ZERO HORA - 02/12
Como é sabido a opinião pública pode sofrer alterações rápidas, quase repentinas, assim como pode manter estável período mais ou menos longo. Observadores do que se passa entre nós nos dias atuais, têm notado uma fase de certa paralisia por parte do governo quando este pelos próprios recursos de que dispõe e das atribuições que lhe são inerentes, é o maior agente de possíveis transformações. Nesse particular a projeção pode ser no sentido de majorar, manter ou reduzir seus fluxos e sem falar em sua desmedida gula eleitoral, a ação governamental, em geral, parece entravada. Os fatos do dia estão a mostrar que a maior empresa nacional está a enfrentar desconforto em razão da resistência da autoridade em suprimir as causas do fenômeno. É fato notório que os preços dos combustíveis no mercado externo têm sofrido elevações que projetam seus efeitos nos preços internos. Assim, no começo do ano, a majoração do preço do petróleo no mercado internacional importou no aumento dos custos do combustível na bomba. A Petrobras tomou as providências no sentido de restabelecer a relação avariada; quando implantaria as medidas tidas como inevitáveis, a senhora presidente da República vetou a providência. Não faltou quem sustentasse que os preços internos seriam mantidos, e esta orientação foi anunciada como definitiva. Ocorre que a empresa, que é uma das maiores do país, vinha sofrendo o duro impacto do congelamento oficial, de modo que o mau desempenho da Petrobras num dos trimestres do ano em curso, decorreria da decisão presidencial. A questão não é de somenos, uma vez que, também é sabido, ela não tem como conviver com a atual orientação.
Nesse quadro, a senhora presidente, cuja bravura é apregoada, guardava silêncio; até que a febre se elevou a tais alturas que se tornou inafastável refazer o exame de alguns meses tanto mais se anuncia revisão dos preços internos dos combustíveis. Até aí nada há de novo. Quando novidade existisse e ela existe, essa configura uma nova componente no problema; mas a ela foi atribuída uma prevalência absoluta, para que governo e popularidade fossem confrades obrigatórios; a popularidade passou a ser a pedra de toque do governo e sua vitamina. Ao que consta, a descoberta é devida aos talentos mágicos do marqueteiro oficial. Vale recordar que, no início do mês que acaba de findar, grande jornal estampava com todas as letras que: “apesar de ter intensificado sua situação política nos últimos quatro meses, a presidente não concretizou a previsão do marqueteiro João Santana, de que até novembro recuperaria a popularidade perdida… a recuperação foi parcial e está parada há dois meses… diferentes segmentos da sociedade, em especial os mais jovens, nunca tiveram tantas divergências em relação à atuação da presidente”.
Com efeito, o caso é cheio de paradoxos, o ministro da Fazenda cambaleia em face dos antagonismos; a Petrobras engrossa a voz e a senhora presidente aguarda as mágicas do sumo pensador que, embora não faça parte do governo, é o detentor de seus segredos. Este não teve um voto para adquirir o título e a missão de marqueteiro, o que não impede que ele exerça o mandarinato na República, que soma esforços para assegurar a reeleição. Do marqueteiro tudo é esperado. Duvide se quiser, mas o futuro do país pode estar nas mãos do original decifrador, criador e intérprete das intimidades da popularidade, essa é o xarope salvador dos problemas pendentes. Ainda bem que haja um mosqueteiro e um xarope, ou vice e versa que é a mesma coisa.
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Impedido de assistir a conferência de Roberto Saturnino acerca da ética apraz-me declarar que, tendo com ele convivido frente a frente durante oito anos no Senado, posso testemunhar que ninguém possui melhores atributos para versar o tema. Sua atuação no Senado foi modelar.
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