O Estado de S.Paulo - 26/10
Há alguns meses, as contas externas do Brasil mantêm-se em pisca-pisca alerta. Os resultados de setembro ontem divulgados mostram que a situação piorou.
O rombo (déficit em Transações Correntes, que engloba entrada e saída de mercadorias, de serviços e as transferências - especialmente das famílias ou para as famílias) atingiu US$ 60,4 bilhões nos primeiros nove meses do ano.
Um número desse pode não significar muita coisa se não for comparado com o tamanho da economia. Por isso, essas magnitudes são sempre medidas em proporção ao PIB (renda do Brasil). Em todo o ano passado, o déficit de Transações Correntes foi de 2,4% do PIB. Apenas nos nove primeiros meses deste ano, saltou para 3,6% do PIB e, a esse passo, deve fechar este ano em 4,0% ao ano (no gráfico, está mês a mês a evolução desse déficit em períodos de 12 meses).
Ao contrário do que pode parecer aos que não têm familiaridade com essa numerália, não são as viagens internacionais o fator de maior impacto negativo nas contas externas. Ainda ontem, o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, observava que não houve a moderação nesses gastos que se esperava com a alta do dólar, que deveria desestimulá-los. Nos nove primeiros meses deste ano, o saldo nesse item foi negativo em US$ 13,8 bilhões, apenas um pouco mais alto do que os US$ 11,3 bilhões registrados no mesmo período do ano passado.
Mas o impacto mais forte se verifica na balança comercial (exportações menos importações), que também nos nove primeiros meses do ano saiu de um superávit de US$ 15,7 bilhões para um déficit de US$ 1,6 bilhão. O movimento é consequência do forte aumento do consumo do brasileiro, que vem sendo equivocadamente estimulado pelo governo.
Outro número negativo que vai surpreendendo está na Conta de Capitais. Os investimentos brasileiros no exterior saltaram em nove meses de US$ 17,3 bilhões para US$ 28,9 bilhões. É importante que empresas brasileiras ponham o pé lá fora? Claro que é, porque lhes dá mais experiência, mais tecnologia, mais acesso a mercados e a capitais baratos. Mais adiante, tudo isso se reverte em entradas de lucros. No entanto, essa forte emigração de capitais brasileiros parece relacionada com um fator ruim: o de que, aterradas por custos insuportáveis, cada vez mais empresas brasileiras transferem unidades produtivas e comerciais para o exterior.
A contrapartida desse movimento, que é o Investimento Estrangeiro Direto (IED), continua alta (veja o Confira), embora um pouco abaixo de 2012. É ajuda decisiva no fechamento das contas.
Mas não dá para alimentar dúvidas. O comportamento geral desse megafluxo de pagamentos está em deterioração. Isso significa que, na prática, estão saindo do País mais dólares do que entrando. Por enquanto, o problema só está acendendo luzinhas amarelas.
O governo finge que não se deixa impressionar por elas, aparentemente porque teme que uma política que aperte os cintos e reduza o consumo do brasileiro tenha impacto eleitoral negativo.
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