O GLOBO - 10/03
O crescimento exponencial do número de blocos e, por decorrência, da quantidade de foliões na ruas do Rio é evidência definitiva do revigoramento do carnaval carioca, que até o fim dos anos de 1990 parecia condenado ao confinamento dos (bem-sucedidos) desfiles das escolas no Sambódromo.
A partir do início da década passada, as tradicionais agremiações como o Bola Preta, Simpatia é Quase Amor e a Banda de Ipanema — àquela altura minguadas de integrantes, se comparadas à pujança de outros tempos — juntaram-se outras, de criação mais recente, e a todas começou a se incorporar uma impressionante massa de pessoas, cada vez mais densa. Essa curva dá conta inequívoca de que a retomada das ruas como opção para a folia é fenômeno consolidado.
Mas a recuperação do carnaval de rua não tem sido marcada apenas por indicadores positivos. A curva de crescimento de blocos e da quantidade de gente que eles arrastam não para de ascender, sem que, em contrapartida, a cidade tenha condições de absorver demandas — como limpeza urbana, engenharia de tráfego — incomparavelmente maiores do que nos dias normais. Faltam áreas para concentração/desfiles nos bairros que mais atraem foliões, infraestrutura adequada de serviços em geral, etc.
Por esse viés, o gigantismo do carnaval de rua acaba por se tornar um fenômeno se não danoso, mas a reclamar inadiáveis intervenções do poder público. A questão, que já vem sendo colocada há alguns anos, não saiu da agenda em 2014. Ao contrário, agravada por números ainda mais grandiosos que nos anos anteriores, impõe à prefeitura a tomada de decisões que, ao mesmo tempo em que estimulem o carnaval popular, também preservem a cidade e seus moradores das mazelas do crescimento da folia.
Tanto quanto o sucesso dos blocos, são grandiosos os números do que os desfiles das agremiações produzem. Gigantes como o Simpatia é Quase Amor, Banda de Ipanema, Barbas, Suvaco de Cristo e outros, quase todos na Zona Sul, arrastam para foliões que contam às dezenas de milhares, em bairros onde, em condições normais, a rede viária já não atende às demandas da população. É certo que o carnaval é exceção, mas, em razão do gigantismo, a passagem dos blocos se alonga cada vez mais, para além da paciência de quem não está por opção condicionado às limitações impostas pela folia. Fenômeno adjacente, as toneladas de lixo que se amontoam após os desfiles só agravam o problema.
Que se preserve a pujança do carnaval, é inescapável. Mas o poder público precisa equacionar a questão do inegáveis problemas provocados pelo gigantismo ds agremiações. Passo essencial seria transferir mais agremiações para áreas — como a Rio Branco e o Aterro — em que os desfiles não paralisem as atividades dos bairros e seja mais fácil administrar o pós-desfile. É providência para já, também porque, antes do próximo carnaval, a cidade, como uma das sedes da Copa do Mundo, estará tomada por inevitáveis festividades de rua ligadas ao evento.
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