O GLOBO - 28/08
A entrada em cena da candidata Marina Silva com ares de favorita tornou a campanha eleitoral mais aberta e franca por parte dela e do candidato do PSDB Aécio Neves. É natural, os dois disputam o mesmo espaço, isto é, a possibilidade de derrotar a presidente Dilma no segundo turno. O próprio Eduardo Campos achava que quem fosse ao segundo contra a presidente venceria as eleições, diante do clamor da sociedade por mudança.
Chegou até mesmo a imaginar um segundo turno entre PSB e PSDB, candidatos de perfis semelhantes que chegaram a vislumbrar uma parceria. Cenário que ficou impossível com a chegada em cena de Marina Silva, uma oposicionista de outro calibre, que exasperou a disputa. Aécio foi o mais atingido pelo surgimento de uma candidatura nova na área da oposição, pois está tendo que mudar o ritmo de sua campanha em plena corrida. Com Campos na disputa, teria tempo para apresentar-se ao eleitor, pois o adversário também teria que se apresentar.
Agora, ao mesmo tempo em que se torna mais conhecido, vai subindo o tom para entrar na disputa com uma candidata que foi poupada em toda a primeira parte da campanha e chegou a ela já com índices vigorosos. A presidente Dilma não pode fazer mais do que tentar convencer o eleitor de que o país não está tão ruim quanto seus adversários dizem. O problema dela, e por isso tem tido um sucesso relativo, é que os eleitores-espectadores sabem o dia a dia que vivem, e não é um filmete publicitário que mudará suas opiniões.
Uma bela sacada de Aécio foi dizer que o sonho de todo brasileiro é viver no mundo virtual da propaganda de Dilma, que é muito melhor do que o mundo real. Tanto é assim que a avaliação de seu governo melhora na margem e não se reflete no número final da votação, que está em queda.
Marina, por sua vez, já entrou no debate da TV Bandeirantes muito mais assertiva do que sempre foi, para enfrentar as tentativas de desqualificação a que será submetida nesses pouco mais de 30 dias de campanha. Terá que esclarecer posições, assumir compromissos e mostrar-se agregadora, que não é exatamente seu perfil de ação pública até agora. A seu favor, poderá dizer que teve de enfrentar interesses encastelados tanto no governo petista quanto nos partidos em que já esteve, e por isso teve atritos.
Aécio está acelerando a apresentação de seu projeto e a explicitação de seus programas, para ganhar crédito como o candidato da mudança segura, como está se apresentando. Desse ponto de vista, anunciar formalmente que o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga será o comandante de sua equipe econômica, ou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é e será seu grande conselheiro, é uma maneira de marcar posição contra Marina, que classifica como uma amadora .
O que atrapalha sua campanha é a ineficiência até agora dos acordos regionais que montou, seu grande trunfo como articulador político. Para quem pretendia sair de São Paulo e Minas com cerca de 5 milhões de votos na frente da presidente Dilma, os resultados até agora são decepcionantes, muito pelo surgimento da opção Marina Silva.
Em SP, Marina está à frente, e Dilma em segundo, mesmo com o PT levando uma surra para governador e senador, o que sugere que a máquina tucana não se move a favor de Aécio. Uma vingança silenciosa pelas campanhas anteriores em Minas não é de se descartar.
Em MG, seu território político, o candidato do PT está à frente na disputa para governador e Aécio aparece quase empatado com Dilma na preferência do eleitorado. Marina reafirma a boa votação que teve em 2010 no Estado, com cerca de 20% das preferências.
No nordeste, onde pretendia reduzir a diferença a favor de Dilma, o candidato do PSDB não está tendo sucesso até mesmo nos Estados onde as dissidências da base aliada teoricamente estariam a seu lado. Na Bahia, Dilma está bem à frente, seguida por Marina. Em Pernambuco, Marina Silva absorveu a força política de Eduardo Campos e está liderando a disputa, seguida da presidente Dilma. No DF, aonde Aécio chegou a liderar, Marina tomou a frente. No Rio de Janeiro, primeiro grande estado em que a dissidência do PMDB surgiu em seu apoio, Dilma lidera com folga, seguida de Marina, relegando-o a um terceiro lugar.
Os dias de setembro dirão se esta é uma situação mutável ou se o quadro está cristalizado fora da polarização PT-PSDB, que prevalece há 20 anos.
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