Em maio a Petrobrás completa 60 anos de história. Às voltas com denúncias de bilionárias negociatas, um ex-diretor preso como bandido, outro que fugiu às pressas para a Europa, uma presidente que se diz enganada pela diretoria, uso político do governo a torto e a direito, valor de mercado despencando, endividamento a galope, parece não haver muito a festejar. Mas há. Apesar dos governantes, a sexagenária construiu uma história de sucesso, que teve como principais protagonistas engenheiros, geólogos, funcionários anônimos dedicados e capazes, que descobriram petróleo em Campos e na mega-área do pré-sal, triplicaram as reservas de óleo, fizeram da empresa campeã em tecnologia de pesquisa e exploração em águas profundas e a colocaram no pódio das grandes petrolíferas do mundo.
Desde que Juracy Magalhães, ex-interventor de Getúlio Vargas na Bahia, assumiu o primeiro cargo de presidente, em maio de 1954, a Petrobrás teve 34 presidentes até hoje. É função disputada, cobiçada, passaporte para uma carreira de sucesso ou para enriquecimento garantido. Exercê-la exige certo malabarismo político - para aderir ou se esquivar de interesses políticos e econômicos bilionários, como o caso da Refinaria de Pasadena. Há os que escolhem uma coisa ou outra. O advogado Luís Octávio da Motta Veiga, por exemplo, escolheu se esquivar: denunciou as interferências do ex-presidente Fernando Collor nos negócios da empresa e durou só sete meses no cargo.
Dona de um orçamento bilionário capaz de enriquecer ou condenar ao ostracismo fornecedores do Brasil e do exterior, a Petrobrás sempre foi objeto de cobiça de presidentes, parlamentares, governadores, enfim, da classe política com poder de influenciar decisões de negócios - lícitos, ilícitos, lucrativos ou ruinosos para ela. Os diretores passam bom tempo do dia atendendo políticos e ouvindo seus pedidos.
Na ditadura, o presidente Ernesto Geisel, que também presidiu a empresa, nomeou para dirigi-la o advogado Shigeaki Ueki. Nos corredores, funcionários atribuíam a Ueki negócios ilícitos - não comprovados, pois jamais foram investigados (o ditador só investiga o que quer). Na democracia, o ex-presidente José Sarney deixou sua marca em vários negócios, o mais escandaloso deles liderado pelo padrinho da governadora Roseana Sarney, o general Albérico Barroso Alves, que cobrava propina de banqueiros para operar duplicatas da BR Distribuidora. Fernando Collor foi mais ousado: seu ministro Pedro Paulo Leoni Ramos montou um esquema para cooptar funcionários de carreira e desviar negócios da Petrobrás para empresas desconhecidas do meio petrolífero que lucravam superfaturando ou subfaturando operações comerciais ou cobrando comissão de empreiteiras. Em seus sete anos à frente da estatal, nas gestões Itamar Franco e FHC, Joel Mendes Rennó foi alvo de suspeitas de irregularidades e a maior delas envolvia a empresa Marítima, de German Efromovich, que ganhava contratos milionários atuando como mera intermediária.
Mas, de todos os ex-presidentes, Lula foi insuperável. Não que interferisse diretamente ou em benefício pessoal, mas institucionalizou e banalizou na empresa o loteamento de postos de comando para partidos políticos que apadrinhavam funcionários de carreira para ocupar cargos de direção, em troca de toda sorte de negociatas em favor do partido. O caso do ex-diretor Paulo Roberto Costa, afastado em 2012 e preso na quinta-feira pela Polícia Federal, não é o único. Se antes funcionários resistiam e denunciavam a corrupção de diretores importados de fora, a partir de Lula passaram a procurar padrinhos para serem promovidos. Com isso negócios fraudulentos e lesivos aos cofres da Petrobrás se multiplicaram na longa gestão de Sérgio Gabrielli, demitido por Dilma Rousseff em 2012.
Dilma acabou com o loteamento e compôs uma diretoria técnica. Mas sobrou para ela administrar os casos da gestão anterior. Agora terá de explicar em detalhes por que apoiou, por que foi omissa, não investigou nem puniu os responsáveis pelo prejuízo de US$ 1,2 bilhão na compra de Pasadena.
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