O Estado de S.Paulo - 14/12
A coluna de hoje comenta dois assuntos. O primeiro deles é o desempenho da economia em outubro, tal como apontado pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central, o (IBC-Br). O segundo é a proposta do governo de adiar por mais dois anos a entrada em vigor das medidas de segurança nos veículos.
O IBC-Br, medido pelo Banco Central, pretende ser um indicador do comportamento da atividade econômica. Passou a ser calculado em 2010 com o objetivo de antecipar o desempenho do PIB, que é divulgado trimestralmente e, em geral, leva quatro meses depois de terminado o trimestre para vir a público. O PIB de 2013, por exemplo, só deve ser conhecido em abril 2014 e, ainda assim, sujeito a correções.
Até há alguns meses, o Banco Central teve dificuldade para calibrar a metodologia dessas Contas Nacionais com as usadas pelo IBGE, o organismo oficial que mede o PIB. Agora, o IBC-Br parece mais confiável.
Os resultados de outubro foram melhores do que o esperado. Apontaram, em relação ao mês anterior, avanço da renda nacional de 0,77%. Mas não dá para estender esse ritmo para os meses seguintes, porque o comportamento da economia é feito de muito sobe e desce, como dentadura de jacaré.
Ainda não dá para dizer que o setor produtivo brasileiro tenha iniciado uma trajetória constante e sustentável. Ao contrário do que aconteceu nas viradas de anos anteriores, quando apostava sempre em crescimento entre 3,5% e 4,5%, desta vez, o governo está mais cauteloso. O ministro Mantega, por exemplo, afirma que, para 2014, espera um crescimento do PIB apenas um pouco mais alto do que o deste ano que, por sua vez, deverá ficar por volta dos 2,2%.
Não tem justificativa o provável adiamento para 2016 da entrada em vigor das novas normas de segurança que exigem freios ABS e airbags para os veículos fabricados no Brasil.
Hoje, os veículos que saem das fábricas sem esses equipamentos são a Kombi, Gol G4, Fiesta Rocam, Ford Ka, Clio, Celta e Uno Mille. Alguns desses modelos não comportam esses itens de segurança e sua produção tem de ser suspensa. Pressionado pelos sindicatos, que temem demissão de pessoal com a paralisação de algumas linhas de produção, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu o adiamento.
A alegação de desemprego é incompreensível, especialmente num momento de pleno-emprego. Se ficou inevitável impor mais segurança, foi porque esses veículos foram considerados perigosos. Trocar questões de segurança por supostos problemas de emprego, não é só insensatez; é troca equivocada. O desemprego que eventualmente pudesse ser evitado nas montadoras passaria a ser produzido na indústria de autopeças, que se preparou para fornecer esses equipamentos e contratou gente para dar conta das encomendas.
Além disso, por serem tecnologicamente desatualizados, esses veículos mais perigosos são também mais baratos. Ou seja, essa decisão empurraria mais riscos para o consumidor de mais baixa renda.
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