domingo, abril 13, 2014

Inflação sob controle depende do governo - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 13/04

O fraco crescimento da economia gerou um clima de pessimismo, pois não se espera por parte das autoridades medidas de austeridade em ano de eleições


A perspectiva de baixo crescimento da economia brasileira, agora agravada pelo recrudescimento da inflação, gerou um clima de pessimismo que vai além do empresariado. Pesquisas recentes mostram que os brasileiros estão prevendo alta da inflação (e quando esse tipo de expectativa passa a ser reinante, aumenta a possibilidade de que a profecia se torne realidade). Os mesmos dois terços dos consultados que se mostram pessimistas quanto à trajetória dos preços clamam por mudanças. Em proporção menor, metade dos consultados acredita que haverá mais desemprego, e um terço prevê queda de poder aquisitivo dos assalariados.

Um esforço mais contundente contra a inflação exige uma austeridade nas finanças públicas que não combina muito com ano de eleições gerais. No entanto, no ritmo em que se encontra, a inflação poderá ter mais influência no cenário político do que a repercussão de medidas de austeridade.

A presidente Dilma, candidata à reeleição, reafirmou nos últimos meses seu compromisso com uma inflação sob controle, e dentro das metas estipuladas pelo governo. A partir desses pronunciamentos, a equipe econômica anunciou como objetivo um efetivo superávit primário nas finanças públicas de pelo menos 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB), sem recorrer à contabilidade “criativa”, que caracterizou o fechamento das contas em 2013.

A promessa permanece ainda literalmente como uma dívida, porque os resultados não apareceram nas estatísticas econômicas dos primeiros meses do ano.

A falta de uma resposta adequada na política fiscal, com gastos governamentais de fato contidos, obriga o Banco Central a um forte aperto monetário, com elevação das taxas básicas de juros para um patamar que pode inibir a realização de investimentos privados no futuro. Desse modo, o combate à inflação não pode se restringir à ação da política monetária.

As críticas à política econômica se concentram, assim, no lado fiscal. O país tem uma carga tributária excessiva e, por outro lado, há novas pressões de gastos que partem, por exemplo, de subsídios às tarifas de energia elétrica. O clima adverso do início do ano teve impacto sobre os alimentos in natura. Diante dessa difícil situação, era de se esperar que o governo desse mais demonstração de austeridade nos demais gastos, mas o que se viu foi uma elevação de mais de 15% nas despesas de pessoal no primeiro bimestre, se comparado a mesmo período do ano passado.

Se números como esses continuarem a se repetir, o ambiente de pessimismo já percebido nas ruas não será revertido, prejudicando a economia do país e causando estragos na candidatura à reeleição, pois a presidente pouco terá a exibir a uma sociedade que há muito tempo optou pelo controle rígido da inflação.

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