FOLHA DE SP - 06/01
País tem pior resultado no comércio externo em 13 anos; tendências estruturais e cenário global dificultam rápida reversão desse quadro
Graças sobretudo à perda de competitividade de sua economia, o Brasil teve em 2013 o pior resultado no comércio externo em 13 anos --e há poucas razões para crer em melhoras no horizonte próximo.
O saldo da balança comercial (diferença entre exportações e importações) foi de US$ 2,6 bilhões, resultado ainda positivo, mas 87% inferior ao de 2012.
Verdade que boa parte do desempenho ruim deve-se a uma questão em tese pontual, a saber, o maior deficit da história na conta do petróleo. Com baixa produção em 2013, o país deixou de vender o produto e precisou importar mais para atender à crescente demanda interna por combustíveis.
Além disso, uma compra de US$ 4,6 bilhões feita em 2012 só foi contabilizada no ano passado. Assim, considerada de forma isolada, a suposta normalização produtiva da Petrobras neste 2014 poderia elevar o superavit comercial para cerca de US$ 10 bilhões.
As tendências estruturais, porém, são pouco favoráveis. No ano passado, cresceram, por exemplo, as importações de máquinas e equipamentos (6,2%), bens de consumo (4%) e insumos de produção (6,7%), enquanto a indústria local patinou. Já as exportações permaneceram travadas, em particular as de manufaturados. Apenas o setor automotivo teve crescimento nas vendas para a Argentina.
A piora na balança comercial, ademais, ocorre a despeito do câmbio desvalorizado, que encarece importados e favorece as vendas externas. Não é uma surpresa. Como empresas tomam decisões de investimento com base em análises de longo prazo, levará muito tempo até que o real mais barato tenha impacto nas cadeias produtivas.
Some-se a essas outra constatação preocupante: em 2013, o segmento de matérias-primas não conseguiu, como vinha sendo a regra, conter a piora da balança comercial. O país exportou mais soja, milho e minério de ferro, mas a valores menos exuberantes. Desde 2011 os preços das exportações brasileiras caíram 12%. O ápice da demanda chinesa ficou para trás.
O Brasil se defronta com uma realidade difícil. De um lado, ganhar competitividade é um processo lento. De outro, o cenário internacional aponta para preços menos favoráveis. Enquanto isso, celebra poucos acordos comerciais --e perde a chance de abrir portas para seus produtos.
Não se descarta, portanto, que o país volte a ter deficit comerciais como na década de 1990. Seria retroceder a um ambiente de escassez de dólares, instabilidade cambial e pressão inflacionária que se acreditava superado.
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