ZERO HORA - 23/01
O Brasil, os governantes e os investidores internacionais só têm a ganhar com a presença da presidente Dilma Rousseff no Fórum Econômico Mundial de Davos. O maior beneficiado, no entanto, certamente será o país, que há mais de uma década atrai as atenções do Exterior, sem que consiga levar adiante plenamente seu ciclo de desenvolvimento. É nesse contexto, com muitas dúvidas sobre a sua capacidade de se transformar a médio prazo em potência econômica, que o Brasil se apresenta às lideranças reunidas em Davos. O desafio a ser enfrentado pela senhora Dilma Rousseff, na palestra de amanhã na cidade Suíça, é, na essência, o de transmitir confiança a quem nos olha com a certeza de que esta ainda é uma nação que desperdiça chances e potencialidades.
É verdade que a presidente brasileira poderá exaltar avanços reconhecidos na área social, como os programas de transferência de renda, e apresentar estatísticas positivas, como o baixo nível de desemprego. Mas terá de lidar também com questionamentos que inquietam interna e externamente. O Brasil vem surpreendendo negativamente os que apostavam na sua capacidade de crescer. Sua performance, nos últimos anos, tem ficado aquém das economias da região e de nações consideradas emergentes. A desculpa de que desempenhos acanhados poderiam ser atribuídos à crise mundial iniciada em 2008 não se sustenta, porque muitos países já reagiram aos abalos. Há ainda questões pendentes relacionadas à gestão do setor público, como o descontrole fiscal, e da economia, como a ameaça sempre presente da inflação.
A presidente que vai a Davos carrega outras interrogações, que não serão abordadas no Fórum, como a falta de vontade política do governo para liderar iniciativas pelas reformas estruturais, que abrangem desde a política, passando pelo sistema tributário e pela previdência. A sensação generalizada, explicitada em manifestações públicas de líderes presentes ao encontro, é a de que o Brasil já poderia ter superado etapas que entravam seu desenvolvimento. Há ainda, como obstáculo histórico, a timidez no enfrentamento de carências logísticas, em aeroportos, rodovias, portos, provocada em boa parte pela interlocução deficiente do governo com quem empreende.
O evento deste ano marca a estreia da presidente em Davos num momento em que o cenário externo é de preocupação com a desigualdade social e o desemprego também em economias ricas, ainda impactadas pela desarrumação da crise financeira deflagrada há mais de cinco anos. Os dirigentes dessas nações, os investidores e os analistas internacionais continuam a perceber o Brasil como um lugar que pode ampliar seus atrativos, se corrigir as distorções que sucessivos governos não enfrentam. A presidente terá dado um passo importante se amanhã transmitir um pouco mais de confiança à elite mundial em relação a projetos que, pelo consenso, deveriam ter suas prioridades postas acima de orientações ideológicas e de governos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário