FOLHA DE SP - 13/08
BRASÍLIA - Dúvida de setores diplomáticos: houve mesmo uma ameaça de novo 11 de Setembro, ou Obama precisava de justificativas para a espionagem?
O secretário de Estado, John Kerry, chega ao Brasil hoje com um discurso de autodefesa, mais ou menos assim: vão desculpando o mau jeito, mas, se a gente não espionar, não vai poder identificar ameaças e se prevenir, como agora.
Isso confirma que Washington precisa dizer alguma coisa ao Brasil sobre a espionagem antes da viagem de Dilma em outubro, mas não tem o que dizer. Precisa de subterfúgios, pois não vai jurar que nunca mais vai fazer isso, porque vai, sim.
Do lado de cá, o Brasil tem de manifestar indignação e cobrar explicações, mas também só por dever de ofício, sabendo que nada vai mudar. Reclamar na ONU? Mas quem é mesmo que manda na ONU?
Apesar do teatro, continua o empenho bilateral para que a espionagem não contamine a ida de Dilma, mas não é fácil achar temas e discurso para ela na "única visita de Estado a Washington neste ano", como os dois lados comemoram.
Com o baixo PIB brasileiro e a recuperação americana além das expectativas, não dá mais para Dilma querer ensinar aos países ricos como se faz. Com as manifestações por educação e saúde, também é improvável que ela anuncie a compra dos caças da FAB, que seguem como o trem-bala: de adiamento em adiamento.
E, como os dois países discordam quanto ao Irã, por exemplo, a política externa é outro campo minado. Kerry e Patriota, Obama e Dilma vão acabar falando mesmo é de Copa, Olimpíada, segurança e da lenga-lenga da identidade de dois países amigos, democráticos, multirraciais.
A não ser que o governo Obama avance no apoio a uma vaga permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, a viagem de Dilma aos EUA será tão irrelevante quanto à que Obama fez ao Brasil, cheio de gracinhas e vazio de conteúdo.
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