FOLHA DE SP - 10/01
Haddad se escuda em reveses financeiros para justificar a frustração de seus planos para a cidade, mas falta planejamento à prefeitura
Não tem sido fácil a vida do prefeito Fernando Haddad. Em 2013, o petista viu fracassar suas tentativas de engordar o caixa da cidade de São Paulo com a renegociação da dívida municipal e com reajustes na tarifa de ônibus e no IPTU. Neste início de 2014, já se acumulam novas frustrações, com prejuízos para os paulistanos.
A julgar pelo que diz o alcaide, importantes promessas de campanha podem atrasar, ou não sair do papel, em decorrência da falta desses recursos --como se a questão se limitasse a seu aspecto financeiro.
Verdade que o petista sofreu reveses bilionários. Para ficar num exemplo, sem os R$ 800 milhões a mais que esperava receber com o IPTU, sua administração não conseguirá pagar a contrapartida exigida por lei para liberar R$ 3,4 bilhões em repasses oferecidos pela presidente Dilma Rousseff (PT).
Mas um bom gestor, desnecessário lembrar, não deve contar com verbas ainda não arrecadadas.
E o que dizer da inspeção veicular? Haddad teve um ano para preparar o cumprimento da bandeira eleitoral de refazer a licitação, hoje monopólio da Controlar. Esse tempo, no entanto, não foi aproveitado como deveria, e é considerável o risco de São Paulo ficar sem esse instrumento para diminuir a poluição do ar.
O contrato da Controlar expira no dia 31. Só na próxima segunda-feira, contudo, ocorrerá a audiência pública para debater o novo esquema de inspeção. Trata-se do primeiro passo para deslanchar a licitação das quatro concessões em que a cidade será dividida.
Se não houver mais procrastinação nem processos na Justiça, os contratos serão assinados no final de fevereiro. O serviço começaria a ser prestado em fins de maio, e mesmo assim as concessionárias só teriam obrigação de inspecionar, de pronto, um quarto da frota.
Esse é o cenário otimista, mas prevalece, entre empresas interessadas, a avaliação de que a inspeção ficará para 2015 --o que a prefeitura nega, claro, sem convencer.
Ocorre que a imprevidência administrativa já vai se revelando um padrão na gestão de Haddad.
Anteontem, o Tribunal de Contas do Município suspendeu dez licitações para construir 128 quilômetros de corredores de ônibus na capital, a um dia da abertura dos envelopes com as propostas. Motivos: ausência de especificação das fontes de recursos, omissões nos projetos de engenharia, falhas nas regras dos editais.
Em poucas e outras palavras: falta de planejamento adequado.
Fernando Haddad vai descobrindo, com um tropeço atrás do outro, que governar a metrópole paulistana exige mais que boas intenções e promessas mirabolantes.
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