FOLHA DE SP - 13/01
BRASÍLIA - Numa velha piada, com muitas versões diferentes, um sujeito intrépido e ambicioso se meteu a voar em um balão mesmo sem ter grande experiência em pilotagem. Para seu azar, foi logo colhido por um vendaval e levado a um local remoto e desconhecido.
Não tão longe do solo, perguntou onde estava a um transeunte. "Você está a 12 metros de altura, dentro de um balão", foi a resposta.
"Você, pelo jeito, é estatístico ou contador", disse, irritado, o balonista. "Sua resposta é perfeitamente precisa e absolutamente inútil."
"E você, obviamente, é um economista", retrucou o outro. "Não sabe como veio parar aqui, não consegue chegar aonde quer e já começou a brigar com a estatística."
Os conflitos entre os formuladores das políticas econômicas e os números que medem seus resultados, nota-se, não começaram com o governo Dilma Rousseff --ela própria economista-- e as tentativas de sua equipe de maquiar, contestar e relativizar os dados decepcionantes das contas do Tesouro Nacional, da inflação e do crescimento do país.
No governo FHC eram produzidas teses sofisticadas para demonstrar que não havia motivo para preocupação com a disparada da dívida pública e do deficit da balança comercial, até o país quebrar e precisar do socorro financeiro do FMI.
Antes da redemocratização, um dos mais conceituados formuladores do país, Mário Henrique Simonsen, gastou prática e teoria para culpar o chuchu pelo aumento da inflação nos seus tempos de Fazenda.
Não se trata de um mero cacoete profissional. Mais do que qualquer outra ciência humana, a economia ambiciona antever o futuro e recomendar rumos; governar, enfim --o que exige assumir riscos e, por vezes, desafiar convenções.
Sem o charme dos voos ousados, a contabilidade deve manter os pés no chão, zelar pelo óbvio e ajudar a entender onde o balão foi parar.
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