CORREIO BRAZILIENSE - 15/01
A humanidade precisa se reencontrar, recuperar um pouco da dignidade perdida pela ganância de poder, pela força do dinheiro, pela hipocrisia e pela ditadura da intolerância. Buscar a paz, reduzida a arroubo de sonhadores e em uma quase utopia. "Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, acorda", já dizia Carl Gustav Jung, o pai da psicologia analítica. Talvez o que nos falte é olhar para nosso interior, à procura da essência humana. Fazer com que esse despertar seja a força motriz para mover o mundo em direção oposta aos nossos egos e às nossas ganâncias. Somos vilões de nós mesmos. De nossos impulsos, nossas falhas, nossos medos e desejos.
Ofertamos carinho e amor a nossos filhos, mas fazemos vista grossa ao genocídio de milhares de crianças na Síria e na África. Defendemos o combate à corrupção, mas não pensamos duas vezes antes de furar a fila ou de burlar leis básicas de convivência social. Exigimos educação e respeito, mas nos negamos a oferecer, à gestante ou ao idoso, o assento preferencial no metrô ou no ônibus lotado. Escravos do relógio, ignoramos as vagas de estacionamento para pessoas com deficiência. Também pouco nos importa se, atrás das grades, homens decapitam homens e ordenam queimar inocentes dentro de ônibus. Ali do lado, nossas autoridades se empanturram de lagosta e de salmão.
Sonhamos com um mundo pacífico. Ficamos chocados com torcedores se matando nas arquibancadas, mas urramos de êxtase ao ver pessoas se arrebentando sobre um ringue. A nossa Constituição apregoa que temos direito à saúde, mas o governo nos deixa morrer à míngua, em uma fila de hospital, numa retribuição aos impostos pagos em dia. Somos, na teoria, iguais perante a lei, mas os menos favorecidos muitas vezes são considerados à margem dela, pela polícia e pelo próprio sistema. Desesperados, sedentos por respostas e por um alento ao sofrimento, muitas vezes acabamos vítimas de líderes religiosos que usam o nome de Deus para amealhar riquezas. E de políticos que cospem promessas vazias e, quando conquistam o poder, vilipendiam os sonhos e as necessidades dos eleitores. Perdidos, procuramos o mínimo de sensatez em um mundo cada vez mais insensato.
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