CORREIO BRAZILIENSE - 13/07
Para os brasileiros, os 7 x 1 foram uma catástrofe, igual a uma derrota definitiva na guerra. Nos acostumamos a ver na Seleção "a pátria em chuteiras" (Nelson Rodrigues). Mas o futebol é apenas um esporte, como o vôlei e o basquete, cujas vitórias e derrotas não afetam a nação.
Ao menos, ao contrário de outros latino-americanos, não agredimos os adversários. Perdemos com esportividade. A torcida, mesmo em prantos, aplaudiu a equipe alemã. Estamos nos civilizando.
A culpa, ao meu sentir, não foi da equipe. Os nossos jogam nos melhores times da Alemanha, Espanha, Inglaterra, Itália e alhures. Nos faltou treinos e conjunto ou, noutras palavras, treinador. Felipão é teimoso e ultrapassado. Basta ver suas crenças: ser "paizão" e acreditar em emoções, união, torcida e voluntarismo para ganhar jogos. Nada disso funciona, a não ser na cabeça dele!
O "football association", como o nome indica, exige um conjunto harmonioso de jogadores utilizando sistemas eficientes em campo, fruto de metódicos treinamentos. Felipão não teve sistema, nem treinou o time, ao contrário dos disciplinados alemães. Eles jogam com três beques, dois atacantes e cinco meio-campistas, que se defendem em bloco e partem para o ataque em alta velocidade, sem errar nos passes e chutes.
É extenuante e trabalhoso, mas funciona. Jogam assim em qualquer lugar, contra qualquer time. O Felipão abriu os pontas e isolou o centroavante. Deixou o miolo de campo alemão atacar em massa a nossa defesa perplexa. Isso não deveria acontecer. Sobravam alemães dentro da área. O resultado era mais do que previsível. Imaginei 3 x 1. O excesso, porém, surpreendeu. O segundo tempo foi melhor, não porque os alemães pararam e sim porque congestionamos o meio-de-campo e marcamos ao pé (ainda fizeram dois gols).
Discordo do equilibrado técnico argentino ao dizer que o futebol é o mais ilógico dos esportes coletivos e que "essas coisas" acontecem. Nós merecemos o placar. A comissão técnica é a principal culpada. Concordo com o jogador alemão que lamentou e disse que o Brasil não merecia perder daquele jeito. É seu Felipão! Ninguém esperava, nem mesmo você. Essa conversa de "apagão" é culpa sua, que não lida bem com as energias. Assuma o erro! Todo comandante que põe a culpa nos comandados é covarde!
Enquanto os jogadores tratarem o treinador como "professor", sem se rebelarem, como aconteceu com Feola no passado, e o povo acreditar nas "presidentas" sem espírito crítico, nosso país não evoluirá.
Na política, na administração e no futebol agimos desorganizadamente, somos adeptos dos improvisos e, por isso, as coisas não funcionam. Tomara que a "catástrofe" nos torne mais frios e analíticos. Lula quis a Copa de caso pensado para ajudar seu obsessivo projeto de poder e Dilma gastou horrores para satisfazer o chefe e mentor, sem planejamento ou racionalidade.
Os legados da Copa? Algumas sofríveis obras de mobilidade urbana, aeroportos maquiados por estarem obsoletos, estádios custosos para ficar no "padrão Fifa", muita corrupção e superfaturamentos! Além disso, isenção de impostos para a Fifa. Dizem que lucrou muitíssimo! Logo veremos o balanço de lucros e perdas. Para culminar, quatro elefantes brancos: em Brasília, Natal, Manaus e Cuiabá, lugares sem times de futebol para jogar o campeonato da primeira divisão, além de obras inacabadas por toda parte. A Copa foi boa para o Corinthians. Lula deu-lhe de presente o Itaquerão, com desabamentos e muitos mortos na construção às pressas (sempre o improviso).
Catastróficas foram, isto sim, as perdas de operários e agora de vidas inocentes no desabamento do viaduto em Belo Horizonte. Não, sr. prefeito, derrotas são explicáveis mas deslizamentos de passarelas e queda de viadutos são erros imperdoáveis. Não adianta abrir "rigoroso inquérito". Queremos punições exemplares. Dinheiro público e vidas humanas valem 1 milhão de vezes vitórias esportivas e obras apressadas, improvisadas, malfeitas, para dar a impressão de que somos capazes.
O futebol não é tudo. Nem só de circo vivemos nós. O povo quer progresso, paz e organização. Os nossos jogos decisivos são as eleições para presidente, governadores e prefeitos. Maldita seja para sempre a Copa da humilhação! Quanto ao futuro, que o presente nos sirva de lição. No esporte, como na vida, esforço e organização são fundamentais. A vitória embriaga, a derrota ensina. Levantemos a cabeça. Dias melhores virão.
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