FOLHA DE SP - 27/01
RIO DE JANEIRO - Na próxima vez que você esquecer o nome do seu neto, não tiver certeza se já tomou banho ou não se lembrar por que saiu de casa com um envelope endereçado e fechado contendo uma carta, não se desespere. Pode não ser --ainda-- a chegada do velho Al (Al Zheimer, conhece?) ou de alguma outra forma de demência senil. Estudos recentes de cientistas alemães indicam o contrário: quem mais esquece é o homem que sabe demais.
Segundo eles, o cérebro do idoso, se não reage de pronto a certas solicitações, não é porque esteja com as porcas e arruelas enferrujadas ou sendo apagado aos poucos como um quadro-negro. É porque levou décadas armazenando informações. E, por ele conter gigantescos blocos de informações, mais complexa e lenta será a busca entre elas de informações novas. É como o disco rígido do computador que, por estar "cheio", demora mais para processar os dados.
Essa não é uma imagem, mas um diagnóstico. Os alemães simularam em computador o desempenho de bancos de dados maiores e menores --esses últimos, equivalentes ao cérebro de um jovem adulto-- e constataram que a diferença não estava no desgaste do material, aliás inexistente, e sim na carga de dados.
Gostei dessa descoberta, mas eu próprio já havia chegado a ela sem precisar de simulações. Há tempos venho percebendo que minha lentidão para gravar certas informações se dá porque o espaço na cabeça está ocupado com detalhes da trama de romances como "Scaramouche", "O Pimpinela Escarlate" e "Elzira, a Morta-Virgem", gibis de Mandrake, Dick Tracy e Brucutu, cenas de beijo de filmes de Marisa Allasio, frases do Millôr, tratados de fenomenologia de Husserl e letras de marchinhas de Carnaval como "Aurora", "Saçaricando" e "Tem Nego Bebo Aí".
Não que as ditas informações novas merecessem ocupar o lugar dessas maravilhas.
Um comentário:
Meu caro Ruy Castro: Já tinha lido essa noticia. É uma excelente forma de não se convencer de que a idade chegou, mas por outro lado é uma verdade, que pode ser comprovada facilmente,qualquer humano, quando esta atolado de preocupações se esquece uma porção de coisas, acho isso natural, eis ai o disco ocupado. Eu mesmo, nunca publiquei nada, a não ser no facebook, o desabafo do pobre, mas eu escrevo várias frentes ao mesmo tempo, gosto de escrever, é minha cachaça e quando chega o momento de inspiração, nem sempre tenho a oportunidade de estar próximo ao computador e ai minha cabeça vira uma confusão. Os anos para mim, não se instalaram como um peso, mas sim como caminhos de reflexão e chances de realizar aqueles sonhos que a juventude não me permitiu por falta de condições, que, hoje tenho de sobra. Graças a Deus. Um abraço.
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