sábado, março 22, 2014

Crédito sem motor - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 22/03

O aumento da inadimplência em 2012 ainda gera consequências na economia. Tanto consumidores quanto financeiras não gostaram da experiência de atraso no pagamento de dívidas e seguraram os empréstimos. O financiamento de automóveis está estagnado há um ano, enquanto as linhas para renegociação cresceram 13%. A boa notícia é que a cautela fez efeito e a inadimplência caiu.

A carteira de crédito para compra de veículos chega a R$ 193 bilhões e representa 25% de todos os empréstimos concedidos às pessoas físicas, sem contar o financiamento imobiliário. É justamente esse motor do crédito que está perdendo potência e dificultando o crescimento da economia pela via do consumo. O saldo para aquisição de veículos está estagnado: caiu 0,2% em janeiro, na comparação com o mesmo mês do ano passado.

Outra linha que mede a capacidade de consumo é o crédito para compra de outros bens. Ela está em alta de 9,5% na mesma comparação, mas a sua importância no crescimento da economia é bem menor, porque representa um universo de apenas R$ 11 bilhões, contra R$ 193 bi do automotivo.

Ao mesmo tempo, explica o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicolas Tingas, as modalidades voltadas para o pagamento de dívidas continuam ganhando força. O crédito pessoal subiu 13% no mesmo período e já soma R$ 322 bilhões. Vejam no gráfico como o crédito pessoal não para de subir, enquanto o voltado para a compra de automóveis está estagnado há mais de um ano.

- O crédito pessoal continua crescendo e está muito relacionado ao pagamento de dívidas. Os consumidores perceberam que a renda não cresce mais como antes, então estão segurando as compras financiadas. Está caindo o saldo voltado para o consumo, como o automobilístico, e crescendo o pessoal - explicou Tingas.

O lado positivo dessa mudança é a queda da inadimplência. Com consumidores cautelosos, de um lado, e bancos mais rigorosos, de outro, caiu o percentual de crédito com atrasos maiores que 90 dias. Depois de subir de 6,29%, em maio de 2011, para 8,18%, um ano depois, a inadimplência caiu para 6,65% em janeiro deste ano. Os atrasos no financiamento de automóveis tiveram uma alta muito grande, de 3,66% para 7,23%, mas caíram agora para 5,17%.

Outro dado que chama atenção é o forte crescimento do crédito direcionado, num ritmo de 25% ao ano. Ele já corresponde a 45% do total de financiamentos no Brasil, contra 55% do crédito livre. Esse aumento do direcionado dificulta o trabalho do Banco Central no combate à inflação porque oferece juros subsidiados, como os empréstimos do BNDES às empresas, por exemplo. Isso quer dizer que a política monetária já não exerce influência sobre quase a metade do mercado de crédito do país.


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