O GLOBO - 15/10
O que pode definir esta eleição presidencial é a capacidade da dupla Eduardo Campos/Marina Silva de assumir a condição de oposicionista no primeiro turno, mas, sobretudo, num eventual segundo turno, caso quem vá para a disputa com a presidente Dilma Rousseff seja o candidato do PSDB, Aécio Neves. Isso porque, no caso de a dupla Campos/Marina chegar ao segundo turno, o apoio tucano será praticamente automático, a não ser que algum percalço durante a campanha o inviabilize, o que é improvável.
Há diversos fatores diferentes nesta eleição para a de 2010, a começar pela situação econômica do país. Mesmo que a economia não se deteriore a ponto de por si só derrotar a candidatura governista, não estaremos em situação nem mesmo próxima à da última eleição presidencial, quando o PIB cresceu 7,5%. O então presidente Lula gozava de um prestígio popular tão grande que lhe permitiu tirar da cartola uma ilustre desconhecida para eleger presidente. Mesmo assim, Dilma foi menos votada que Lula em todas as regiões do país, com exceção do Sul, onde manteve o mesmo patamar de 44% dos votos, e foi para o segundo turno.
Até mesmo nas regiões onde teve votações avassaladoras, garantindo a vitória, Dilma teve menos votos: Lula teve 77,2% no Nordeste, e Dilma, 70,6%; e, no Norte, Lula teve 65,5% contra 57,4% de Dilma. É verdade que Dilma venceria Serra mesmo descontados os votos de Norte e Nordeste, mas a diferença seria de apenas 0,25%. No Norte e no Nordeste, Dilma tirou vantagem de nada menos que 11.777.817 votos.
Há, porém, diferenças sensíveis no quadro atual a favor da oposição. O PSDB espera tirar de três a quatro milhões de votos de diferença em Minas, onde Dilma venceu por diferença de 1.797.831. Minas pode ser para Aécio quase como São Paulo foi para Fernando Henrique nas duas eleições em que venceu Lula no primeiro turno, tirando vantagem de cerca de cinco milhões de votos em 1994 e 1998. Essa diferença a favor dos tucanos, porém, vem caindo em São Paulo: Alckmin venceu em 2006 por 3,8 milhões, e Serra, em 2010, por 1.846.036. Além disso, em 2014 o PT estará fortalecido por ter vencido a prefeitura de São Paulo.
Até mesmo no Norte e no Nordeste a situação de Dilma deve ser mais difícil, pois a oposição está mais bem representada em estados como Amazonas, Pernambuco e Bahia.
Nesses três estados, Dilma teve quase seis milhões de votos de diferença a seu favor, o que pode não acontecer em 2014. Desde 1994 a diferença entre o vencedor e os demais contendores tem ficado na base de 5% dos votos no primeiro turno, seja quando FH venceu direto, seja quando as oposições levaram a eleição para o segundo turno.
No segundo turno, fosse qual fosse o candidato, o PSDB teve cerca de 40% de votos, sendo que, em 2010, essa marca subiu para cerca de 45%. Com diferença crucial: em todas as eleições, candidatos adversários como Ciro Gomes e Garotinho aderiram a Lula no segundo turno, contra o PSDB, e, na eleição de 2010, Marina Silva ficou neutra, tendo feito uma campanha que dificilmente poderia ser tachada de oposicionista.
A mudança de postura de Marina desta vez e seu acordo com Campos indicam que os dois estão dispostos a assumir candidatura oposicionista, colocando-se mais próximos do PSDB nas questões econômicas. Ontem Marina disse que a marca do governo Dilma é o retrocesso na economia e defendeu o tripé econômico dos governos de FH, mantido por Lula até a saída do ministro Antonio Palocci: equilíbrio fiscal nas contas públicas, câmbio flutuante e metas de inflação.
Segundo a aliada de Campos, a política econômica de Dilma vem sendo praticada com alguma negligência em função da ansiedade política. A questão é que os dois temem ser tachados de traidores de Lula, como já estão sendo tratados pelos petistas. E Dilma vem recuperando sua popularidade em ritmo suficiente para se manter como favorita.
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