CORREIO BRAZILIENSE - 15/10
A resposta da presidente Dilma sobre ninguém poder ir de "salto alto" para a eleição foi um recado direto ao PT e aos auxiliares que repetem a todo instante que ela tem tudo para vencer no primeiro turno. Até porque o fantasma das manifestações e a insatisfação dos aliados não foram dissipados
Com a agenda eleitoral para lá de antecipada, todo e qualquer movimento é acompanhado com uma lupa por parte do governo federal. As manifestações dos trabalhadores no Dia do Professor não fogem à regra. Esse tema, invariavelmente, é motivo de empurra-empurra por parte das autoridades. O governo federal joga a responsabilidade para o estado que transfere o que pode aos municípios. E a qualidade do ensino continua em baixa assim como os salários dos mestres.
O temor do governo federal, entretanto, é que esses movimentos dos professores terminem por provocar um movimento parecido com aquele de junho, quando os jovens tomaram as ruas. Em Brasília, a mobilização daquela temporada chegou a reunir 30 mil na Esplanada. Coincidentemente, foi também o período de avaliação mais baixa da presidente Dilma Rousseff. Agora, ela se recupera, mas o fantasma das mobilizações ainda assusta os Três Poderes.
Quem acompanha o dia a dia, percebe que existe uma insatisfação latente nos supermercados, nos pacientes dos hospitais, nos cidadãos que diariamente utilizam transporte coletivo ou perdem horas no trânsito. Há uma avaliação do governo que as pessoas abandonaram os movimentos de rua por causa da violência que tomou conta das manifestações, não porque têm a sensação de que tudo está melhor. Daí, a preocupação de que a massa retome seu poder de mobilização ao perceber um estopim forte, como ocorreu por causa do aumento do preço das passagens de ônibus em São Paulo, espalhando-se por todo o país. Por isso, hoje, o governo tentará mostrar tudo o que tem feito em relação ao tema educação. Vem aí a lembrança do Alfabetização na Idade Certa, do Prouni, do Ciência sem Fronteiras, que leva milhares de jovens brasileiros a estudar no exterior. Pelo menos, no que se refere à mobilização de rua, percebe-se que o governo não está de “salto alto”.
Enquanto isso, no Congresso…
A resposta da presidente ontem em Itajubá sobre as eleições do ano que vem, a respeito de “salto alto” foi vista por muitos como um recado dela ao próprio partido. Dilma, que já havia sido ríspida com o marqueteiro João Santana por causa da entrevista em que ele se referiu à oposição como “anões”, passou uma determinação geral ao governo para que deixem os comentários sobre as eleições de lado e tratem de trabalhar em prol do projeto de governo. Embora ela não repita a frase de Eduardo Campos — “para ter 2014 é preciso ganhar 2013” —, a presidente tem plena consciência de que só chegará à reeleição se governar a contento ou, ao menos, passar a ideia de que está nesse caminho.
Na avaliação de assessores palacianos, quem está mais de “salto alto” hoje é o próprio partido da presidente. Aliás, desde que Dilma apresentou vários pontos de melhoria de intenção de voto, os petistas ampliaram seus movimentos em defesa da candidatura própria para governos estaduais. Até mesmo em Minas Gerais, onde o PMDB esperava ter a vice, ou contava com o apoio a um dos seus, os petistas agora pensam em deslocar Josué Alencar, filho do ex-presidente José Alencar, para o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comercio de forma a atrair mais empresários para a campanha de Dilma.
O PMDB, entretanto, já fez chegar que, se Dilma escolher Josué, será na quota pessoal. Isso, somada à perspectiva de a presidente arrumar um lugar no primeiro escalão para o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, estará reaberta a temporada em que os ministros peemedebistas chegam mais pelas mãos da própria Dilma do que pelo partido. Obviamente, será mais um fator para jogar parte do PMDB no colo do senador Aécio Neves ou no do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Ambos estão hoje na estrada, prontos para acolher aqueles que o PT desprezar. E, diante de uma base tão grande e do fantasma das ruas, alguma coisa a oposição certamente colherá.
E na Comissão Mista…
Finalmente, está prevista para esta semana a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), ainda que não se feche um acordo sobre o Orçamento Impositivo para as emendas dos deputados e senadores. A LDO é um “dever de casa” em atraso desde julho deste ano. E é necessária para a apreciação do Orçamento de 2014, que já está no Congresso. Pelo andar da carruagem, chegaremos ao Natal sem o Orçamento do ano que vem aprovado. Tristeza.
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