O GLOBO - 24/07
O governo tem motivos de sobra para comemorar a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de isentar o Conselho de Administração da Petrobras - e, por conseguinte, a presidente Dilma Rousseff, que, na qualidade de ministra-chefe da Casa Civil, o presidia - da responsabilidade pelos prejuízos que denunciou na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Agindo assim, o relator do TCU, ministro José Jorge, assumiu a versão da própria presidente, que admitiu que, se tivesse todas as informações a seu dispor, não autorizaria a compra, que se mostrou um negócio desastroso para a Petrobras.
O problema político criado pelo sincericídio da presidente Dilma, que desmontou a tese que vinha sendo defendida pela direção da Petrobras de que a compra fora um bom negócio, não encerra, porém, a questão, pois, por unanimidade, o TCU considerou os 11 integrantes da diretoria da estatal na ocasião da compra como culpados por um prejuízo de quase US$ 1 bilhão - que deverá ser devolvido aos cofres públicos por esses antigos servidores da estatal, entre eles o ex-presidente José Gabrielli e o ex-diretor Paulo Roberto Costa, preso por lavagem de dinheiro e desvio de dinheiro público.
É claro que, se a presidente Dilma fosse responsabilizada pelo prejuízo, sua candidatura à Presidência da República seria afetada diretamente. Com a culpa sendo jogada para a diretoria da Petrobras, o escândalo continua do mesmo tamanho na gestão petista, o que afeta indiretamente sua campanha, mas, na avaliação do Palácio do Planalto, é uma crise mais fácil de ser manejada, ou, pelo menos, que não foi ampliada.
Aliás, a campanha da presidente Dilma está vivendo um momento em que a preocupação é estancar sua imagem negativa, com o objetivo de chegar a meados de agosto, quando começa a campanha eleitoral pelo rádio e pela TV, a uma distância dos opositores que possa ser ampliada pela campanha propagandística, na tentativa de ganhar já no primeiro turno.
Estancar os sangramentos e, se possível, fazer os adversários sangrarem neste período pré-televisão são os objetivos estratégicos deste momento específico da campanha de reeleição.
Este período, aliás, é fundamental para repercutir as denúncias contra seus adversários, enquanto eles não são muito conhecidos pelos eleitores. Como na propaganda oficial ela terá três vezes mais tempo que o candidato mais próximo, o tucano Aécio Neves, mas a oposição terá espaço no rádio e na televisão para se defender dos prováveis ataques, a artilharia petista está voltada para ampliar a repercussão de acusações, como as do aeroporto de Cláudio, em Minas, por meio das redes sociais e dos blogs oficiais e oficiosos da campanha.
O pedido de investigação ao procurador-geral da República é uma maneira de fazer o caso repercutir nacionalmente, embora pareça apenas uma jogada publicitária, pois o Ministério Público de Minas Gerais já havia investigado o caso a pedido da oposição, e arquivou o processo por não existir irregularidades na desapropriação do terreno para ampliação do aeroporto, que já existia.
Como estratégia de campanha, essa tentativa de encurralar os adversários para retirar o foco da fragilidade do governo parece ser o caminho escolhido pelos governistas, depois do embate entre o grupo do ex-ministro Franklin Martins e o marqueteiro João Santana, que defende uma atuação menos agressiva.
Os fatos, no entanto, fizeram com que o papel das mídias sociais e dos blogs, comandados por Franklin, ganhasse relevo na divulgação de denúncias, e esse, parece, será o tom da campanha, pelo menos enquanto a propaganda oficial não chega.
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