (as mais populares) despencaram mais uma vez, registrando queda acima de 5% em poucas horas de pregão. Motivos não faltaram. Uma ex-gerente da empresa revelou ao jornal Valor Econômico que, muito antes de a Polícia Federal deslanchar a Operação Lava-Jato, que apurou a ação do doleiro Alberto Youssef, do Paraná, acusado de lavar dinheiro desviado por diretores da Petrobras, já teria notificado irregularidades à diretoria e à presidente da companhia, Graça Foster.
Venina Velosa da Fonseca, ex-gerente executiva da Diretoria de Refino e Abastecimento (setor comandado por Paulo Roberto Costa, um dos que fizeram a delação premiada), teria denunciado contratações irregulares e pagamentos por serviços não prestados na área de comunicação daquela diretoria. Ainda ontem,a direção da empresa emitiu nota afirmando ter apurado as denúncias e demitido o gerente de comunicação da área.
Procedente ou não, mais esse caso - que terá de ser apurado pela Polícia Federal e Ministério Público Federal (MPF) - serviu para aumentar a sangria que, na véspera, tinha ocorrido com a apresentação da denúncia formal à Justiça pelo MPF de 36 pessoas envolvidas em um esquema de desvio de grande quantidade de dinheiro da Petrobras, entre 2004 e 2014.
São altos executivos de seis das maiores empreiteiras do país, além do doleiro Youssef, do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e de nove outros operadores financeiros do esquema. Eles vão responder a processo na Justiça por corrupção, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro. O MPF pediu ainda que eles sejam condenados a devolver R$ 1 bilhão aos cofres públicos.
Como essa foi apenas a primeira etapa das apurações e das denúncias, virá agora o envolvimento de políticos e partidos, que teriam se beneficiado com o dinheiro desviado. E ninguém pode garantir que novas delações de funcionários, como a de Venina, não surgirão.
Na preservação da integridade patrimonial da Petrobras, que - é bom que se reforce - não pertence ao governo ou a qualquer partido, mas ao povo brasileiro, não há razão que justifique a manutenção do comando da empresa, alvo da desconfiança do mercado e da população. Urge reconhecer que não há, a esta altura, cura para tamanho descrédito. Cabe à presidente Dilma afastá-lo, sinalizando que realmente pretende ver tudo passado a limpo na Petrobras.
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