GAZETA DO POVO - PR - 03/11
Numa conversa recente com um competente e articulado ministro, não pudemos deixar de comentar as medidas que o governo da Colômbia adotou para eliminar de forma sistemática toda a burocracia envolvendo investimentos e negócios em seu país. Foram definidos, classificados e estabelecidos os entraves que impediam o trânsito mais fluente da economia colombiana – e todos foram enfrentados com uma coragem que, política e institucionalmente, é de dar muita inveja. Ainda mais no Brasil.
Afinal, ninguém precisa mencionar exemplos que são quase folclóricos de tudo que dificulta tão desnecessariamente a vida de qualquer empresário ou investidor no Brasil. Na verdade, nossa inflação (que preocupa cada vez mais), nossa dívida pública (que se torna também cada vez mais igualmente inquietante) e todos os outros problemas econômicos e burocráticos que impedem nosso desenvolvimento deveriam ser enfrentados não só com a abrangência, mas principalmente com a coragem com que foram enfrentados pela Colômbia. Da nossa coragem depende nosso futuro.
Num relatório tão valioso quanto completo, o Instituto Global McKinsey relacionou três grandes eventos que vêm projetando reconhecidamente o Brasil no panorama mundial: além da recente Copa do Mundo e da futura Olimpíada de 2016, o instituto cita nossas recentes conquistas de estabilidade econômica e democrática e a diminuição da taxa de pobreza, reduzida pela metade, desde 2003.
Mas os elogios às nossas conquistas não passam, na verdade, dos primeiros parágrafos de seu relatório intitulado “Conectando o Brasil ao mundo: um caminho para o crescimento inclusivo” (em tradução livre), de 104 páginas. O relatório se inicia com uma série de números que, para qualquer empresário brasileiro, devem soar como justificativas incômodas para explicar muito bem todos os nossos problemas. Vale a pena relembrar: o Brasil é a sétima economia mundial em termos de seu Produto Interno Bruto, mas a 95.ª em PIB per capita; em termos de qualidade de sua infraestrutura, o país foi classificado em 114.º lugar pelo Fórum Econômico Mundial e em 124.º por sua facilidade de negociar externamente pelo Banco Mundial. A última avaliação parece ser complementada por uma porcentagem também preciosa para qualquer empresário no Brasil: a de que, com maiores e mais sólidas conexões globais, o PIB poderia crescer potencialmente pelo menos 1,25 ponto porcentual em sua taxa anual.
E, por falar em taxas, venho insistindo mais vezes do que gostaria em relembrar que o ritmo de nosso desenvolvimento vem se arrastando com uma lentidão escandalosa pelo menos desde 2012, com uma taxa de ineficiência que só é superada pelo valor das taxas de nossos tributos. O Instituto McKinsey é claro: “o crescimento da produtividade, que é a chave para se elevar salários e padrões de vida”, afirma seu relatório, “será a chave para fortalecer a classe média”.
Nas análises de nossos melhores economistas, sociólogos e mesmo teóricos do direito e da política (como o professor Mangabeira Unger), é mais que notório o papel crucial desempenhado pela classe média no arranjo tático de nossos possíveis avanços estruturais. Mas existe muito mais em jogo.
O Brasil caminha para um xeque que, se não for mate, será suficientemente grave para colocar todas as nossas peças num alvoroçado alerta. Está na hora de fazer soar esse alarme com a urgência que merece. Um alerta que a Colômbia, mais que reconhecer, soube colocar gloriosamente em prática.
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