FOLHA DE SP - 23/01
BRASÍLIA - De Paris, o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, reclama dos que criticam as diárias de R$ 14 mil por palestras na Europa durante o recesso: "Eu acho isso uma tremenda bobagem. (...) Veja bem, você viaja para representar o seu país, para falar sobre as instituições do Brasil e vocês estão discutindo diárias?".
Faz sentido, mas ele pode ter dificuldade para falar sobre a justiça no Brasil em seu sentido mais amplo.
José Dirceu foi condenado a 7 anos e 11 meses, mas, com base na lei e trabalhando daqui, lendo um livro dali, pode acabar passando só dez meses na prisão. O problema, obviamente, não é de Dirceu, mas do sistema.
José Roberto Arruda pisou na bola e caiu quando era senador, depois novamente como governador do DF e foi condenado e preso. Mas está caraminholando: "a que vou me candidatar em 2014? Deputado, senador, quem sabe governador?" E ele não é original. Joaquim Roriz, entre tantos outros, tem uma trajetória parecida.
Se os presos de colarinho branco jogam o foco na Papuda, em Brasília, as decapitações e as 63 mortes em Pedrinhas, no Maranhão, escancaram o horror em que vivem os presos comuns em todo o país.
O Brasil tem uma das cinco maiores populações carcerárias do mundo. São pobres, negros, pardos, iletrados. Muitos nem são culpados ou não foram condenados por crimes tão graves, mas mofam --e morrem-- nas cadeias comandadas não pelo Estado, mas pelo PCC.
Levantamento da Folha apontou ao menos 218 mortos em 2013, ou uma morte a cada dois dias, nas prisões brasileiras. E isso sem Alagoas, Bahia e Rondônia...
Talvez Joaquim Barbosa seja crítico ao falar aos europeus das leis, dos recursos e das manobras protelatórias que deixam poderosos mais sujos que pau de galinheiro tendo um vidão. Conhecemos vários. Mas isso é só um lado. O outro é o da tortura, das mortes, das decapitações.
Há justiça no Brasil?
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