O ESTADÃO - 13/12
Mesmo quando admite e avisa que a inflação vai aumentar nos próximos meses, o Banco Central (BC) não consegue passar firmeza nem sobre seu diagnóstico nem sobre a eficácia de sua atuação.
Já sabemos que há uma carga enorme de correção de preços a ser transferida para a inflação. Há os reajustes já previstos da energia elétrica e dos demais preços controlados pelo governo (preços administrados) e há a estocada do câmbio, que vai puxando para cima em reais os preços dos produtos importados e as dívidas em moeda estrangeira. Mas, já aí, a percepção formada é a de que o BC não faz uma avaliação adequada das pressões que estão se acumulando na caldeira.
Todos os dias aparecem esqueletos novos na área dos preços administrados, como essa dívida de R$ 9 bilhões que a Eletrobrás contraiu com a Petrobrás pelo suprimento de combustíveis para suas termoelétricas, que deverá ser transformada em títulos com garantia do Tesouro a serem colocados no mercado. Essa é nova descarga de custos sobre as tarifas de energia elétrica não admitida antes pelo governo e com que a autoridade monetária não contava.
O câmbio é outra variável sobre a qual o BC não diz o suficiente. A atual política de oferta de swaps no mercado futuro de dólares deverá terminar no fim deste mês. O presidente do BC adiantou que o estoque de recursos envolvidos nessas operações já é adequado para as necessidades de hedge (defesa) do mercado financeiro. Mas até o momento foi incapaz de dizer o que acontecerá após a virada do ano, numa conjuntura de acumulação de incertezas, em que o governo Dilma vai sendo esmerilhado por um escândalo atrás do outro, fator que, em princípio, aumenta a procura de moeda estrangeira.
Mesmo admitindo que a inflação ainda vai disparar, a única resposta da política monetária é a tal “parcimônia”. Confia agora o Banco Central em que a política fiscal (controle das contas públicas) fará a sua parte.
E aí há outra fonte de incongruências. Até o momento, a autoridade monetária alardeava não precisar de uma política fiscal mais consistente porque “o balanço do setor público convergia para a neutralidade”, como foi repetido ad nauseamnos documentos oficiais desde agosto de 2013. No caso, convergir para a neutralidade quer dizer que está próximo o dia em que a administração das contas públicas não provocará inflação. E, no entanto, de lá para cá, a situação das contas públicas se deteriorou.
O BC começou a trabalhar com o pressuposto de que o governo entregaria um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) de 3,1% do PIB. Depois que esse superávit foi desmilinguindo, trocou o conceito para “superávit estrutural”. No momento, não há mais superávit porque se transformou em déficit (seria estrutural?) e, no entanto, em todo esse tempo, não importando os enormes solavancos da situação fiscal, para o BC continua o “balanço do setor público a se deslocar para a zona de neutralidade”. Quem acreditar que conte outra.
Essa falta de consistência entre discurso e ação expõe um comportamento autista do BC. É uma situação corrosiva para outra função essencial da autoridade monetária em um regime de metas de inflação, que é a de conduzir as expectativas dos agentes econômicos. Veja, ainda, o Confira.
CONFIRA:
Nesta sexta-feira, as cotações do petróleo do tipo WTI, negociado em Nova York, chegaram a US$ 57,81 por barril.
‘O que for necessário’
Talvez para compensar a falta de energia da última Ata do Copom, quinta-feira, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que “fará o que for necessário para viabilizar um cenário de inflação mais benigno no período de 2015-2016”. O que for necessário lembra a expressão da famosa ‘Carta ao Povo Brasileiro’, do presidente Lula, que se comprometeu a fazer o superávit primário necessário para reequilibrar as contas públicas.
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