FOLHA DE SP - 07/07
Escrevi, em coluna recente, que o trânsito de São Paulo lembra a experiência clássica do sapo na água fervente. Quando cai dentro dela, salta rapidamente. Mas, se está dentro da água enquanto a temperatura sobe gradualmente, o sapo morre sem reagir.
Minha questão era se a população assistiria passivamente à gradual paralisação das grandes cidades, com o trânsito cada dia mais obstruído e lentidão também no investimento em transporte urbano em diversos níveis de governo, seja em metrôs, trens, monotrilhos ou vias de trânsito rápido. As prefeituras não dispõem de recursos, os Estados alegam limitação financeira, e o governo federal tem outras prioridades.
As recentes manifestações, porém, mostram claramen- te que não somos sapos, afinal. Há uma forte reação à deterioração do serviço público, muito centrada nos transportes, mas também em saúde e educação.
A questão dos transportes é vital. Se não conseguirmos nos movimentar nas grandes cidades, o país não só não crescerá nas taxas ambicionadas como estará mais sujeito a crescer menos.
Não é possível exercer atividade produtiva --construir, produzir, tratar, educar, vi- ver, criar os filhos-- se não existe transporte eficiente nos grandes centros.
Diversos países do mundo têm discussões similares, inclusive os que têm infraestrutura de alto padrão. No Reino Unido, por exemplo, debate-se, de forma profunda, a via- bilidade da construção do trem de alta velocidade entre Londres, Birmingham, Manchester e Leeds.
O debate se concentra na avaliação de custos e benefícios do investimento no trem-bala comparado a metrô e trens suburbanos.
No Brasil, essa questão é ainda mais aguda.
A justificativa de que não há dinheiro suficiente para investir em transporte urbano tem que ser resolvida de forma prática e corajosa. Na administração pública ou privada, tudo é questão de prioridades. A arrecadação tributária bruta no Brasil é elevadíssima. Há recursos, a questão é como gastá-los de forma eficiente e estabelecer prioridades.
O transporte urbano é prioridade nacional e deveria ser assim tratado pelos três Poderes dos três níveis de governo, como é feito em questões como os megaeventos globais.
Não adianta muito falar em questões importantíssimas --educação, saúde e produtividade-- se não conseguirmos nos transportar nas cidades.
Portanto, é de fundamental importância que as manifestações populares sejam vistas como uma oportunidade para priorizar e resolver um elenco de problemas graves no serviço público brasileiro, para que possamos objetivar as demandas e resolvê-las.
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