O GLOBO - 02/07
Há muito a explicar neste caso do colapso do campo de Tubarão Azul, do grupo OGX. Em maio do ano passado, a empresa fez junto à Agência Nacional de Petróleo a "declaração de comercialidade" do campo. Se era comercial há um ano, como é possível que agora se descubra "que não há tecnologia capaz de viabilizar economicamente qualquer investimento adicional"?
O mais espantoso é que os poços de Tubarão Tigre, Tubarão Gato, Tubarão Areia tiveram suas declarações de comercialidade protocolada na ANP em março deste ano. E, subitamente, todos são inviáveis.
Reveses no mundo econômico acontecem, e os brasileiros estão acompanhando os tropeços públicos do grupo. Tomara que ele saia das confusões em que entrou por sua própria forma de gestão, mas, se sair, que o faça adotando novas e mais saudáveis práticas de mercado.
Sobre Tubarão Azul, o único do qual estava extraindo petróleo, a empresa chegou a prever que ele iria produzir 50 mil barris/dia. Agora, de repente, "não há tecnologia capaz", e o campo pode parar de dar petróleo no ano que vem. Uma reviravolta espantosa.
Para se ter uma ideia, em junho de 2012, a empresa informou, segundo a Reuters, que estava confiante de que poderia extrair de 110 milhões a 150 milhões de barris do campo de Tubarão Azul. Em entrevista, o principal executivo da OGX disse que Tubarão Azul poderia extrair de 40 mil a 50 mil barris/dia. E isso tinha sido resultado de cinco meses de testes. Depois, foram feitas previsões de 20 mil. Quando as previsões encolheram para 5 mil barris/dia, foi trocado o presidente da empresa.
Antes disso, em 22 de maio de 2012, Eike fez uma apresentação para um grupo de 100 investidores em que disse: "Tenho alguma coisa com a natureza, porque onde eu furo, eu acho. Meus projetos são à prova de idiotas. Não são puxadinhos, são projetos para o Brasil." Foi nesse dia que disse que só não comprou a Vale porque seu pai, Eliezer Batista, lhe disse: "nã, nã, ni, nã, não, aí você não toca."
A ousadia no empreendedor muitas vezes é qualidade, mas é preciso que uma empresa de capital aberto, quando faz declarações sobre as suas potencialidades, esteja com os pés na realidade. Do contrário, só permite a especulação. Nas grandes oscilações da bolsa, em momentos de volatilidade, os que ganham dinheiro são os grandes, os tubarões. Os pequenos investidores perdem sempre.
A Comissão de Valores Mobiliários disse que não comenta casos específicos e que projeções podem ser feitas por empresas desde que sejam, entre outras coisas, "razoáveis". Não quis também comentar a operação anunciada ontem, em que R$ 500 milhões serão transferidos da OGX para a OSX. A dúvida que fica é: e quem for acionista da OGX, e não da OSX, terá sua empresa descapitalizada?
A ANP disse que cabe a ela receber a declaração de que o campo é comercial. Que, depois disso, a empresa tem 180 dias para apresentar o plano de desenvolvimento e a Agência tem mais 180 dias para analisar. Como o prazo de 360 dias já se esgotou, a Agência informou que pediu novas informações a OGX e que a empresa tem mais 60 dias para dar as respostas. E foi só. Três meses atrás, foram protocoladas as declarações de que eram comerciais os poços de Tubarão Tigre, Tubarão Gato, Tubarão Areia.
Em julho do ano passado, o empresário disse na presença da presidente Dilma Rousseff que tinha capacidade instalada para produzir 400 mil barris, e a presidente se disse favorável à cooperação entre a OGX e Petrobras. "Ambas podem ganhar muito com as parcerias entre elas", disse Dilma.
Agora, um ano depois, a incerteza paira sobre o futuro da OGX, que teve perda ontem de 27,5% nas ações, depois de outras quedas ultraprofundas.
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