O Estado de S.Paulo - 06/01
Em 2013 não foi diferente. A divulgação dos resultados da Avaliação Internacional de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) 2012 colocou, mais uma vez, a educação brasileira na berlinda e reacendeu a antiga discussão sobre como pôr no rumo certo esse poderoso fundamento da cidadania e do desenvolvimento. Os argumentos contra e a favor se entrecruzaram. Ocupar a 58.ª posição num ranking de 65 países não é fato a ser aplaudido, nem dá para dormir tranquilo em berço esplêndido. Mas, olhando para trás, são de comemorar os avanços conseguidos, ainda que sejam menos brilhantes do que seria desejável para um país que partiu de patamares muito baixos de qualidade do ensino. Portanto, parece ser um daqueles casos em que todos têm um pouco de razão.
Começando pelos aspectos positivos: é relevante a evolução de desempenho registrada nas provas de 2012, que avaliaram alunos de 15 anos, frequentando do sétimo ao nono ano do ensino fundamental ou qualquer série do ensino médio. O relatório destaca o avanço de 4,1 pontos por ano no período 2003-2012. Ênfase para a proficiência em Matemática, com um salto de 356 para 391 pontos, numa escala que vai de zero a mil, e o aumento do número de jovens inseridos em salas de aulas. Aspectos negativos: a má pontuação em Português e Ciências e apenas 0,8% dos estudantes tendo atingido notas compatíveis com os níveis 5 e 6, que indicam aptidão para resolver questões mais complexas, enquanto 70% não ultrapassaram o nível 1 em Matemática, sendo incapazes de ler um simples gráfico de barra.
Justificativas e críticas à parte, está claro que o nó da educação brasileira saiu da esfera da inclusão educacional e até mesmo do volume de investimentos. Também parece claro que a hora é de planejar o futuro bem próximo, para que o País não perca, mais uma vez, o bonde da História e, portanto, aproveite ao máximo o momento propício que se avizinha na área educacional para dar o esperado salto de qualidade no ensino. No início da década de 2020 - ou seja, daqui a seis ou sete anos - o Brasil terá 5 milhões a menos de alunos em idade escolar, como apontam as estatísticas demográficas do IBGE. E, o que é melhor, terá R$ 120 bilhões a mais para investir no ensino se o projeto do pré-sal sair como o governo federal anuncia.
Chegou a hora de deixar de lado corporativismos, visões essencialmente ideologizadas, debates estéreis, que não levam a nada, e buscar lições produtivas em experiências que deram certo, tanto aqui como no exterior. Na China (que, aliás, acaba de atingir o topo do Pisa), o aluno de 10 anos tem o mesmo desempenho de seu colega brasileiro de 15, e o mesmo acontece com o coreano de 11 anos, o americano de 12 e o tailandês de 14. No Brasil, cresce o número de escolas públicas que, mesmo sem mais verbas, apresentam enormes ganhos de qualidade na aprendizagem, comprovando que a boa gestão escolar permite avançar em qualidade, mesmo nas condições atuais.
Em comum todos os casos têm como base a adoção de planejamento, metas, meritocracia, acompanhamento e avaliações rigorosas (estas não para reprovar o aluno, mas para detectar e corrigir as causas dos maus resultados). Os nós da educação brasileira já estão devidamente identificados. A política pública da educação precisa, por exemplo, revalorizar a figura do professor - tanto com programas de capacitação para aprimorar o desempenho daqueles que integram o quadro atual de docentes quanto adotando planos de cargos e salários compatíveis com a realidade do mercado de trabalho para atrair melhores talentos para o magistério. Hoje essa carreira, com salário médio nacional de R$ 1,4 mil, está em último lugar na preferência dos jovens, que preferem tornar-se mecânicos, secretários ou trabalhadores da construção civil.
Esse é apenas um dos gargalos do ensino básico, que se alinha à necessidade de oferecer aprendizado em período integral e com infraestrutura (laboratórios de ciências, computadores, bibliotecas). Ou seja, é preciso oferecer aos alunos condições de utilizar o tempo adicional com outras opções além das atividades culturais que, hoje, são realizadas como único complemento às aulas das disciplinas regulares, nas poucas escolas que funcionam em tempo integral. Outro ponto importante é a revisão dos currículos, visando a estabelecer um padrão nacional, como forma de reduzir as gritantes desigualdades regionais de aprendizado registradas em todas as avaliações que abrangem o alunado de todo o País. Essa redução, aliás, passaria também pelo investimento em educação infantil, com sensibilização das famílias de menor renda para que ofereçam em casa o estímulo correto aos filhos. E por aí vai.
A prioridade à qualidade da educação trará ganhos para os jovens que estão prestes a ingressar no mercado de trabalho, ao melhorar as suas condições para disputarem empregos mais bem remunerados. O desenvolvimento do País sofrerá forte impacto, pois cada ano adicional de escolaridade equivale também a 10% de aumento de produtividade. Não é à toa que a China cresceu dez vezes mais que o Brasil nos últimos dez anos (134% ante 13%).
A tarefa não é fácil, pois envolve problemas que se acumulam desde o Brasil colônia. Ao contrário, é uma verdadeira revolução, que demanda forte vontade política para vencer obstáculos e pôr a educação no rumo correto, num processo que atingirá sua maturação plena em várias gerações. Mas, na essência, talvez seja o maior legado que as lideranças atuais devem às novas gerações. E, quanto mais cedo o desafio for aceito, mais cedo o Brasil começará a colher os frutos da mais benéfica das revoluções que pode empreender.
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