O ESTADO DE SP - 22/03
O custo da alimentação assusta o consumidor e impõe ao governo um duro desafio a poucos meses das eleições. Os últimos números da inflação, facilmente verificáveis na feira e nos supermercados, confirmam o alerta lançado nesta semana pelo presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, e já levaram o novo ministro da Agricultura, Neri Geller, a prometer medidas para conter a alta de preços. Um primeiro passo poderá ser a venda de milho para reequilibrar alguns mercados, a começar pelo Nordeste. O assunto está na pauta da reunião de terça-feira do Conselho Interministerial de Estoques Públicos de Alimentos (Ciep).
Os problemas de suprimento são, em parte, atribuíveis ao tempo irregular - seca em algumas áreas, excesso de chuva em outras - e, em parte, às condições do mercado internacional. A produção de milho estimada para este ano, 75,18 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), deve ser 7,8% menor que a do ano passado. A área plantada diminuiu, e, além disso, houve perdas causadas pela estiagem. O Ministério da Agricultura tem estoques para intervir no mercado, nesse caso, mas está muito menos preparado para aumentar a oferta de outros produtos.
De toda forma, qualquer intervenção envolverá um teste duplo. O governo terá de escolher corretamente os canais de distribuição, para garantir a chegada do produto ao destino correto. Mas deverá, ao mesmo tempo, dosar a intervenção para evitar perdas para os produtores. Erros desse tipo foram cometidos em ocasiões semelhantes. A tentação de jogar pesado para derrubar os preços pode ser muito forte, quando há motivação eleitoral.
A intervenção nos mercados de outros produtos poderá ser muito mais difícil ou simplesmente inviável. Entre o meio de fevereiro e o meio de março, o custo da alimentação subiu 1,11%. Essa alta foi o principal determinante da elevação de 0,73% do IPCA-15, a prévia do índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Mas o governo dificilmente poderá fazer alguma coisa para ampliar a oferta de alguns dos produtos com as maiores altas de preços, como o tomate (28,53%), a batata inglesa (14,59%) e a alface (16,49%). Não há estoques públicos desses produtos.
No caso dos hortícolas, pode-se produzir uma nova safra e ajustar a oferta em pouco tempo. Mas um aumento temporário e até reversível pode produzir efeitos duradouros, se houver contágio dos demais preços, especialmente numa economia com elevado grau de indexação.
A ação direta do Ministério da Agricultura, quando bem planejada e bem conduzida, pode reforçar a oferta e melhorar as condições do mercado, mas é insuficiente para prevenir o repasse dos aumentos e a contaminação dos demais preços, incluído, naturalmente, o salário.
Daí a importância da ação prescrita pelo presidente do BC: caberá à política monetária circunscrever ao curto prazo a alta de preços dos alimentos e, assim, prevenir a propagação de seus efeitos. Apresentado em depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, nesta semana, esse comentário parece indicar um movimento de alta de juros mais longo do que vinha prevendo o mercado financeiro. Pode ser uma notícia desagradável para muitos empresários, mas a função primordial do BC é defender o poder de compra da moeda.
No caso do Brasil, a alta de preços dos alimentos é especialmente perigosa por causa de outros fatores inflacionários, como o excesso de gastos do governo e o crédito ainda em expansão. Em outros países, o aumento de custos da alimentação produz efeitos muito menos danosos. Não há como negar esses fatos.
Mas, segundo o PT, "parcela da mídia brasileira faz questão de pintar um quadro aterrorizador da economia, disseminando maus presságios sem fundamentos técnicos, apenas com a clara intenção de tentar influenciar nas disputas eleitorais". De acordo com essa nota, aprovada em reunião partidária, "chega a ser impressionante" a distância entre o Brasil pintado pela mídia e o país governado pelo PT. Talvez no país do PT os dados de inflação sejam melhores e o presidente do BC se mostre menos preocupado.
Os problemas de suprimento são, em parte, atribuíveis ao tempo irregular - seca em algumas áreas, excesso de chuva em outras - e, em parte, às condições do mercado internacional. A produção de milho estimada para este ano, 75,18 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), deve ser 7,8% menor que a do ano passado. A área plantada diminuiu, e, além disso, houve perdas causadas pela estiagem. O Ministério da Agricultura tem estoques para intervir no mercado, nesse caso, mas está muito menos preparado para aumentar a oferta de outros produtos.
De toda forma, qualquer intervenção envolverá um teste duplo. O governo terá de escolher corretamente os canais de distribuição, para garantir a chegada do produto ao destino correto. Mas deverá, ao mesmo tempo, dosar a intervenção para evitar perdas para os produtores. Erros desse tipo foram cometidos em ocasiões semelhantes. A tentação de jogar pesado para derrubar os preços pode ser muito forte, quando há motivação eleitoral.
A intervenção nos mercados de outros produtos poderá ser muito mais difícil ou simplesmente inviável. Entre o meio de fevereiro e o meio de março, o custo da alimentação subiu 1,11%. Essa alta foi o principal determinante da elevação de 0,73% do IPCA-15, a prévia do índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Mas o governo dificilmente poderá fazer alguma coisa para ampliar a oferta de alguns dos produtos com as maiores altas de preços, como o tomate (28,53%), a batata inglesa (14,59%) e a alface (16,49%). Não há estoques públicos desses produtos.
No caso dos hortícolas, pode-se produzir uma nova safra e ajustar a oferta em pouco tempo. Mas um aumento temporário e até reversível pode produzir efeitos duradouros, se houver contágio dos demais preços, especialmente numa economia com elevado grau de indexação.
A ação direta do Ministério da Agricultura, quando bem planejada e bem conduzida, pode reforçar a oferta e melhorar as condições do mercado, mas é insuficiente para prevenir o repasse dos aumentos e a contaminação dos demais preços, incluído, naturalmente, o salário.
Daí a importância da ação prescrita pelo presidente do BC: caberá à política monetária circunscrever ao curto prazo a alta de preços dos alimentos e, assim, prevenir a propagação de seus efeitos. Apresentado em depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, nesta semana, esse comentário parece indicar um movimento de alta de juros mais longo do que vinha prevendo o mercado financeiro. Pode ser uma notícia desagradável para muitos empresários, mas a função primordial do BC é defender o poder de compra da moeda.
No caso do Brasil, a alta de preços dos alimentos é especialmente perigosa por causa de outros fatores inflacionários, como o excesso de gastos do governo e o crédito ainda em expansão. Em outros países, o aumento de custos da alimentação produz efeitos muito menos danosos. Não há como negar esses fatos.
Mas, segundo o PT, "parcela da mídia brasileira faz questão de pintar um quadro aterrorizador da economia, disseminando maus presságios sem fundamentos técnicos, apenas com a clara intenção de tentar influenciar nas disputas eleitorais". De acordo com essa nota, aprovada em reunião partidária, "chega a ser impressionante" a distância entre o Brasil pintado pela mídia e o país governado pelo PT. Talvez no país do PT os dados de inflação sejam melhores e o presidente do BC se mostre menos preocupado.
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