FOLHA DE SP - 29/12
Em livro sobre as lições da crise de 2007 e 2008, Alan Greenspan, ex-presidente do Fed (o banco central dos EUA), diz que analistas, economistas e formuladores de política econômica foram, na quase totalidade, surpreendidos por ela. Por isso, o mundo demorou a entendê-la e a reagir de forma adequada --o Brasil se recuperou rapidamente por ter agido com celeridade e eficácia em 2008 no combate aos canais de transmissão da crise, com medidas monetárias e cambiais.
O fato notável neste momento é que, depois de se acostumar com a crise, o mundo tem dificuldade de entender e se preparar para sair dela. Quem reagir agora de forma corajosa e adequada terá maiores oportunidades de desenvolvimento em 2014 e nos anos seguintes.
Os EUA já apresentam índices de crescimento consistentes. O deficit público recua, a indústria, o consumo e o mercado imobiliário se recuperam, e as autoridades monetárias planejam a redução dos estímulos. A China cresce em patamar elevado, embora menor. O Japão tem trajetória de recuperação. Mesmo a Europa avança. Os riscos aparecem nas distorções criadas pelos estímulos anticrise, mas, neste final de ano, a perspectiva global é positiva.
Essa boa notícia, porém, é recebida com preocupação, principalmente nos emergentes, o que traz outra lição importante. Houve também grande preocupação quando começou a injeção massiva de liquidez nos mercados dos países desenvolvidos visando recuperar os preços dos ativos.
Temia-se que uma enchente de dólares trouxesse desastre aos demais países. Agora, quando os EUA voltam a crescer, a preocupação é com a retirada desses estímulos, pois os mercados e muitos emergentes se acostumaram com a liquidez excessiva.
A realidade é que temos de fazer o nosso dever de casa, assegurar nossas fontes autônomas de crescimento e aproveitar as oportunidades oferecidas pela economia global em expansão. Quando o mundo volta a crescer, as oportunidades aparecem.
A taxa de câmbio mais desvalorizada no Brasil, causada pela reversão da política americana e pela elevação do deficit da conta corrente e da percepção de risco brasileiros, cria oportunidade às exportações, desde que cuidemos da competitividade e dos investimentos públicos e privados. Não somente em infraestrutura, mas, principalmente, na produtividade da indústria e dos serviços.
A nova fase da economia mundial dá ao Brasil oportunidade de se reposicionar, focado em infraestrutura e produtividade. Vamos nos inspirar na energia liberada pelos fogos do Réveillon para visualizar o que podemos e devemos fazer no ano vindouro.
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